UM
PRÉ-CARNAVAL
ENCABULADO
Reginaldo Vasconcelos*
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nome da vertente jornalística da ACLJ saimos por aí colhendo os cacos de alegria
no primeiro pré-carnaval pós-pandemia, e o encontramos ainda tímido, mal
redimido, encabulado.
“Encabulado” é a palavra exata para caracterizar acanhamento, constrangimento, desencanto – e não “envergonhado”, como preferem os sudestinos, porque “vergonha”, contrario sensu, significa dignidade, brio, honra.
Era de se esperar que, em virtude da demanda reprimida de folia momesca por dois anos, a animação fosse gigante, a maior dos últimos tempos, décadas, séculos – tambores mais fortes, clarins mais sonantes, sorrisos mais largos, mais bêbados do que normalmente se encontram no período.
Não. O que vimos foi um pré-carnaval meio contido, meio desacorçoado, muito ajuizado, mais sueco que baiano, muito mais para pierrôs chorosos do que para a alegria exagerada do Zé Keti, com os seus “mais de mil palhaços no salão”.
O carnaval deste ano encontra um País entristecido e sobressaltado por uma campanha política sórdida, uma administração pública confusa e raivosa, e uma imprensa pautada pelo jornalismo mais tacanho, politizado, com muito pouca ênfase à maior festa popular da humanidade.
Nenhum concurso de marchinhas ou de fantasias, nenhum batalha de confete e serpentina, nenhuma bela canção sob o tema romântico das paixões de carnaval, nenhuma composição irreverente fazendo blague com figuras públicas da vida nacional, como se via no passado.
Além
disso, mundo a fora, uma guerra sangrenta e fraticida na Ucrânia, um terremoto
tenebroso na Turquia, com milhares de mortos e feridos sob escombros, e uma
nova Guerra Fria surgindo entre estadunidenses e chineses.
Então convoquei o promoter Alexandre Maia, radialista, ex-presidente da Federação Cearense das Agremiações Carnavalescas, o idealizador do Fortal, um dos maiores especialistas no assunto, Comendatário da ACLJ, e fomos visitar as mais tradicionais manifestações do pré-carnaval de Fortaleza.
Começamos pela Embaixada da Cachaça, no bairro Joaquim Távora, que, sob a autoridade dos embaixadores Gorete e Altino Farias, elegeu o seu próprio Rei Momo. Recebeu o título das mãos do monarca oficial da Cidade, Sua Majestade Gil Baratha, o ilustre Buiuzinho – Primeiro e Único, o mascote daquela casa etílico-diplomática.
Depois seguimos o cordão “Aí Dentro, Vossa Excelência”, de título muito irreverente e pertinente no momento, por ruas do miolo da Aldeota até o Náutico, e acompanhamos o Bloco da Cachorra Magra e da Baqueta, pelo circuito litorâneo Praia do Ideal e de Iracema.
Fomos também ao “Não Ispaia Sinão Ienche” (que sempre “ienche”), o popular carnaval promovido todo ano pelo folclorista e carnavalesco Dilson Pinheiro (Membro da ACLJ), que ingressou no meio artístico pelas mãos de Alexandre Maia, e de lá fomos ao “Carnaval da Saudade” do Náutico Atlético Cearense.
Na sua sede suntuosa, tombada pelo Patrimônio Histórico da Cidade, o Náutico, sob a presidência do advogado Jardson Cruz, como sempre reuniu um grande concurso de público no seu baile mais tradicional – o “Carnaval da Saudade”, animado pela fabulosa “Orquestra Brasa Seis".
Neste ano organizado pelo promotor de eventos Elenilton Jorge, tendo o eficiente serviço de bar e restaurante a cargo da família Martins Vasconcelos (Ediane, Attila e Attílio), e sob as bênçãos do Rei Momo Rui Baratha (determinado a desbaratar o baixo astral), essa festa do Náutico representa, há muitos anos, o “primeiro grito de carnaval” oficial de Fortaleza.
O tríduo momino se enfraquece ainda mais na Capital, com os mais animados demandando ao mela-mela das cidades praianas cearenses, ou a Olinda, ou à Bahia, e os menos foliões se recolhendo à serenidade dos sítios, às fazendas bucólicas, aos redutos paradisíacos da montanha.
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