COMÉDIA BRASILEIRA
Por Paulo Maria de Aragão (*)
Honoré de Balzac, no
século XIX, foi um adepto entusiasta da fisiognomonia, utilizada milenarmente
no Oriente e no Ocidente, método de avaliar o comportamento, o caráter de uma
pessoa pela sua fisionomia. Dela se valeu para criar um grande número de retratos
de personagens, que desfilam em sua monumental “A Comédia Humana”, história
realista da sociedade francesa de seu tempo.
Balzac, sempre
atormentado, no torvelinho de compromissos literários e às voltas com credores,
chegou a alimentar a ideia de morar no Brasil longínquo. No entanto, a bem-amada condessa Eveline
Hanska o dissuadiu do intento de abandonar a França. Concretizado esse intento,
contaria com vasto universo social de escândalos, permitindo-lhe escrever uma
comédia inexcedível, mesmo antes da fuga da família real e da corte portuguesa
para o Brasil Colônia.
Naqueles
anos mais distantes, já não faltavam estripulias, mexericos, intrigas, blefes e chantagens
palacianas. Hoje, guardadas as proporções entre as épocas, comparáveis a
multifacetados escândalos urdidos nos bastidores do reinado de Brasília, onde personagens
se nivelam a um só tempo – autores e atores de óperas bufas, salvo alguns
políticos respeitados, outros nem tanto.
Neste contexto, Jean Baptiste Debret, um dos fundadores da Escola de
Belas Artes, não perdeu a oportunidade de pintar admiráveis cenas do cotidiano brasileiro,
inclusive as carnavalescas, então, convertidas em orgias. Preservaram-se,
assim, as do entrudo, a cultura, os costumes e os desalinhos políticos.
Esta é a nossa
realidade infensa aos valores republicanos e morais –digna de ser descrita
por um romancista, como uma singular comédia, sem que pudesse superar, por
óbvio, “A Comédia Humana”, a maior fusão com a vida real conseguida na literatura
por um gênio chamado Balzac.
(*) Paulo Maria de Aragão
Titular da Cadeira de nº 39 da ACL.
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