POR APENAS
Outro dia fui
dar entrada num documento no CREA – Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia, cuja sede fica no centro de Fortaleza. Parei o carro na Rua Castro e
Silva, quase defronte ao prédio. O atendimento não demorou mais que três
minutos, o que me deu cerca de uma hora sem nada a fazer. Então... Resolvi
perambular, admirando nossa cidade.
Era meio dia,
e comecei meu trajeto apreciando o próprio edifício do CREA, anterior e
originalmente San Pedro Hotel. Um luxo à época, com apartamentos com vista
para nosso verde mar. Depois percorri a Rua Gal. Bezerril. Bucólica, ela
conserva paisagens de outros tempos. Bares, lojas de ferragens, de chapéus, de redes, de artigos de couro e aviamentos se misturam numa miscelânea de cores e
formas.
A travessa
Crato é um caso à parte. Ali o tempo parece passar mais lento, as pessoas
sorriem umas para as outras, a correria dá espaço à vida...
Percorrendo a
rua no sentido praia-sertão passei ao lado do Edifício General Tibúrcio,
projeto de arquitetura de meu saudoso pai, o arquiteto Armando Farias. Logo ali em
frente a Praça dos Leões, na qual estavam montados estandes padronizados para
o comércio de livros didáticos usados em bom estado (troca-troca). Um serviço à
comunidade.
Continuando
no mesmo sentido, desci à esquerda continuando minha caminhada pela Rua do
Rosário. Dei uma rápida olhada no interior da igreja do mesmo nome e no Palácio
da Luz (Rua Rosário Nº1), onde funciona a Academia Cearense de Letras. Fundada
em 1894, nossa academia precedeu à própria Academia Brasileira de Letras - ABL.
Quantos sabem disso?
Continuando pela Rosário, passei em frente ao prédio do antigo Flórida Bar (Rua
do Rosário, 38), onde hoje funciona uma loja de consórcios da Caixa...
Saudades!!
Depois
me deparei com uma casa de consertos de máquinas de escrever e telex – imaginem! Na mesma rua, uma mercearia, com cereais expostos em surrões na calçada e um
mundo de mantimentos lá dentro, entupindo todos os improváveis três metros de
largura do comércio. E a casa estava lotada!
Mais um pouco
à frente, na esquina com a praça dos voluntários, dobrei à esquerda na Perboyre e Silva observando suas lojas. Desci até à Sena Madureira, entrei na Melvin Jones
(nunca mais havia andado por ali) com suas lojas de rações e equipamentos
antigos. Cheguei até o Bar e Restaurante Ipueiras, onde bebi água gelada e bem-vinda.
Olhando para
o alto, roupas e toalhas penduradas nas janelas anunciando: “Aqui há vida!”.
Fiz o percurso de volta à Praça dos Voluntários, agora admirando-a.
Surpreendeu-me seu florido jardim, coisa difícil de encontrar em
Fortaleza.
Continuei pela tortuosa Perboyre e Silva, passando pelo edifício sede da gloriosa
Associação Cearense de Imprensa - ACI, na esquina com Floriano Peixoto, erguido
com muita luta pelo mesmo Perboyre, que empresta o nome ao logradouro.
Obviamente
fui merendar pastel de carne (a azeitona do pastel tem caroço) com caldo de
cana na tradicional Leão do sul.
Ao sair da
mercearia, a Praça do Ferreira, saudosista e contemporânea ao mesmo tempo,
estava aos meus pés com sua coluna da hora e seus jardins. À minha esquerda, a
Farmácia Oswaldo Cruz, com sua fachada, mobiliário e muitas lembranças doutros
tempos. E pensar que ameaçaram fechá-la há pouco tempo... Vizinho, a
tradicional MILANO, loja de roupas masculinas.
Ainda à
esquerda, o Edifício Lobrás, também projeto de meu pai. Na sequencia, o
Edifício do Cine São Luiz e o do Excelsior Hotel.
No fundo, por trás da onipresente Coluna da Hora, avistei o edifício do Hotel
Savanah, onde homens de negócios se hospedavam com requinte, e o prédio da Sul
América. À direita, a Caixa Econômica. Continuando
pela Floriano Peixoto, passei pelo Museu do Ceará e o Palácio do Comércio, que
passou por recente restauro completo.
Entrei no
hall do edifício onde funcionou a Livraria Arlindo, da qual ainda conserva os
antigos armários e prateleiras de madeira. A porta de acesso às escadas é do
tipo pantográfica, e há um vazio no centro do hall até o último andar, com
corredores ao seu redor. Além de tudo isso, um cheiro de nostalgia no ar.
Saindo, ainda passei
pelo prédio dos Correios, já olhando os ponteiros do relógio, que pareciam
avançar mais rapidamente que minutos atrás. Fim de percurso, fim de passeio.
Depois que
apanhei o carro num tenebroso edifício-garagem, passei em frente à Sé, ao Paço
do Bispo, à Fortaleza da 10ª Região Militar, ao Passeio Público, Santa Casa,
Emcetur e Estação Ferroviária, mas esse vai ser outro passeio...
... E tudo
isso por apenas R$ 10,70 e uma hora de meu tempo vadio, com direito a
estacionamento, caldo de cana e pastel.
Pedro Altino Farias, em 24/01/2013
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