quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

NOTA SOCIAL - Carnaval Até Debaixo d'Água

NÁUTICO
CARNAVAL DA SAUDADE
TRADIÇÃO E ALEGRIA
“ATÉ EMBAIXO D’ÁGUA”
  
O Náutico Atlético Cearense promoveu neste ano de 2019, na noite deste dia 23 de fevereiro, a 52ª edição do Carnaval da Saudade, sob o comando do Presidente do Clube, o advogado Jardson Cruz, que também preside atualmente a Academia Cearense de Direito.


Desta vez o evento foi dedicado ao grande compositor romântico cearense Evaldo Gouveia, Membro Benemérito da ACLJ, o qual fez grandes incursões pela boa música do carnaval brasileiro, inclusive sambas enredos da Portela, escola de samba carioca – um deles vencedor em 1974, O Mundo Melhor de Pixinguinha.



Infelizmente o homenageado não pôde comparecer à festa, pois a idade avançada e uma doença vascular o impediram, mas ele se fez representar por sua mulher, a advogada Liduina Lessa, que recebeu por ele as merecidas honrarias.

Na imagem de arquivo, Evaldo e Liduina entre confrades, em reunião na Tenda Árabe, a que ele comparecia com ela muitas vezes, deleitando os confrades com as suas canções ao violão e com a história da sua saga, desde quando saiu do seu Iguatu, ainda menino, até o atingimento dos píncaros da fama, entre os anos 50 e 80 do Século XX. 

Um outro acadêmico, o pesquisador e documentarista musical Ulysses Gaspar, com o contributo das longas entrevistas que o compositor prestou à ACLJ, produziu a sua biografia autorizada – O Que Me Contou Evaldo Gouveia”. Evaldo Gouveia compôs para a ACLJ a Canção da Academia”, intitulada Cântico Cearense.

Logo após a coroação do novo Rei Momo, Gil Barata, pelo Presidente do Clube, Jardson Cruz, durante o magnífico desempenho das Bandas do Cordão do Bola Preta, e, em seguida, Caribbean Kings, contratadas diretamente do Rio de Janeiro, desabou um temporal sobre a Cidade, evento meteorológico que não teve potencial para desanimar o imenso público.

Pelo contrário, enquanto alguns foliões se entregaram a um delicioso banho de chuva, sambando freneticamente no salão descoberto, os brincantes que preferiam não molhar as fantasias se condensaram animadamente nas áreas cobertas do Clube, sem por um momento perderem a alegria – no exato clima da crônica “O Inverno e o Carnaval”, do acadêmico da ACLJ Reginaldo Vasconcelos, que por isso resolvemos republicar abaixo.



A propósito, durante o Carnaval da Saudade deste ano, e após a chuva, Reginaldo posa entre o radialista e promotor de eventos Alexandre Maia (à direita) e o também advogado Manuel Castelo Branco Camurça, um dos mais notórios e devotos torcedores do Ceará Sporting Clube, além de um grande entusiasta do carnaval carioca, a que comparece religiosamente a cada ano para torcer pela Portela.


O INVERNO E O CARNAVAL
Reginaldo Vasconcelos*


O carnaval e o inverno cearense coincidem, coexistem, misturam-se e se molham um ao outro de alegria.

O inverno é o carnaval da Natureza, que se fantasia de verde a festeja-lo, numa alegria gigantesca.

Úmidos corpos molham fantasias coloridas, brotam amores, chovem sorrisos e abraços são colhidos. Cheiro de terra, grama molhada e poças d’água nas calçadas.

Antes de tudo, o inverno e o carnaval são perfumes e cores, que portanto podem descolorir e evaporar, durante a vida e os anos sobrepostos.

Milhares de crianças vestem penas, pintam o rosto, colocam máscaras, vestem panos de seda e calçam botas: são índicos, super-homens e piratas.

Os adultos tornam-se palhaços, viram tuaregues, ou transformam-se em havaianas e odaliscas. No meio da folia, no epicentro da algazarra, no momento da fervura cai a chuva.

Rostos suados, gotas brilhando entre lantejoulas e confetes, plumas e paetês apanham chuva nos cordões, bumbo e corneta salpicam som, sopram chuviscos.

Pelo asfalto, nos estandartes os símbolos místicos do baralho. Desce o maracatu titubeando ao “chim-bum” afro dos tambores, e ao tinir dos guizos e chocalhos.

Índios e negros vestindo os trajes da Corte, trazem à tona as raízes da raça e da cultura, de onde se eleva o envolvente éter da História.

Sob os véus das fantasias veem-se os corpos mornos da folia, molhados de suor. Entre apitos, passes de dança e evoluções, uma euforia, um incêndio íntimo.

Sorrisos franqueados, empurrões e abraços se permitem, suor e cerveja para a chuva temperar. O carnaval não é loucura, é remédio, é antídoto, alivia todos da luta insana pela vida, evitando a demência da dor e da solidão.

No terceiro dia o folião já canta rouco, o bêbado cai de porre na calçada, as fantasias já se rasgaram mas ainda resta alegria.

E na quarta-feira a chuva chora e lava o asfalto, num chuá sentido de saudade. Nos salões as serpentinas fazem engodos, que simbolizam mil paixões, namoros mominos, recordações de outros carnavais.

Publicado na Tribuna do Ceará – Fevereiro de 1980

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