REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
(23.08.2021)
Estiveram presentes também o Agrônomo e Pesquisador Luiz Rego (Rio das Ostras-RJ), o Físico e Professor Wagner Coelho (Rio de Janeiro), o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Advogado e Pesquisador Sionista Adriano Vasconcelos (Fazenda Três Corações, o Bibliófilo José Augusto Bezerra e o Poeta Paulo Ximenes.
Aluísio Gurgel aparece usando e exibindo a caneca com inscrição "Qatar", presente da filha que mora e advoga nesse país do Oriente Médio. Em resposta a essa exibição de amor e de saudade paterna, manifestada pelo confrade, Luiz Rego vestiu um shemagh, o turbante que adquiriu nos Emirados Árabes, onde, por seu turno, um de seus filhos mora e trabalha na engenharia de petróleo.
O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu a reunião registrando e lamentando o falecimento do advogado, político e literato Neuzemar Gomes de Moraes, que ocorreu no dia 22, aos seus 77 anos, depois de uma longa luta contra o câncer no aparelho digestivo.
O passamento precoce de Neuzemar traumatizou o meio literário cearense, notadamente, entre os confrades da ACLJ, o Membro Benemérito José Augusto Bezerra, o Presidente Reginaldo Vasconcelos, o Secretário-Geral Vicente Alencar e o Acadêmico Pedro Bezerra de Araújo, seus amigos pessoais.
................................................................................
A FORMA MAIOR
Meu respeito pelo mar é coisa antiga. Às vezes
penso que ultrapassa os mil anos. Ele tem sido meu amigo, conselheiro e
confidente. E também o meu pesadelo. Estranha e louca relação de amizade! Em
certas madrugadas, em sonhos profundos, chega a bicho-papão. No submundo da
minha inconsciência tenho sofrido aperreios inconfessos.
Imagine o leitor, eu numa ilha diminuta no
meio do oceano, provavelmente o Pacífico, sem lenço e sem documento, enquanto
sobe o nível das águas e a ameaça de varrê-la do mapa em questão de minutos. Ou
então, estou à beira de uma praia deserta num calhambeque de museu, com o motor
se recusando a funcionar, avistando uma onda colossal, mãe dos tsunamis,
aproximando-se de mim com a velocidade de um raio...
Há outras situações igualmente aterrorizantes
e confusas, sempre envolvendo o mar, das quais me fogem detalhes. O curioso é
que nessas histórias todas, antes que os desastres venham a se firmar, surgem
infalivelmente, na hora certa, providências a meu favor que me põem a salvo. O
modo como funcionam tais salvamentos não guarda lógica em si. De repente eu me
vejo voando como um pássaro, ou aos controles de uma nave espacial, ou de outra
coisa do gênero; e passo por cima de todos os problemas, suplanto as
dificuldades “de letra”. Um dia, ao me lembrar de uma cena ocorrida no passado,
entendi, finalmente, o porquê dos pesadelos da cor do mar e da providência
divina que me acode sempre a tempo.
Quando eu era criança, lá pelos quatro ou
cinco anos de idade, fui levado para o meu primeiro banho de mar na Praia de
Meireles, exatamente onde hoje desemboca a Rua Carlos Vasconcelos. Apesar do
sol de verão, e, talvez, por ser ainda cedo da manhã, ventava forte e eu sentia
um pouco de frio. A cada quebrada de onda, uma fina camada de água alvejada de
espuma vinha delicadamente lamber os meus pés. E depois ela volvia ao mar com
força e graça, e, nesse vai-e-vem, eu afundava um pouco na areia encharcada e
macia. Lá se vinha outra onda. E depois mais outra...
Em dado momento, uma vaga de maior envergadura
escapuliu-me à vigilância e avançou perigosamente em minha direção. Como o medo
e o instinto de sobrevivência andam lado a lado, ainda que em um juízo
infantil, eu devo ter imaginado que nada mais restava a fazer, e aquela
investida de onda soou-me como o fim do mundo.
E aí, inesperadamente...
Vrum!!!
Uma força extraordinária ergueu-me do chão numa velocidade ainda maior que a do mar, e subi tão alto e tão rápido que pude ver as águas lá embaixo em alvoroço pleno, espumando de raiva, como que procurassem por mim. Passados alguns segundos, e afastado o perigo, voltei à terra firme com toda a suavidade desse mundo. Eram os braços do meu pai.
Neuzemar foi um prodígio na intelectualidade cearense. De origem humilde, nasceu no Acre, aonde a família cearense fora tentar vida melhor, e se criou no Ceará, para onde os seus retornaram, vindo trabalhar na roça, na fazendola dos seus avós, no Município de Iracema, na região jaguaribana.
Alfabetizando-se somente na adolescência, formou-se em Direito, foi vereador e vice-prefeito de sua cidade. Construiu uma bem-sucedida banca de advocacia em Brasília, onde exerceu cargos jurídicos importantes.
De volta ao nosso Estado, grande orador que era, tomou posse na Academia Cearense de Retórica — entidade que presidia — ingressando recentemente nos quadros do Instituto do Ceará - Histórico, Geográfico e Antropológico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário