terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ARTIGO - O Desprestígio dos Especialistas (RMR)


O DESPRESTÍGIO
DOS ESPECIALISTAS
Rui Martinho Rodrigues*



Intelectuais alcançaram grande prestígio. A escrita e a imprensa difundiram as ideias dos pensadores que antes falavam para um círculo restrito de pessoas. Depois de Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg (1397 – 1468) veio o enciclopedismo e o jornalismo.

A Revolução Francesa guarda relação com a difusão de ideias iluministas por estes meios. Igualdade, liberdade e fraternidade são exemplos de promessas que deram prestígio e acatamento aos pensadores.

A “fraternidade” da guilhotina degolou milhares de cabeças, inclusive dos seus arautos, como Jeorges Jacques Danton (1759 – 1794) e Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758 – 1794). Mas não desacreditou os ideólogos. Quem explica a realidade são os intelectuais, que se justificam, o que é humano, e o fazem com grande habilidade.

A violência jacobina pode ser desfavoravelmente comparada com a revolução de 1688, no Reino Unido. Esta fez conquistas semelhantes ao que a francesa prometeu. A violência na França foi desnecessária, mas empolga admiradores até hoje.

Intelectuais gostam da “fraternidade” da guilhotina e não se autoincriminam. Os seus fracassos não impediram que conquistassem amplo apoio. Lembrar os direitos de todos sem falar em obrigação ou esforço faz prosélitos. O jusnaturalismo é invocado por alguns, como se direitos potestativos tivessem exigibilidade. É engano ou enganação.

Teologias invocam a fraternidade para legitimar exigibilidade do que representa ônus contra terceiros, como se o bem-estar material fosse parte do cristianismo. Este, porém, diz: “Na vida tereis aflições” (João, 16;33). O cristianismo é uma soteriologia voltada para o sobrenatural; é escatológico; prega a solidariedade como responsabilidade pessoal intransferível, não podendo ser delegada ao Estado, para se evadir do ônus pessoal, assim transferido para terceiros.

Um intelectual francês frequentemente vinha ao Brasil. Era incensado e propunha políticas generosas. Deixou de vir para não responder por crime de pedofilia. Paul Bede Johnson (1928 – vivo), no livro “Os intelectuais”, descreve os maiores pensadores revelando o mal caráter da maioria deles.

O fracasso das experiências salvadoras dos “sábios”, desde o malogro de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) em Siracusa, ao tentar por em prática suas ideias, não desanima os ideólogos. Eles perseveram no erro. Platão escreveu “As leis” se retratando do que havia dito na “República”. Professores, porém, não recomendam a leitura da retratação.

O desequilíbrio de muitos intelectuais e o fracasso de suas teorias começa a causar descrédito, ao que reagem atacando a classe média. Usam abusivamente a categoria de análise classe social. Mas teorias de estratificação social não são pacíficas. Seria preciso dizer se usam o critério da origem da renda, de Karl Heirinch Marx (1818 – 1883) ou a quantidade de renda (posição no mercado), de Maximiliam Karl Emil Weber (1856 – 1920), para demarcar as classes.

Não são científicos ao fazer proselitismo. A classe média, nas universidades, só encontra autores “progressistas” por quem é odiada, como Marilena de Souza Chaui (1941 – viva), que prega paz e amor, mas odeia a classe média por quem é admirada e a quem vende livros.

A classe média deu muitos revolucionários; mora nos bairros elegantes e vota nos candidatos “progressistas”. O conhecimento pode ser obstáculo epistemológico (Gaston Bachelard, 1884 – 1962) e causar a cegueira dos paradigmas (Thomas Samuel Kuhn, 1922 – 1996).

O povo percebeu e a política sentiu tudo isso.

Aracajú, 23/12/19.


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