CÂMBIO E TROPEÇO
DIPLOMÁTICO
Rui Martinho Rodrigues*
“Ortodoxia econômica” e “consenso de Washington” são pseudônimos do
realismo econômico. As dez regras do consenso aludido se resumem em equilíbrio
fiscal, câmbio flutuante e outras medidas coadjuvantes destas. O seu fundamento
é uma Antropologia Filosófica que reconhece o egoísmo humano. Adam Smith (1723
– 1790) não era economista, mas filósofo dedicado ao estudo da Filosofia dos
valores, tendo escrito a obra Teoria dos sentimentos morais. Compreendeu a
econômica por ter entendido o homem. A chamada ortodoxia econômica acrescenta
um ingrediente: a realidade não pode ser burlada. Os artifícios podem obter
sucesso por algum tempo. Mas fracassam.
Realismo cambial é câmbio flutuante. Quando as transações
internacionais são desfavoráveis a moeda nacional tende a se desvalorizar,
estimula exportações e desestimula importações, invertendo a tendência. A
atração de investidores externos influencia a cotação da moeda. A inflação
interna também. O conjunto de fatores, porém, não é permeável às boas ou más
intenções se as variáveis citadas não forem modificadas. Inflação é aumento dos
meios de pagamentos e de sua velocidade de circulação em maior proporção do que
os bens e serviços. Isso vem do déficit público, emissões, crédito escancarado
e acidentalidades que ocasionam escassez e mais uns poucos fatores.
Hoje temos a inflação mais baixa dos últimos vinte e um anos e uma
tendência para reequilibrar as contas públicas. A queda e o viés de baixa dos
juros tornaram a especulação financeira menos atraente. O capital especulativo
perdeu o interesse e está indo embora. O erário está fazendo uma enorme economia
com os juros baixos. Quem vociferava contra os especuladores e contra as
despesas financeiras não deveria achar ruim. A saída do capital especulativo
contribuiu, juntamente com fatores externos, como a guerra comercial entre EUA
e China, para a desvalorização cambial da nossa moeda.
O valor das nossas exportações tornou-se menor no comércio
internacional e maior para os nossos exportadores. Cresceram as exportações de
alguns bens, como era de se esperar, conforme a Antropologia Filosófica
aludida. Bens cuja elasticidade da oferta é pequena tendem a se tornar escassos
em tal situação, como é o caso da carne. A peste suína que acomete o rebanho
chinês é um dos fatores externos a influenciar o preço, nas transações
internacionais, da proteína animal. A peste mencionada passará e o rebanho
chinês será recomposto depois de um longo temo.
A fuga do capital especulativo poderá ser compensada pela atração
de capital produtivo. Mas isso exigiria a supressão dos entraves às concessões
na área de infraestrutura, como aeroportos, portos, rodovias, ferrovias; a
superação das dificuldades para a realização de empreendimento; da burocracia e
da insegurança jurídica. Estes fatores afastam os investidores.
As encomendas de máquinas e equipamentos estão crescendo muito além
do esperado. A construção civil também está se reaquecendo. O desemprego
decresce lentamente, mas antes do esperado. Sinais tão animadores de
recuperação da economia poderão atrair o gigantesco estoque de capitais
internacionais, depositados a juros negativos ou próximos de zero. Muitos
outros fatores deverão ser considerados. No curto prazo, porém, é a solução
possível. Tal não acontecerá de imediato e quando acontecer não produzirá
resultados instantâneos. Relações internacionais influenciam tudo isso e são
pragmáticas, mas não são imunes aos fatores políticos. Não compreender este
aspecto poderá nos prejudicar.
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