quarta-feira, 1 de maio de 2013

CRÔNICA


MÍDIA NOSSA DE CADA DIA-GRAMADORES



Estou na ativa desde os anos 60, século passado. Acompanhei de perto a transformação por que vem passando a mídia em todo mundo. Lembro quando chegou o primeiro teletipo, transmitindo as notícias da UPI, na redação dos Diários e Emissoras Associados, em Fortaleza.


Até então as noticias nacionais e internacionais chegavam via código
morse. O acreano Napoleão Pimentel operava um rádio Hammarlund. Sintonizava a agência e ia traduzindo o código para o português. A chegada da máquina que trabalhava só, que soltava a notícia pronta, provocou um trauma no nosso radiotelegrafista.

Sua primeira reação diante da novidade foi jogar a máquina de escrever pela janela. Depois se enfurnou num boteco e bebeu todas. Quando voltou ao trabalho já não era o importante tradutor que abastecia as redações dos jornais, rádio e TV. Virara um mero cortador daquelas longas laudas, separando as notícias e entregando-as na redação. Virou um contínuo.

As mudanças tecnológicas foram avançando, retirando das redações as pranchetas dos diagramadores, acabando com a radiofoto e a telefoto. O computador silenciou as redações, a câmara de filmar foi substituída pelo vídeo. A máquina fotográfica ficou digital, sem filme, as impressoras se modernizaram e o jeito de fazer jornal também foi mudando.

Quando Maria Luíza foi eleita prefeita de Fortaleza pelo Partido dos Trabalhadores, lembrei do governador Virgílio Távora, que gostava de falar usando uma linguagem telegráfica. Foi inspirado nele que sugeri ao editor Francisco Bilas a manchete do dia. Ele acatou e o Diário do Nordeste estampou na primeira: “Maria Luíza Prefeita. PT Saudações”.

Hoje fica difícil fazer manchete assim. Os jornais enumeram as principais notícias do dia e ligam para um determinado número de assinantes. Perguntam qual desses fatos do dia gostariam de ver na primeira página. A notícia mais votada vira a manchete.

Quer dizer, o jornalismo boêmio, amador, que a gente fazia com o Odalves Lima, cedeu lugar ao pragmatismo. Os jornais viraram empresas. A forma de fazer jornal continua mudando. Hoje qualquer um pode fazer sua notícia, sua denuncia, e colocar na Internet, nas redes sociais. No momento em que qualquer um pode ser redator, repórter, o amadorismo se sobrepondo ao profissionalismo, o papel do jornalista virou uma interrogação.

Para onde vamos?

Os cursos de comunicação debatem que tipo de profissional vão formar. Aliás, essa preocupação vem desde o final do século passado. Em 1977, vinte e cinco influentes jornalistas americanos se reuniram em Havard para analisar a profissão. Já preocupava a influência dos anunciantes e das novas tecnologias sobre os meios de comunicação. Essa influência gerava problemas e, em consequência, a sociedade vinha perdendo sua confiança no que era noticiado.

A vulgarização dos noticiários e a desmoralização do modelo clássico de reportagem, além de programas de entretenimento disfarçados de jornalismo, motivaram a criação de um Comitê dos Jornalistas Preocupados. O Comitê elaborou pesquisas sobre as expectativas da profissão e chegou a formular nove enunciados como fundamentais para a prática jornalística na sociedade. O primeiro se propõe a responder a questão: para que serve o jornalismo?

Diz lá: “O jornalismo serve para construir a comunidade, a democracia. Ele deve fornecer informações às pessoas para que sejam livres e capazes de se autogovernar. O jornalismo influencia a qualidade de nossas vidas, nossos pensamentos e nossa cultura. Enfim, o bom jornalismo deve ser comprometido com a verdade, a disciplina, a independência e a lealdade”.

Toda essa história você encontra no livro de Bill Kovach e Tom Rosensteil, chamado “Elementos do Jornalismo: o que o jornalista deve saber e o público deve exigir”. Uma leitura essencial para quem está no ramo.

Por Wilson Ibiapina
Eleito para a Cadeira nº 39 da ACLJ










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