Pelo direito de
sentir o que se sente
João Pedro Gurgel*
Nesta
semana, a BBC Brasil publicou um alerta extremamente relevante: “Positividade
tóxica pode ser pior que depressão”. Segundo a Neuropsicóloga Espamhola Teresa Gutiérrez Fuentes,
reprimir emoções negativas tem consequências perigosas para a saúde, que, mesmo
caladas, podem acabar sendo expressas pelo corpo. O alerta atualíssimo provoca
a necessidade de repensar algo ainda menos falado na sociedade: o direito de
sentir o que se sente.
A
despeito do Direito à Felicidade (vide o caso de Butão (país com o maior índice de Felicidade Interna Bruta [FIB]) estar cada vez mais
alçando força normativa e, portanto, fazendo com que governos busquem meios de
fazer com que seus povos sejam mais felizes, lidamos com desafios mais sutis.
Lidamos com um mundo imerso em redes sociais. Que, por sua vez, estão repletas
de algoritmos que prendem a nossa atenção, tempo e energia, tomando-nos
submersos em universo mensurável por likes e compartilhamentos.
Ainda
assim, conforme alertado por Nietzsche, o homem moderno está fadado a amar o
trabalho desenfreado e, assim, acaba esquecendo sua personalidade.
Infelizmente, o arquétipo de sucesso do ser humano do Século XXI ainda é o
workholic. Apaixonado pelo trabalho, cultuando frases de efeito tais como
“treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem (...)” e mais
uma série de verbos que nos obrigam a deixar atividades prazerosas em prol de
um sonho de “sucesso”.
Na
busca por uma sociedade superpositiva, nos tornamos a sociedade do cansaço,
conforme alertado pelo filósofo coreano Byung Chul-Han. Obrigados a sorrir o tempo inteiro,
trabalhar muito, estudar muito e ter uma vida superdesenvolvida ainda superjovens, praticamos uma insinceridade programada, não por nós, mas por um modelo
de consumo que há muito tempo deveria ter sido questionado. Não somos robôs.
Somos humanos.
E
é por humanidade que advogo pelo retorno a um direito fundamental: o direito de se sentir o que se sente. Na contramão da ditadura da felicidade, imposta pelas
redes sociais e pelo arquétipo de sucesso do Século XXI, que possamos desfrutar
do direito de chorar, estarmos indignados ou mesmo silentes. Que tenhamos o
direito de sermos humanos em ações e emoções. Que cada ser humano tenha o real
e sincero direito de sentir o que sente.
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