O DESPRESTÍGIO
DOS ESPECIALISTAS
Rui Martinho Rodrigues*
Intelectuais alcançaram grande prestígio. A escrita e a imprensa
difundiram as ideias dos pensadores que antes falavam para um círculo restrito
de pessoas. Depois de Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg (1397 –
1468) veio o enciclopedismo e o jornalismo.
A Revolução Francesa guarda relação com a difusão de ideias
iluministas por estes meios. Igualdade, liberdade e fraternidade são exemplos
de promessas que deram prestígio e acatamento aos pensadores.
A “fraternidade” da guilhotina degolou milhares de cabeças,
inclusive dos seus arautos, como Jeorges Jacques Danton (1759 – 1794) e Maximilien
François Marie Isidore de Robespierre (1758 – 1794). Mas não desacreditou os
ideólogos. Quem explica a realidade são os intelectuais, que se justificam, o
que é humano, e o fazem com grande habilidade.
A violência jacobina pode ser desfavoravelmente comparada com a
revolução de 1688, no Reino Unido. Esta fez conquistas semelhantes ao que a
francesa prometeu. A violência na França foi desnecessária, mas empolga
admiradores até hoje.
Intelectuais gostam da “fraternidade” da guilhotina e não se autoincriminam.
Os seus fracassos não impediram que conquistassem amplo apoio. Lembrar os
direitos de todos sem falar em obrigação ou esforço faz prosélitos. O jusnaturalismo
é invocado por alguns, como se direitos potestativos tivessem exigibilidade. É
engano ou enganação.
Teologias invocam a fraternidade para legitimar exigibilidade do
que representa ônus contra terceiros, como se o bem-estar material fosse parte
do cristianismo. Este, porém, diz: “Na vida tereis aflições” (João, 16;33). O
cristianismo é uma soteriologia voltada para o sobrenatural; é escatológico;
prega a solidariedade como responsabilidade pessoal intransferível, não podendo
ser delegada ao Estado, para se evadir do ônus pessoal, assim transferido para
terceiros.
Um intelectual francês frequentemente vinha ao Brasil. Era incensado
e propunha políticas generosas. Deixou de vir para não responder por crime de
pedofilia. Paul Bede Johnson (1928 – vivo), no livro “Os intelectuais”,
descreve os maiores pensadores revelando o mal caráter da maioria deles.
O fracasso das experiências salvadoras dos “sábios”, desde o
malogro de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) em Siracusa, ao tentar por em
prática suas ideias, não desanima os ideólogos. Eles perseveram no erro. Platão
escreveu “As leis” se retratando do que havia dito na “República”. Professores,
porém, não recomendam a leitura da retratação.
O desequilíbrio de muitos intelectuais e o fracasso de suas teorias
começa a causar descrédito, ao que reagem atacando a classe média. Usam
abusivamente a categoria de análise classe social. Mas teorias de
estratificação social não são pacíficas. Seria preciso dizer se usam o critério
da origem da renda, de Karl Heirinch Marx (1818 – 1883) ou a quantidade de
renda (posição no mercado), de Maximiliam Karl Emil Weber (1856 – 1920), para
demarcar as classes.
Não são científicos ao fazer proselitismo. A classe média, nas
universidades, só encontra autores “progressistas” por quem é odiada, como
Marilena de Souza Chaui (1941 – viva), que prega paz e amor, mas odeia a classe
média por quem é admirada e a quem vende livros.
A classe média deu muitos revolucionários; mora nos bairros elegantes
e vota nos candidatos “progressistas”. O conhecimento pode ser obstáculo
epistemológico (Gaston Bachelard, 1884 – 1962) e causar a cegueira dos
paradigmas (Thomas Samuel Kuhn, 1922 – 1996).
O povo percebeu e a política sentiu tudo isso.
Aracajú, 23/12/19.
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