O Direto da Redação, programa que vai ao ar de segunda a
sexta pela TV Cidade, às 8:15 da manhã, apresentado pelos analistas sociais
Alfredo Marques e Freitas Júnior, membros da ACLJ, entrevistou, na edição
desta sexta-feira, dia 28 de setembro, o senador pernambucano Cristovam
Buarque, do PDT, Ministro da Educação no
primeiro governo Lula, entre 2003 e 2004, reeleito para o Senado pelo Distrito
Federal, com mandato até 2018.
O ex-ministro começou a entrevista contando que foi demitido por
telefone, pelo Presidente Lula, quando estava na Embaixada do Brasil em Portugal,
em missão oficial. Lula o demitiu e pediu que ele continuasse a missão
ministerial até a Índia, recomendação que ele recusou.
Narrou que estava dando uma entrevista a um jornal português
quando recebeu a ligação telefônica em que a secretária da Presidência anunciou
que Lula iria falar.
Como já havia rumores de que o Presidente iria substituí-lo pelo
petista Tasso Genro, Cristovam Buarque pediu que o repórter o fotografasse ao
telefone.
Bem humorado, disse o Senador que hoje tem consigo três
fotografias históricas suas, com os três grandes líderes políticos a que serviu:
um retrato com Miguel Arraes, outra com Leonel Brizola, e a terceira com
Lula... aquela foto, feita pelo fotógrafo português – Cristovam ao telefone,
recebendo a demissão.
Alfredo Marques indagou ao Senador se ele ficara magoado com
Lula por tê-lo demitido pelo telefone, após um ano como ministro. Cristovam
respondeu que não – e em toda a entrevista ele confirmou total ausência de rancor,
tanto que ainda teve várias palavras de elogio ao ex-presidente.
Mas, por outro lado, manifestou sua gratidão ao então Embaixador
do Brasil em Portugal, o cearense Paes de Andrade, que o hospedava quando de
sua demissão, e que foi solidário a ele, depois de ter sido ele demitido, oferecendo-lhe
um jantar na Embaixada, com o Primeiro-Ministro português Mário Soares.
Freitas Júnior quis saber como o Senador Buarque vê o péssimo
conceito dos políticos brasileiros – ele que tem como marca uma conduta
absolutamente ilibada, tanto na sua trajetória de homem público, como na sua
vida privada.
Cristovam Buarque respondeu que a ética não é sua marca, porque
considera que isso seja sua obrigação. Sua marca política, segundo prefere, é a
luta obstinada pela educação dos
brasileiros.
Acrescentou que avalia haver duas razões para a delinquência na
política brasileira: a primeira é o “vício” dos nossos políticos de usar a política
para enriquecer; a segunda, que explica a primeira, é a falta de bandeiras. Sem
ter boas causas para defender, a pessoa só pode cuidar do próprio umbigo.
Alfredo Marques indagou que sensação experimenta Cristovam, que trabalhou
pela causa socialista e que por isso amargou nove anos de exílio, ao ver tantos
companheiros de luta, que chegaram ao poder, chafurdando na lama da corrupção.
O Senador atacou diretamente o cerne da pergunta, exemplificando
que “José Dirceu caiu exatamente porque perdeu a bandeira”. Estar no poder
passou a ser o único objetivo – e a qualquer preço – corroborando com
intervenção de Freiras Júnior. O partido, sem ideário, perdeu sua identidade,
tanto que PT e PMDB hoje têm a mesma cara.
Mas a corrupção na política é apenas um de nossos problemas. Praticamos
uma política econômica baseada na exportação predatória de soja, e vivemos uma
democracia tupiniquim. Esse é um modelo totalmente esgotado. Por isso vivemos
em crise – complementou o senador, sintetizando a problemática nacional.
Indagado por Alfredo Marques sobre a política de cotas raciais
para o ingresso na universidade, Cristovam foi diplomático. Disse que não é
contra as cotas, porque elas ainda seriam necessárias, porém avalia que elas
não deveriam existir.
Acrescentou o entrevistado que esse tipo de medida se deve ao
fato de que a Presidente Dilma é mais “equilibrista” que “estadista”. “O
equilibrista cria cotas; o estadista evita a necessidade de se criarem as cotas”.
Para Cristovam, a solução seria a adoção de um novo sistema de
educação, como os CIEPS – Centros Integrados de Educação Pública, adotados por
Brizola no Rio de Janeiro, seguindo um projeto educacional do antropólogo Darcy
Ribeiro. Se fosse feita a federalização da educação de base, as cotas não
seriam necessárias.
Freitas Júnior lembrou que a Presidente Dilma tem elevado índice
de bom e ótimo, na avaliação popular, atingindo 67% nas últimas pesquisas. Respondeu
Cristovam que isso reflete a realidade atual, porque a Presidente estaria
mantendo o modelo e atendendo as necessidades... mas não está fazendo mudanças
para o futuro. Daqui a 20, 30, 50 anos ela não terá mais essa boa avaliação
popular, porque ela não terá feito uma transição evolutiva.
Por exemplo, acrescentou o entrevistado, Dilma demitiu ministros
corruptos, mas não mudou a política, para que futuros presidentes não precisem
demitir. “Eu queria que ela ainda tivesse sonhos utópicos. Não aquela velha
ideia socialista de entregar o poder aos trabalhadores, mas a ideia de colocar
os filhos dos trabalhadores nas mesmas escolas dos filhos dos patrões.”
Alfredo Marques perguntou se ele tem esperanças de que o Brasil melhore,
quando a sociedade tem a impressão de que não precisa do Congresso, que só
homologa o que o Executivo determina.
Segundo Cristovam, o problema é a política do toma-lá-dá-cá. O
grande erro de Lula foi pretender ter sempre maioria no Congresso. Juscelino
conseguiu apoio, democraticamente, para construir Brasília – e ele não tinha
maioria.
Instado por Freitas Júnior a dar uma mensagem aos cearenses
sobre as eleições municipais, o Senador pontuou que as eleições para prefeitos
são as mais importantes, porque o município é mais ligado às necessidades
básicas dos cidadãos. E aconselhou que para fazer a melhor escolha, cada
eleitor procurasse examinar o passado de cada candidato, e o seus projetos para
o futuro.
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