A
Azeitona Tem Caroço!
“A azeitona do pastel tem caroço!”,
são os dizeres dos cartazes na parede da casa de lanches, um dos poucos
comércios tradicionais de Fortaleza, cidade que, ao longo dos anos, vem
teimando em apagar a sua história.
Quando garotinho, ia ao Centro com sua mãe. Lanchavam nessa casa. Comiam pastel com
caldo de cana. A azeitona do pastel já tinha caroço nessa época, mas não havia
cartazes. Um dia ele mordeu uma azeitona sem querer. Surpresa e dor no pequeno
dente de leite.
O tempo
passou. A casa manteve suas atividades comerciais. O pastel, considerado dos
melhores da cidade, continuou com caroço.
Não se sabe
quando, puseram cartazes com os dizeres: “A azeitona do pastel tem caroço!”.
Alguém deve ter se engasgado ou quebrado um dente. O aviso, pertinente nos dias
de hoje, pois se vende azeitona sem caroço; soaria surrealista anos atrás,
quando todas as azeitonas possuíam caroços.
Adulto
agora, o garotinho daqueles tempos sempre volta lá para saborear o pastel com
caldo de cana. Outro dia olhava o cartaz enquanto lanchava e, a cada mordida,
esperava encontrar a azeitona.
“A azeitona do pastel tem caroço!”, lembrava a si mesmo. Mais uma dentada e lembrou uma restauração num dente seu. Custou os olhos da cara e nem ficou tão boa. E se sem querer mastigasse o caroço da azeitona em cima...? Humm!
“A azeitona do pastel tem caroço!”, lembrava a si mesmo. Mais uma dentada e lembrou uma restauração num dente seu. Custou os olhos da cara e nem ficou tão boa. E se sem querer mastigasse o caroço da azeitona em cima...? Humm!
“A azeitona do
pastel tem caroço!”, lembrou mais uma vez, lendo o cartaz que parecia lhe puxar
as orelhas o tempo todo. Veio à sua memória o dia em que seu caçula engasgou com
uma goma de mascar. Pensou que o pequenino fosse morrer, tão arroxeado ficou.
“A azeitona
do pastel tem caroço!”, e mais uma dentada. Agora chegara ao recheio, onde deveria
estar a tal azeitona. Mastigou com cuidado. Só carne!
Não contendo
a expectativa, lançou um olhar fulminante às entranhas do pastel. Avistou a
azeitona, quieta, calada, imóvel, lá no fundo do pastel, pronta para dar um
bote!
“Essa aí não
me pega!”, pensou, dando uma pequena mordida no pastel de modo a deixá-la
descoberta, exposta, vulnerável à próxima investida. Apressou-se no mastigar.
Engoliu. Nova dentada. Suave. Azeitona na boca, rompeu sua pele. Sentiu seu suco
se derramando na língua. Saboreou-a com cuidado. Depois, esmagou-a, mastigou roendo
o caroço. Engoliu a poupa, cuspiu o caroço. Fim!
Limpou a
gordura dos lábios com um guardanapo, que jogou no lixo. Ao sair, deparou-se
com um último cartaz: “A azeitona do pastel tem caroço!”. “Tinha!”, pensou, com
um sorriso maroto no canto da boca.
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