terça-feira, 24 de agosto de 2021

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (23.08.2021)

 REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (23.08.2021)




PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta segunda-feira,  que teve duração de uma hora e meia, nove acadêmicos e uma convidada especial. Compareceram ao grupo o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Bacharel em Direito e Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel (Estado do Rio) e a Dona Katia Rego (Rio das Ostras-RJ).

Estiveram presentes também o Agrônomo e Pesquisador Luiz Rego (Rio das Ostras-RJ), o Físico e Professor Wagner Coelho (Rio de Janeiro), o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Advogado e Pesquisador Sionista Adriano Vasconcelos (Fazenda Três Corações, o Bibliófilo José Augusto Bezerra e o Poeta Paulo Ximenes.

Aluísio Gurgel aparece usando e exibindo a caneca com inscrição "Qatar", presente da filha que mora e advoga nesse país do Oriente Médio. Em resposta a essa exibição de amor e de saudade paterna, manifestada pelo confrade, Luiz Rego vestiu um shemagho turbante que adquiriu nos Emirados Árabes, onde, por seu turno, um de seus filhos mora e trabalha na engenharia de petróleo.   




 TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu a reunião registrando e lamentando o falecimento do advogado, político e literato Neuzemar Gomes de Moraes, que ocorreu no dia 22, aos seus 77 anos, depois de uma longa luta contra o câncer no aparelho digestivo.

O passamento precoce de Neuzemar traumatizou o meio literário cearense, notadamente, entre os confrades da ACLJ, o Membro Benemérito José Augusto Bezerra, o Presidente Reginaldo Vasconcelos, o Secretário-Geral Vicente Alencar e o Acadêmico Pedro Bezerra de Araújo,  seus amigos pessoais.



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Em seguida ao momento de luto, tornando mais leve e alegre o ambiente, a consorte de Luiz Rego, Dona Kátia, surpreende, aparecendo na reunião para homenagear o marido, que só então se revela aniversariando, atingindo, nesta data, sessenta e seis anos de idade. 
Todos os convivas lhe fizeram saudações pela efeméride, desejando-lhe uma longa vida de venturas, ao lado da amadíssima e amantíssima companheira, que ele trata carinhosamente de "Katita".



PERFORMANCES ARTÍSTICO-LITERÁRIAS


José Augusto Bezerra, como de hábito, brindou os convivas com a exibição de uma das obras raríssimas da sua vasta biblioteca. Apresentou os três volumes do "Código Brasiliense", o primeiro ordenamento jurídico nacional, com a consolidação das leis editadas no Brasil entre 1808 e 1822, mandado editar por D. João VI na Impressão Régia. É o incunábulo brasileiro. Só restam três cópias dessa obra, uma delas a de José Augusto Bezerra, e outra atualmente em local incerto e não sabido.

Na sequência, Aluísio Gurgel leu uma crônica do confrade Paulo Ximenes, intitulada "A Força Maior", colhendo aplausos remotos da plateia virtual, tanto pela beleza do texto quanto pela sempre magnífica elocução do Aluísio.

A propósito da bela crônica de Paulo Ximenes, em forma e conteúdo, Reginaldo lembrou trecho de uma carta de Machado de Assis a Joaquim Nabuco, em que o missivista resenha um novo livro deste, a pedido do autor. 

Em sua carta, Machado nota que o bom texto tem que atacar o tema com profundidade, mas também com estética estilística — virtude que ele diz identificar na obra do amigo: Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.

 

 A FORMA MAIOR

 

Meu respeito pelo mar é coisa antiga. Às vezes penso que ultrapassa os mil anos. Ele tem sido meu amigo, conselheiro e confidente. E também o meu pesadelo. Estranha e louca relação de amizade! Em certas madrugadas, em sonhos profundos, chega a bicho-papão. No submundo da minha inconsciência tenho sofrido aperreios inconfessos.  

 

Imagine o leitor, eu numa ilha diminuta no meio do oceano, provavelmente o Pacífico, sem lenço e sem documento, enquanto sobe o nível das águas e a ameaça de varrê-la do mapa em questão de minutos. Ou então, estou à beira de uma praia deserta num calhambeque de museu, com o motor se recusando a funcionar, avistando uma onda colossal, mãe dos tsunamis, aproximando-se de mim com a velocidade de um raio...  

