Quando a prática do mensalão foi denunciada por Roberto
Jefferson, envolvendo integrantes do partido e do governo de Lula da Silva, o então
presidente estava no estrangeiro, para variar.
De lá, impactado com o escândalo, sentindo-se na iminência de um
cheque-mate ético, ele olhou para o tabuleiro de xadrez político e moveu a única
peça de que dispunha no momento, para tentar fugir do cerco.
Declarou, em síntese, que aquilo que os seus foram pilhados
fazendo, outros fizeram no passado. Que, enfim, todos faziam. Naquele momento,
a única saída lhe pareceu universalizar o vício e naturalizar a deformação.
Mas, já de volta ao Brasil, ele percebeu que o adversário da
partida, surpreendentemente, não fez a jogada fatal para encurralar o rei do
jogo. Jefferson investiu contra a torre, contra o cavalo, contra a rainha, mas
permitiu que o rei passasse livre. Não... Lula fora enganado. Era apenas um
inocente útil.
Com esse salvador alento, Lula embarcou no novo argumento e foi à
televisão declarar que fora traído, e pediu desculpa à nação pelo que fizera o
seu partido. Ele não disse quem foi o seu traidor, mas hoje se sabe que quem o
traiu foi o destino.
Por evidente má sorte, o seu pessoal fora apanhado fazendo
aquelas coisas feias que ele tanto criticava antes, mas que chegando ao governo
passou a achar muito normais, conforme dissera na Europa. Ora, todo mundo fazia
aquilo!
Isso ficou assim, enquanto Jefferson o blindava e o Parlamento o
protegia. A oposição pensava que ele sangraria ao longo de um processo penoso,
até fracassar na reeleição. Não pediram o seu impeachment porque não queriam o vice Zé Alencar na Presidência da República.
Mas Lula cresceu nos tamancos, conservou o bom conceito e
manteve a potência eleitoral. Então Jefferson mudou o discurso e a oposição
quis atacar. Tarde demais. Agora Lula já escapara do cerco e não temia mais o
cheque-mate.
Luiz Inácio passou a dizer que o mensalão era fictício. Armação
das elites, perseguição da imprensa burguesa. Não era mais coisa normal da
política brasileira; não fora mais uma traição contra ele; não precisava mais
se desculpar com ninguém. E assim foi
reeleito.
José Dirceu continuou mandando no jogo, escondido por trás dos panos; José Genoíno foi condecorado como herói, pelo Exército Brasileiro; o “nosso Delúbio” destilava cinismo, declarando que o mensalão viraria uma “piada de salão”.
Não virou. Virou um processo sério, que foi julgado com
seriedade. Os condenados recorrem agora à maquiavélica premissa de que “tudo o
que é bem negado, nunca é bem sabido”. Negam, apesar das flagrantes evidências.
É legítimo. É só o que lhes resta fazer.
Porém, o partido do Governo lançou recentemente uma nota
tentando desqualificar o Supremo Tribunal Federal, e isso de fato é muito
grave.
Isso cheira a crise institucional, pois se trata de um ataque
contra a cúpula de um dos três Poderes da República, feito pelo partido
político que domina os outros dois. São do PT a Presidente e os seus ministros mais
influentes, e pertencem à sua coligação todos os próceres principais.
Ademais, a crítica acerba recai sobre o Poder Judiciário, o único
a que não são consentidas manhas políticas e bravatas estatais. É a balança do
equilíbrio que os outros devem respeitar, como o guardião de todos os direitos e garantias e de todas as liberdades democráticas.
O PT deveria entender que o jogo de xadrez acabou e que ele perdeu essa partida. Melhor fazia ficando quieto, antes que sobre xadrez para
os seus demais moluscos de estimação, como já ameaça acontecer.
Enfim, de nada adiantará, a essa altura, depois de se lambuzar
nos fluídos doces da direita mais retrógrada, o PT querer reeditar as amargas técnicas esquerdistas do terrorismo verbal e da resistência guerrilheira.
Por Reginaldo Vasconcelos
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