terça-feira, 15 de junho de 2021

ARTIGO - Teorias Estranhas (RMR)

 TEORIAS
ESTRANHAS
Rui Martinho Rodrigues*

 

 

A escola antropológica do evolucionismo social, teve em Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) um grande autor. Ele estudou culturas primitivas. Enfatizou o desenvolvimento da mitologia e religião. Entendeu que os povos primitivos imaginaram a existência da alma. Ainda se falava em povos primitivos. Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009) ainda não adotara o nome “ágrafos”, substituindo o primitivismo pela falta de escrita.


Depois, para Tylor, teria havido desenvolvimento das religiões. O politeísmo e a hierarquia entre os deuses teriam sido induzidos pela estratificação social. O monoteísmo seria uma evolução do politeísmo, por influência do advento da monarquia. 

Tylor propunha quatro pontos: negava o sobrenatural e o mistério. Tudo estava explicado cientificamente. O monoteísmo era o ponto final da evolução do fenômeno religioso. Só restava ao processo evolutivo o abandono do sobrenatural, a secularização. Por último, sugeria a verificação de sua teoria procurando povos cuja cultura e crenças confirmariam sua teoria. 

A evolução do animismo ao monoteísmo, passando pelo politeísmo e desembocando na secularização, guardam semelhança com a “lei dos três estados”, de Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798 – 1857). Atribuo a semelhança ao cientificismo, ao eurocentrismo e ao evolucionismo historicista, influenciado pelo evolucionismo biológico. 

A transcendência contraposta ao incômodo da finitude; a busca da totalidade e radicalidade preenchendo lacunas, mais tarde apontadas por Thomas O’Dea em “Sociologia da Religião”, não ocorreram a Tylor. Nem os arquétipos. O Erudito britânico teve o apoio da comunidade científica. Wilhelm Schmidt (1868 – 1954), da Universidade de Viena, etnólogo e clérigo, por exemplo, considerou a teoria de Tylor incontestável. 

Andrew Lang (1844 – 1912), discípulo de Tylor, seguiu a orientação do mestre. Chegou ao quarto ponto. Estudou relatórios sobre culturas de povos primitivos da Austrália, África, América do Norte, Terra do Fogo, feitos por observadores dos primeiros contatos com os citados povos. Havia, sim, a ideia de um Deus criador, tradição muito antiga e difundida. A comunidade universitária, porém, os descartava como influenciados pelo cristianismo. Don Richardson (1935 – vivo), em “O Fator Melquisedeque”, manifesta perplexidade diante do desprezo dos eruditos pelas evidências. 

Ciência e comunidade científica perfeitas são ilusões. Gaston Bachelard (1884 – 1962), em “O Novo Espírito Científico”, mostra que o conhecimento pode ser obstáculo epistemológico. Thomas Samuel Kuhn (1922 – 1996), em “A Estrutura das Revoluções Científicas”, mostra a cegueira e a incomunicabilidade dos paradigmas e que a comunidade científica nunca aceitou uma inovação contrária ao conhecimento estabelecido. 

Por isso os erros de Aristóteles retardaram o avanço da ciência. Max Karl Ludwig Planck (1858 – 1947) teria dito que a Física só avança quando morre uma geração de Físicos. Sigmund Schlomo Freud Freiberg (1856 – 1939) foi expulso do Conselho de Medicina. Os micróbios, de Louis Pasteur (1822 – 1995), não foram aceitos pela comunidade científica da época. 

Tylor retratou-se muito depois. Mas as ideias têm vida própria. Seguidores dos seus erros continuaram errando. Eruditos sábios, como Lang, fazem a “digestão” das leituras. Meros acumuladores não “digerem” as tramas epistemológica e teórica. Limitam-se ao argumento de autoridade: fulano disse. A ciência é invocada a toda hora, seguida de “está provado”. Acumuladores escutam e repetem.


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