  

Há outras situações igualmente aterrorizantes e confusas, sempre envolvendo o mar, das quais me fogem detalhes. O curioso é que nessas histórias todas, antes que os desastres venham a se firmar, surgem infalivelmente, na hora certa, providências a meu favor que me põem a salvo. O modo como funcionam tais salvamentos não guarda lógica em si. De repente eu me vejo voando como um pássaro, ou aos controles de uma nave espacial, ou de outra coisa do gênero; e passo por cima de todos os problemas, suplanto as dificuldades “de letra”. Um dia, ao me lembrar de uma cena ocorrida no passado, entendi, finalmente, o porquê dos pesadelos da cor do mar e da providência divina que me acode sempre a tempo.  

 

Quando eu era criança, lá pelos quatro ou cinco anos de idade, fui levado para o meu primeiro banho de mar na Praia de Meireles, exatamente onde hoje desemboca a Rua Carlos Vasconcelos. Apesar do sol de verão, e, talvez, por ser ainda cedo da manhã, ventava forte e eu sentia um pouco de frio. A cada quebrada de onda, uma fina camada de água alvejada de espuma vinha delicadamente lamber os meus pés. E depois ela volvia ao mar com força e graça, e, nesse vai-e-vem, eu afundava um pouco na areia encharcada e macia. Lá se vinha outra onda. E depois mais outra...  

 

Em dado momento, uma vaga de maior envergadura escapuliu-me à vigilância e avançou perigosamente em minha direção. Como o medo e o instinto de sobrevivência andam lado a lado, ainda que em um juízo infantil, eu devo ter imaginado que nada mais restava a fazer, e aquela investida de onda soou-me como o fim do mundo.  E aí, inesperadamente... 

 

Vrum!!!


Uma força extraordinária ergueu-me do chão numa velocidade ainda maior que a do mar, e subi tão alto e tão rápido que pude ver as águas lá embaixo em alvoroço pleno, espumando de raiva, como que procurassem por mim. Passados alguns segundos, e afastado o perigo, voltei à terra firme com toda a suavidade desse mundo. Eram os braços do meu pai.   

 


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Na sequência, ainda no tema das exéquias do Neuzemar, José Augusto Bezerra fez comentários filosóficos sobre a perda paulatina dos amigos, à medida que envelhecemos, tornando cada vez menor o nosso mundo pessoal e o nosso universo interior.

Então, sobre esse assunto, Reginaldo referiu a um poema seu, intitulado "Quereres", que escreveu em 2020, após a morte dos confrades Evaldo Gouveia e Roberto Martins Rodrigues. A nostalgia pela perda destes e de outros diletos  amigos fez assomar-lhe à alma de repente um desejo poético de morrer e seguir com eles — sentimento mórbido vencido logo em seguida pela evocação das muitas mulheres da sua vida.

Mas, na composição do poema, a retórica se inverte, de modo que ele principia enaltecendo os seres que lhe dão vigor anímico, para ao final referir, liricamente, à jornada derradeira — fazendo citação sucinta a uma canção dos anos 70, do falecido compositor Petrúcio Maia, gravada pelo Fagner  — Estrada de Santana(vídeo).   




    DEDICATÓRIA 

A sessão virtual da ACLJ realizada nesta segunda-feira, foi dedicada ao  advogado e literato Neuzemar Gomes de Moraes, falecido no dia 22 deste mês de agosto, aos 77 anos. 

Neuzemar foi um prodígio na intelectualidade cearense. De origem humilde, nasceu no Acre, aonde a família cearense fora tentar vida melhor, e se criou no Ceará, para onde os seus retornaram, vindo trabalhar na roça, na fazendola dos seus avós, no Município de Iracema, na região jaguaribana.  

Alfabetizando-se somente na adolescência, formou-se em Direito, foi vereador e vice-prefeito de sua cidade. Construiu uma bem-sucedida banca de advocacia em Brasília, onde exerceu cargos jurídicos importantes. 

De volta ao nosso Estado, grande orador que era, tomou posse na Academia Cearense de Retórica — entidade que presidia  ingressando recentemente nos quadros do Instituto do Ceará - Histórico, Geográfico e Antropológico. 

 

    

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