sexta-feira, 28 de setembro de 2012

RESENHA - DIRETO DA REDAÇÃO





O Direto da Redação, programa que vai ao ar de segunda a sexta pela TV Cidade, às 8:15 da manhã, apresentado pelos analistas sociais Alfredo Marques e Freitas Júnior, membros da ACLJ, entrevistou, na edição desta sexta-feira, dia 28 de setembro, o senador pernambucano Cristovam Buarque,  do PDT, Ministro da Educação no primeiro governo Lula, entre 2003 e 2004, reeleito para o Senado pelo Distrito Federal, com mandato até 2018.


O ex-ministro começou a entrevista contando que foi demitido por telefone, pelo Presidente Lula, quando estava na Embaixada do Brasil em Portugal, em missão oficial. Lula o demitiu e pediu que ele continuasse a missão ministerial até a Índia, recomendação que ele recusou.

Narrou que estava dando uma entrevista a um jornal português quando recebeu a ligação telefônica em que a secretária da Presidência anunciou que Lula iria falar.

Como já havia rumores de que o Presidente iria substituí-lo pelo petista Tasso Genro, Cristovam Buarque pediu que o repórter o fotografasse ao telefone.

Bem humorado, disse o Senador que hoje tem consigo três fotografias históricas suas, com os três grandes líderes políticos a que serviu: um retrato com Miguel Arraes, outra com Leonel Brizola, e a terceira com Lula... aquela foto, feita pelo fotógrafo português – Cristovam ao telefone, recebendo a demissão.

Alfredo Marques indagou ao Senador se ele ficara magoado com Lula por tê-lo demitido pelo telefone, após um ano como ministro. Cristovam respondeu que não – e em toda a entrevista ele confirmou total ausência de rancor, tanto que ainda teve várias palavras de elogio ao ex-presidente.

Mas, por outro lado, manifestou sua gratidão ao então Embaixador do Brasil em Portugal, o cearense Paes de Andrade, que o hospedava quando de sua demissão, e que foi solidário a ele, depois de ter sido ele demitido, oferecendo-lhe um jantar na Embaixada, com o Primeiro-Ministro português Mário Soares.

Freitas Júnior quis saber como o Senador Buarque vê o péssimo conceito dos políticos brasileiros – ele que tem como marca uma conduta absolutamente ilibada, tanto na sua trajetória de homem público, como na sua vida privada.

Cristovam Buarque respondeu que a ética não é sua marca, porque considera que isso seja sua obrigação. Sua marca política, segundo prefere, é a luta  obstinada pela educação dos brasileiros.

Acrescentou que avalia haver duas razões para a delinquência na política brasileira: a primeira é o “vício” dos nossos políticos de usar a política para enriquecer; a segunda, que explica a primeira, é a falta de bandeiras. Sem ter boas causas para defender, a pessoa só pode cuidar do próprio umbigo.

Alfredo Marques indagou que sensação experimenta Cristovam, que trabalhou pela causa socialista e que por isso amargou nove anos de exílio, ao ver tantos companheiros de luta, que chegaram ao poder, chafurdando na lama da corrupção.


 O Senador atacou diretamente o cerne da pergunta, exemplificando que “José Dirceu caiu exatamente porque perdeu a bandeira”. Estar no poder passou a ser o único objetivo – e a qualquer preço – corroborando com intervenção de Freiras Júnior. O partido, sem ideário, perdeu sua identidade, tanto que PT e PMDB hoje têm a mesma cara.

Mas a corrupção na política é apenas um de nossos problemas. Praticamos uma política econômica baseada na exportação predatória de soja, e vivemos uma democracia tupiniquim. Esse é um modelo totalmente esgotado. Por isso vivemos em crise – complementou o senador, sintetizando a problemática nacional.

Indagado por Alfredo Marques sobre a política de cotas raciais para o ingresso na universidade, Cristovam foi diplomático. Disse que não é contra as cotas, porque elas ainda seriam necessárias, porém avalia que elas não deveriam existir.

Acrescentou o entrevistado que esse tipo de medida se deve ao fato de que a Presidente Dilma é mais “equilibrista” que “estadista”. “O equilibrista cria cotas; o estadista evita a necessidade de se criarem as cotas”.

Para Cristovam, a solução seria a adoção de um novo sistema de educação, como os CIEPS – Centros Integrados de Educação Pública, adotados por Brizola no Rio de Janeiro, seguindo um projeto educacional do antropólogo Darcy Ribeiro. Se fosse feita a federalização da educação de base, as cotas não seriam necessárias.

Freitas Júnior lembrou que a Presidente Dilma tem elevado índice de bom e ótimo, na avaliação popular, atingindo 67% nas últimas pesquisas. Respondeu Cristovam que isso reflete a realidade atual, porque a Presidente estaria mantendo o modelo e atendendo as necessidades... mas não está fazendo mudanças para o futuro. Daqui a 20, 30, 50 anos ela não terá mais essa boa avaliação popular, porque ela não terá feito uma transição evolutiva.

Por exemplo, acrescentou o entrevistado, Dilma demitiu ministros corruptos, mas não mudou a política, para que futuros presidentes não precisem demitir. “Eu queria que ela ainda tivesse sonhos utópicos. Não aquela velha ideia socialista de entregar o poder aos trabalhadores, mas a ideia de colocar os filhos dos trabalhadores nas mesmas escolas dos filhos dos patrões.”

Alfredo Marques perguntou se ele tem esperanças de que o Brasil melhore, quando a sociedade tem a impressão de que não precisa do Congresso, que só homologa o que o Executivo determina.

Segundo Cristovam, o problema é a política do toma-lá-dá-cá. O grande erro de Lula foi pretender ter sempre maioria no Congresso. Juscelino conseguiu apoio, democraticamente, para construir Brasília – e ele não tinha maioria.

Instado por Freitas Júnior a dar uma mensagem aos cearenses sobre as eleições municipais, o Senador pontuou que as eleições para prefeitos são as mais importantes, porque o município é mais ligado às necessidades básicas dos cidadãos. E aconselhou que para fazer a melhor escolha, cada eleitor procurasse examinar o passado de cada candidato, e o seus projetos para o futuro.
    


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