segunda-feira, 5 de julho de 2021

ARTIGO - Dirigismo e Crise (RMR)

 DIRIGISMO E CRISE
Rui Martinho Rodrigues*

  

As crises estão se tornando mais profundas e frequentes. Fala-se em crise financeira, moral e ecológica. A coletânea “O mundo não tem mais tempo a perder”, de intelectuais e líderes do Collegium Internacional, organizada por Sacha Goldman (?-viva), descreve tudo isso como “policrise”, catástrofe iminente.

Aponta como solução o controle supranacional de capitais, políticas ambientais, de tudo. Dizem: a interdependência do mundo globalizado exige limitação da soberania dos estados nacionais, com o controle efetivo dos fatores que propiciam as crises. Pedem mais controle. Negam que queiram planejamento central diretivo, cujo fracasso das experiências históricas é constrangedor. Mas não é outra coisa. É proposta de controle global para evitar crises. O controle central nos estados nacionais gerou desastres. O controle global, na visão dos proponentes de mais governança mundial, seria bem-sucedido, contrariando a parêmia segundo a qual repetir uma conduta esperando resultado diferente é insensatez. 

As crises estão se tornando mais graves, mais frequentes, envolvem mais fortemente o mundo todo em razão da maior integração das economias e têm múltiplos aspectos. É verdade. 

O problema, porém, é que a solução apresentada considera que as crises se devem a falta de controle por alguma autoridade nos estados e em escala global. A “anarquia de mercado”, protagonizada pelos especuladores, “é a causa”. Especuladores atuam fortemente, mas a anarquia é do dirigismo estatal? 

Analistas financeiros culpam o Banco Central Americano (FED) pela crise de 2008. A economia japonesa permanece estagnada, nos últimos trinta anos, sob constante intervenção estatal, com juros baixos e injeção de dinheiro na economia. Lawrence W. Reed (1953 – vivo) culpa a intervenção estatal pela desordem nos mercados. 

A regulação e as medidas “salvadoras”, protecionistas ou estimuladoras são as culpadas. Criam bolhas. Em 2008 ajudaram a superar a bolha da crise dos subprime, mas criaram uma bolha de tudo. A expansão monetária e a bolha de tudo são comparáveis, de certo modo, ao encilhamento dos primeiros anos da República Brasileira, em escala muito maior. Os críticos do planejamento central diretivo (disfarçado de planejamento indicativo) alegam, que a emissão de moeda (m1, m2, m3, m3 e m4) é controlada direta ou indiretamente, de modo total ou parcial pelos bancos centrais. 

A “anarquia de mercado” é falta de autocorreção pelas crises em razão das medidas protetivas de iniciativa governamental. É o sonho de uma sociedade sem dor. Médicos, porém, sabem: paciente que não sente dor sofre graves consequências. O excesso de alavancagem dos bancos centrais e da economia em geral reflete a busca de um mundo indolor. A criatividade dos tecnocratas contraria o equilíbrio da ordem espontânea de Friedrich A. Hayek (1899 – 1992). 

Os governos tendem a adiar problemas, que assim se os agravam. Exemplo deste espírito aparece na frase de John M. Keynes (1883 – 1946), que declarou, sobre a cumulatividade do endividamento: a longo prazo todos estaremos mortos. A democracia degenera em demagogia (Aristóteles, 384 a. C. – 322 a. C.). 

A governança mundial proposta institui poderes científico, dos reis filósofos; políticos; morais ou controle de consciências; e religioso (religião oficial) com poder global, “antes que seja tarde”. Catastrofismo, cientificismo, controle de consciência e da economia. É a velha tese da sociedade justa, igualitária e fraterna que só é possível se implantada em todo o mundo (para evitar comparações desfavoráveis).


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