ERA ASSIM
Wilson Ibiapina*
Se você quer saber, sou um jornalista do tempo da máquina de escrever mecânica. A mesma que minha neta de oito anos viu no escritório lá em casa e perguntou se era nosso primeiro computador. Era sim.
Que prazer martelar as teclas nas redações, fazendo aquele barulho que se misturava às vozes dos repórteres, redatores, apuradores, todos falando alto, ao mesmo tempo!
Tudo era escrito com cópia em papel carbono. Logo ao lado, as oficinas. As linotipos gemiam nas mãos de hábeis gráficos que tomavam leite para evitar a intoxicação do chumbo. Quem não sujava as mãos na hora da prova com aquele rolinho preto? Quem não deu palpite na prancheta do diagramador?
Vi o rádio que recebia as notícias da UPI em Código Morse ser substituído pelo telex, a radiofoto ceder lugar à telefoto e o gravador com fio ser trocado pelo portátil.
Se olhar para trás a gente vai contabilizando os anos nas redações de O Estado, Rádio Iracema, Dragão do Mar, Ceará Rádio Clube, TV Ceará, jornal Unitário, TV Manchete, Rede Globo, SBT, Correio do Povo de Porto Alegre, Radio Tupi, Sistema Verdes Mares, assessorias de imprensa, jornais alternativos. Satélite era coisa da Nasa, e telefone sem fio instrumento de trabalho das forças armadas.
A silenciosa redação de hoje não tem nada a ver com as do século passado. Até as manchetes com o crime, que ajudavam a vender jornal, desapareceram. O jornal que servia à comunidade, defendia o interesse público, hoje virou empresa, negócio. A propalada liberdade de imprensa é do patrão.
O satélite, o computador, o celular nos colocam no centro da "aldeia global", de que tanto falava o canadense Marshal Mcluhan. Hoje, além da Edilma, minha mulher, tenho o filho Fábio, que se fez jornalista já na era da informática e domina o computador com a mesma precisão que dominei as pretinhas da Olivetti.
Quando me pergunto o que ainda estou fazendo nesse meio, fico imaginando que deve ser a minha curiosidade de repórter, louco para saber onde vai dar tudo isso.
COMENTÁRIO
De fato, como pontua o nosso grande Wilson Ibiapina em sua crônica sobre a vertiginosa evolução tecnológica da imprensa mundial, todos nós que militamos no jornalismo nas últimas décadas compartilhamos alguma nostalgia sobre os aspectos românticos que a atividade foi perdendo, dos quais nem fazem ideia os “focas” atuais (assim se chamavam os repórteres noviços no jargão profissional), mas que fazem a memória afetiva dos “dromedários” das velhas redações de jornais e estúdios de rádio como nós.
Wilson, de tradicional família cearense, cujo sobrenome aparece na História do Estado, em ruas da Capital, e até em nome de cidade, jornalista desde cedo, pertenceu ao grupo de jovens artistas que despontou em Fortaleza no festival Massafeira, e no programa de TV do Augusto Borges – Augusto Pontes, Ricardo Bezerra, Ednardo, Fagner, Belchior, Brandão, Rodger Rogério –compositores e intérpretes que apareceram no cenário nacional como “Pessoal do Ceará”.
Ele mesmo demandou ao Sul, para militar na grande imprensa, depois ao Distrito Federal, onde se radicou e encontrou a sua Edilma Neiva, jornalista e escritora goiana, que lhe roubou o coração e com a qual ele constituiu uma bela família, que já vai na terceira geração. Compareceu à posse do seu grande amigo Fernando César Mesquita na ACLJ, e por este foi proposto a integrar a confraria, ocupando a Cadeira de nº 39, fundada por José Alves Fernandes, patroneada por Tarcísio Tavares.
Na imagem, o casal posa comigo nos jardins do
Teatro José de Alencar, em 2019, por ocasião da festa de outorga da Sereia de
Ouro, promovida pelo Sistema Verdes Mares de Comunicação, do Grupo Edson
Queiroz, em sua última edição.
Reginaldo Vasconcelos
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