segunda-feira, 28 de junho de 2021

RESENHA - O Aeroporto e a Cidade (ES)

 RESENHA
Edmar Santos*

 

O Aeroporto e a Cidade: usos e significados do espaço urbano na Fortaleza turística.

Obra de Wellington Ricardo Nogueira Maciel – Fortaleza: EdUECE, 2010.

 

O livro procura aprofundar um olhar sociológico sobre a presença urbanística estrutural e operativa do aeroporto da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, com escopo em demonstrar que os efeitos de sua presença vão além do projetado, e vislumbrado, seja pelos entes governamentais, seja pelos projetistas responsáveis por seu desenho arquitetônico, o qual acaba influenciando, desta feita, não apenas no impacto turístico – principal objeto do equipamento – mas, também, na vida da população de seu entorno, e/ou na população que o toma como referência de meio possível de garantia de sobrevivência. Entrementes, reflete sobre os tipos conceituais e reais dos deslocamentos ocorrentes no âmbito intra e extra-estrutura do aeroporto, como aspectos característicos do modelo social presentemente em curso. 

Destarte, a obra apresenta-se muito bem subdividida tematicamente por seus cinco capítulos, os quais estratificam o assunto mantendo, porém, a imprescindível e envolvente coesão sobre o tema abordado. Nesse ínterim, elabora sua argumentação, apresentando o arcabouço teórico que norteia sua pesquisa, ao mesmo tempo em que – como cabe a um pertinente pesquisador – ora conecta seu entendimento às teorias existentes quando essas pertinem, ora as refuta, quando se distanciam do que constata empiricamente. 

O assunto da obra, em primeiro momento a prefaciação – diga-se de passagem, muito bem construída – nos situa sobre o que a abordagem temática escolhida pelo autor vem a nos iluminar, pelo menos a maioria de nós, sobre um equipamento que nos passa ao largo em sua função e influência social. 

Introdutoriamente, é levantada a questão da inafastável tomada do Aeroporto de Fortaleza, a exemplo dos demais, como sendo um espaço por onde fluem as conexões aceleradas tão características da sociedade hodierna. Segue por demonstrar o papel econômico e globalizante que o equipamento possui, como importante influenciador na economia da Cidade, além de promover expressivos impactos urbanos. 

Apresenta-nos, a cada item sequencialmente posto, por sua lupa de pesquisador, interessantes observações sobre usuários não previstos, espaço de passagem, a disputa pelo direito à Cidade por parte dos moradores, espaço de transição, aspectos regionais climáticos e geográficos influentes na demografia do entorno do aeroporto, todos tomados como pontos de reflexão, apesar de, por vezes, passarem ao largo de políticas públicas e do conhecimento de boa parte da sociedade, são de extremo impacto e produzem efeitos urbanísticos inesperados. Aduz ser admirável a inexpressiva abordagem científica das ciências sociais sobre tão importante equipamento urbanístico que possui tamanha influência socioeconômica. Talvez o seu mote, cremos. 

O empirismo da pesquisa vai conduzindo o autor a olhares diferenciados e confrontantes com as teorias que embasam sua dinâmica de pesquisa, os quais acabaram por lhes restar inequívoca a presença do uso, por alguns atores, de formatos diversificados e até fora do que se predispõe o equipamento. Colunado por teóricos como Guiddens, Simmel, Augé, Martins, dentre outros, segue por meio dessa observação direta que, ao fim e ao cabo, propiciou constatar variações importantes entre teorias sociológicas e realidades vivenciadas no cotidiano. 

Constatou, por exemplo, que as angústias e traumas de antigos moradores, existentes e perenes no consciente das pessoas, por conta dos deslocamentos forçosos, pelas desapropriações, são repercutidos nas gerações posteriores; esses abalos psicológicos, os quais em relação aos primeiros, em princípio, surgiu como um empecilho aos trabalhos, favoreceu uma abordagem mais propícia com a nova geração, favorecendo o aprofundamento na identificação dos efeitos da presença do aeroporto não apenas no espaço urbano, mas efetivamente na vida das pessoas, a destacar, os moradores do entorno. 

Restou uma observação pertinente e comum, pelo menos no Brasil, da característica de que esses equipamentos comumente são instalados em áreas urbanas carentes, que contrastam com os “aero-shoppings” de seus espaços internos. Por tal desenvolvimento da pesquisa, há, no autor, o vislumbre de poder agregar alguma contribuição nos aspectos dos planejamentos, seja para as estruturas atuais, suas ampliações ou novas construções, mormente às identificações das características identificadas quanto, nas palavras do autor, aos “usos’ e “significados” verificados nos aeroportos, não apenas de seu espaço interno, esse “não-lugar”, mas principalmente do ambiente de seu entorno. 

A obra aqui apresentada, seja pela importância sociológica do tema, seja como ela está vultosamente cheia de significados que fogem ao conhecimento, tanto dos usuários diretos dos aeroportos, quanto pelos usuários indiretos desse equipamento, seja pelas autoridades públicas, seja por instituições que as projetam e constroem, torna-a, antes de tudo, uma obra a ser apreciada com acurada atenção; inexoravelmente por trazer-nos à luz detalhes devidamente embasados na apreciação científica, que influenciam direta ou indiretamente na vida das pessoas, seja em seu desenvolvimento econômico e cultural, seja no que tange ao direito das populações ao espaço da Cidade. 

O autor em referência, Wellignton Ricardo Nogueira Maciel, possui bacharelado em ciências sociais, mestrado e doutorando. Presentemente é professor substituto junto à Universidade Estadual do Ceará (Uece).


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