ALIANÇAS
SILENCIOSAS
Rui Martinho Rodrigues*
Gastos, quando excedem receitas, levam ao endividamento.
Descontrole das contas públicas estimula a alta dos juros. Grandes dívidas e
juros altos são o paraíso dos mutuantes. Bancos são grandes credores. O Estado
provedor devora de recursos. Fomenta dívidas. Semeia lucros para os grandes
bancos, grandes credores. Os maiores capitalistas, por meios de fundações
milionárias, financiam movimentos “progressistas”.
A aliança silenciosa entre os que se apresentam como adversário é
relatada por Gary Allen (1936 – 1986) e Larry Abraham (1937 – 2008). Winston
Leonard Spencer-Churchill (1874 – 1965) certamente diria que desde a batalha da
Inglaterra, nunca tantos deveram tanto a tão poucos, como os governos devem aos
banqueiros.
Milionários, nos EUA, têm defendido o aumento da escala progressiva
do Imposto de Renda. São generosos! Mas sob a proteção de fundações e de outros
artifícios, completamente fora do alcance dos impostos que querem aumentar. Os
grandes financistas e os seus “adversários” competem no campeonato de virtudes.
Ambos, porém, querem mais gastos públicos e mais dívidas. Os
“progressistas”, sejam eles revolucionários ou democráticos, criticam os juros,
mas defendem o déficit público. Alguns ricos financiam os seus supostos inimigos,
como o fazem as fundações dos grupos mais afortunados do mundo.
Resta saber se tão silenciosa aliança se mantém quando os
“progressistas” chegam ao poder pela via revolucionária. Em 1927 a Standard Oil
de Nova York investiu em uma refinaria na URSS e pouco depois participou de um
acordo para vender petróleo soviético nos países europeus.
Em 1925 o Chase National Bank participou do financiamento de um
programa de exportações e importações soviéticas (ver Allen e Abraham). A China
recebe um dilúvio de investimentos dos maiores grupos econômicos privados,
estando sob ditadura do Partido Comunista Chinês (PCC).
A América Latina tem mais recursos naturais do que a “Terra do
Meio”. Poderia receber tais investimentos. Além disso, está mais próxima dos
grandes centros consumidores da União Europeia e dos EUA. Tem mão de obra não
muito mais cara do que a do grande país asiático.
Oportunidades de investimento em infraestrutura não faltam desde a
margem meridional do rio Grande até a Patagônia. Mas o grande capital preferiu
investir sob as asas do PCC. O único obstáculo era o “nacionalismo” de ocasião,
praticado pelos internacionalistas, que faziam violentas campanhas contra o
capital que a China recebeu de braços abertos. As motivações para estas
campanhas nos levam ao exame de conspirações. Afinal, conspiração é
planejamento e busca de resultados. Empresários e políticos, principalmente se
revolucionários, não fazem outra coisa.
É mais fácil corromper agentes políticos, como ficou demonstrado do
Mensalão e Petrolão, do que enfrentar a competição do mercado. Os ditadores
precisam da eficiência produtiva da economia privada e gostam de desfrutar do
patrimonialismo em que os palácios luxuosos são do Estado, mas quem usufrui
deles são os dirigentes dos partidos. A aliança silenciosa entre estas partes
começou sob o nazismo, que foi uma parceria entre o capital privado e um
governo totalitário, agora repetida na China.
O capital prefere um regime sem greve, sem protesto, sem Ministério
Público e Magistratura independentes. Vietnã, Angola, Moçambique e Rússia são
exemplos de igual cooperação. Isso explica alianças surpreendentes, inclusive
entre nós. Peões, no jogo político, são inocentes úteis que se presumem
esclarecidos.
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