quinta-feira, 13 de julho de 2023

PALESTRA - Números Dramáticos Sobre os Acidentes de Trânsito (LN)

NÚMEROS DRAMÁTICOS
SOBRE OS ACIDENTES
DE TRÂNSITO
Palestra do Médico Lineu Jucá* 

Proferida na 1ª Reunião Mensal da
Arcádia Alencarina da
Academia Cearense de literatura e Jornalismo
Em 04 de julho de 2023 

 

Cursando o Mestrado pela Escola Paulista de Medicina, realizamos a pesquisa “Prevalência de lesões arteriais traumáticas dos membros inferiores decorrentes do Acidente de motocicletas”. Foram 3.354 pacientes, em treze meses de estudo de janeiro de 2007 a fevereiro de 2008, no Instituto José Frota de Fortaleza.

Naquele hospital público especializado em traumas, 958 pacientes ficaram internados e 604 foram pesquisados – obedecidas as normas da OMS, no “consentimento livre e esclarecido”, e encontramos números alarmantes, que serviriam até de base para as autoridades nacionais de trânsito.

87% dos acidentados do sexo masculino;

82% dos acidentados entre 0 e 40 anos de idade;

42% dos acidentes de pessoas alcoolizadas;

55% dos acidentados sem Habilitação de Trânsito;

56% dos acidentados sem uso de capacete obrigatório;

39% dos acidentes em dias de domingo;

20% acidentes em dias de sábado;

12% acidentes em sextas-feiras;

 07% acidentes em quartas-feiras;

59% acidentas em zona urbana.

O Brasil tem 3.3% dos veículos dos veículos do mundo, e tem 5.5% dos acidentes mundiais. Segundo a OMS e uma dissertação da USP; 6% dos deficientes físicos do mundo foram vítimas de acidente de trânsito. 

Outro estudo da USP afirma que 7% dos acidentes de trânsito se devem ao analfabetismo. O acidente de motocicleta é 27.5% mais grave que o acidente de outros tipos de automotores. 

Então, pergunta-se: a habilitação de motociclistas deveria ser mais rigorosa? Mata sete vezes mais, e, sem capacete, oito vezes mais. O Datasus, que anota as mortes imediatas, registrou que 43.256 pessoas perderam a vida no trânsito em 2012, ou 3.604 de mortes a cada mês (2012). 

Comparativamente, o desastre com o navio Titanic, evento de 1912, que inspirou 10 grandes filmes e livros, matou apenas 1.514. O DPvat diz terem ocorrido 60.000 mortes por ano no período da pesquisa. Portanto, quem mais mata no trânsito, em todo o mundo é Brasil. 

No Primeiro Mundo, quase a totalidade das mortes no trânsito acontece ao ocupante do veículo; no Ceará, 38% dos mortos no trânsito são pedestres. Caberia ensino de trânsito na grade do currículo escolar? A maioria das mortes de crianças por acidente, até nove anos de idade, é causada pelo trânsito. 

O alarmante índice de 70% das vítimas de acidentes de motocicleta atendidos em Fortaleza são oriundos do Interior, e têm fraturas múltiplas. Requerem meses de internação, e ocupam leitos de UTI, que no País inteiro são insuficientes. 

A França reduziu em 15% o Traumatismo Cranioencefálico em acidentes de trânsito, após o uso obrigatório do cinto de segurança, e os Estados Unidos da América, em 11%, após a instalação de airbag como equipamento de fábrica na frota nacional de automóveis. 

As viações Cometa e Itapemirim, ao impor aos seus motoristas o acendimento de faróis, mesmo durante o dia, nas rodovias do País, reduziu em 35% o choque frontal, em 1975. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, 27% dos acidentes são frontais, e 72% destes, causam mortes, nesse tipo de acidente, nas rodovias federais. 

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, de 2000 a 2005 aumentaram em 93% os acidentes de motocicletas, e, em 84% deles com o resultado-morte. Em 2012, 507.915 vítimas de acidente de trânsito tiveram cobertura do seguro DPvat, por invalidez permanente em 352.492 dos casos, o que ainda indica ônus para o INSS. 

Outra pesquisa que fiz, em curso de especialização em Administração Hospitalar (UFC), em seis meses encontrei 56 amputações, sem perspectiva de aplicação de prótese, isso somente no Instituto José Frota. 

Comparativamente, morreram apenas 49.000 soldados americanos no Vietnã, em oito anos de guerra; completa agora dez anos o incêndio na “Boate Kiss”, no Rio Grande do Sul, que comoveu e revoltou o País, e que teve 152 mortes. Pois temos o equivalente a duas Boates Kiss de mortes no trânsito por semana. 

Em outra oportunidade poderei voltar ao tema das mortes no trânsito, ante o absoluto descaso das nossas autoridades. 

“O que me assusta não é o grito dos violentos. É o silêncio dos Bons”. 

Meu muito brigado, por ser tão bem acolhido por essa Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.

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