sexta-feira, 17 de maio de 2013

CRÔNICA

Jornalista, que profissão!

 

Não tem nada mais difícil. Ser jornalista não é terminar a faculdade, pegar a carteirinha e sair por aí. É pior que médico. Digo mais: pior que prostituta.

As meninas param na sexta-feira santa. Barriga vazia, cansaço, sol quente, uma árvore.

Pois é debaixo dessa sombra que a gente começa a delirar enquanto espera a autoridade. Ninguém respeita o jornalista. É visto como chato, bisbilhoteiro, profissional que está sempre falando dos outros. Político adora usar jornalista para fazer média, mandar recados ou encher balão de ensaio.

No Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF a ficha de cada sócio, batida à máquina, tinha duas áreas que a secretária preferia preencher a lápis. O estado civil e o órgão em que o jornalista está trabalhando. A explicação da funcionária era simples. É que jornalista troca de mulher como troca de emprego.

Dura mais quando jornalista casa com jornalista. Qualquer um fora da profissão não aguenta. É que não tem hora pra nada. E tem hora pra tudo.

Jornalista já foi profissão de poeta, escritor, artista. Jovens defensores da comunidade que se reuniam em bandos e fundavam um jornal para brigar pelo bairro, pela cidade, pelas ideias. Tinha que ter uma convicção. Quando morria o mais velho, o diretor, o redator assumia o lugar dele; o repórter era promovido a redator; o foca virava repórter e lá estava a oportunidade para mais um foca. E por aí, ia todo mundo voltado, literalmente, para o interesse público, para a cidade, para o cidadão, sua arte, sua cultura. Sabe que ninguém pensava em dinheiro?





Não havia questão maior que não fosse resolvida na mesa do bar. Jornalismo boêmio. Mas todo mundo defendia uma causa. Profissão de quem gostava de escrever e se comunicar. O jornalista era igual a policial. Estava sempre trabalhando. Até que a imprensa virou empresa. O jornalista Evandro Paranaguá foi quem abriu meu olho: Essa liberdade de imprensa que você reclama, não é sua. É do patrão.

E foram surgindo as faculdades de comunicação que despejam no mercado milhares de jornalistas, todo ano. As empresas do setor parecem que diminuem.

A pirâmide fecha. Não se leva mais em conta a experiência, o tempo de casa. Reduz-se a vida útil do jornalista. Profissão rápida, descartável. Jornalista velho só dá trabalho. Reclama da pauta, contesta, não aceita virar dia e noite, como antigamente. Por que não trocar uma criatura dessas, que ganha muito (???) por um jovem, cheio de tesão, sem escrúpulo, topa qualquer pauta? E, se for na TV, pula no rio, anda na chuva, galopa a cavalo, até transa em público, por que não? Jornalismo participativo. Jornalista quando começa a questionar a pauta, achar que tal matéria não deveria ter sido assim, assado, começa a dar sinal que seu salário pode contratar dois, três, sei lá quantos estagiários.

Não adianta ficar bravo. O estagiário de hoje vai ser o chefe de amanhã. Vai reclamar dos futuros subordinados as mesmas coisas que lhes são cobradas hoje. A notícia agora tem que acontecer como o pauteiro imaginou. Azar da mulher que desistiu de ficar nua em praça pública; do governante que não aderiu ao novo partido como queria o chefe da redação. A coisa tá ficando muito louca. Quando não aparece um bandido para ameaçar as pessoas, a redação inventa.

Tai o Gugu, que se diz jornalista, criando pautas que correspondam à linha que quer imprimir ao programa dele, para angariar mais audiência. Domingo, Legal!

Como em toda profissão, tem os que querem se aproveitar para ganhar dinheiro. Um colunista de jornal, no Rio, era tão venal que Antônio Teixeira Junior, ex-diretor da sucursal de O Globo em Brasília, criou um slogan pra ele: “Coluna ‘X’ onde uma nota vale uma nota”. Assim como os jogadores de futebol tem jornalista que ganha bem. São poucos. A maioria mora mesmo é de aluguel em cidade satélite.

A intimidade com o poder, às vezes, faz com que o jornalista se sinta importante, celebridade.

A jornalista Cristina De Lamônica mandou-me uma pesquisa feita pelo professor Roberto Heloani para o pós-doutorado dele na Escola de Comunicação e Artes da USP. O professor, que é advogado, psicólogo e mestre em administração de empresa descobre que “a vida pessoal dos jornalistas é precária, com falta de relacionamento familiar por conta das excessivas jornadas de trabalho e vínculos afetivos que se desfazem rapidamente. Eles trabalham em quase todos os finais de semana, mas em compensação resistem bem ao estresse, inclusive se dedicando com paixão à profissão, e nutrindo por ela uma relação de amor e ódio. Nas redações, o ritmo de trabalho a que se submetem é estafante, com jornada de 12 horas e às vezes, até mais, e estão expostos ao assédio moral e ao rígido controle social.

Por Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor do Sistema Verdes Mares em Brasília
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

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