sábado, 31 de julho de 2021

CRÔNICA - Isentão (AG)

 ISENTÃO
Aluísio Gurgel do Amaral Júnior *
 

Na condição de administrador de processos políticos  afinal de contas tenho presidido eleições desde 1994  me impus a disciplina da neutralidade. Muita gente acha que é impossível a neutralidade política, mas asseguro que um bom treinamento interior torna-a alcançável.

Por que escrevo isto? Para afirmar que ao longo destes anos aprendi na prática o que os grandes teóricos da política preconizam: não há um lado que tem razão no jogo político; há consensos e dissensos; há maiorias e minorias; há acertos e interesses, ou o contrário. 

Mas não há quem possa dizer que a razão política (ou a verdade política) está deste ou daquele lado. É um jogo de pouquíssimo ou nenhum conteúdo ético, pelo menos os filósofos que se ocupam da política costumam reclamar disto. Basta ver que a política condenou Sócrates à morte. Deu-lhe a oportunidade de salvar-se abandonando a cidadania ateniense.

 

Mas ele, corajosamente, preferiu a morte e tomou por vontade própria o veneno da condenação. Pois quando morreu Alexandre, o Grande, a política ateniense submeteu seu braço direito, o filósofo Aristóteles, ao mesmíssimo processo que antes havia submetido Sócrates. 

E também condenou Aristóteles à morte. E deu-lhe a oportunidade de salvar-se, desde que abandonasse a cidadania ateniense. Foi então que Aristóteles proferiu a célebre frase: “Eu não vou permitir que Atenas cometa duas vezes o mesmo erro contra a Filosofia!” E abandonou a cidadania ateniense – que então era o bem mais caro a um cidadão. Morreu solitário em Cálcis, na Eubéia, em 333 a.C. 

A política é mesmo assim. Nem é ética, nem é justa, nem é boa… Mas é necessária. Sem ela, viveríamos sob o império da força bruta. E segundo Aristóteles, somos todos animais políticos! Zoom politikon.

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