CONTESTANDO ÉDIPO
Por Paulo Maria de Aragão
(*)
O mito de Édipo
retrata o perfeito exemplo de um terrificante mau fado: esse personagem assassinou,
sem saber, o pai, Laio de Tebas, e, cumprindo a profecia do oráculo, desposou
Jocasta, a própria mãe. O destino o faria ainda o rei de Tebas, cuja população
foi dizimada por uma horrível praga. Ao corrente de suas vicissitudes, Édipo
não suportou ver o que fizera e, mesmo inocente, sentiu-se culpado; em
desespero, arrancou os próprios olhos. Jocasta, ao identificá-lo como filho,
matou-se, consumando-se, assim, a mais trágica história da mitologia grega.
Representada
pela fome de milhões de indigentes e marginais, a tragédia brasileira é concreta.
Enquanto a mitológica grega teve como causa a determinação dos deuses, a nossa
engendra-se pela ação consciente de vilões republicanos. Como resultado, temos
uma nação debilitada no seu quadro de saúde, educação e segurança, ao despedaçar preceitos
constitucionais, asseguradores do desenvolvimento da pessoa para o exercício da
cidadania.
Sem externar remorso,
a horda da vilania fomenta a cultura da miséria e da dependência, manifesta nas
políticas assistencialistas, empobrecedoras da dignidade humana – dá-se o peixe
ao povo, porém não se lhe ensina a pescar. Floresce, assim, a impostura ao
fazer do homem servil, fanático na defesa de falsas lideranças e sem
perspectiva de emancipá-lo do jugo do populismo.
Tudo se
desenvolve mediante um processo de anestesiação de massas, manipuladas com “pão
e circo“, futebol e carnaval, convertidas em borra social por arautos do
patriotismo. Sem pejo, convivem com a ruína, dela fazendo um bom negócio para
se acomodarem no poder.
Fora dos desígnios
dos deuses, a situação desditosa que há tempos alimenta o império da
dependência e da corrupção poderá, um dia, transformar-se numa tragédia social,
de resultados imprevisíveis, a não ser que, antes, os responsáveis sejam
pulverizados na vida pública.
*Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
Titular da Cadeira de nº 39
da ACLJ
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