quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

ARTIGO - Guerras na Ciência (RMR)

 GUERRAS NA CIÊNCIA
Rui Martinho Rodrigues*

 

Há quem fale em nome da ciência como um conhecimento pacífico. É argumento de autoridade usado até por quem defende o perspectivismo e o relativismo. O professor Paulo Elpídio de Menezes aludiu ironicamente a uma descolonização de Pitágoras (570/571 a. C. – 500/490 a. C), a propósito do movimento de descolonização dos saberes, até da Matemática. O pensador grego é um nome que contrasta a relativização, pela via do engajamento, de um conhecimento consistente e universalista. 

A ciência nunca foi inteiramente unívoca e indubitável. A última corrente que validava prova como certificado inquestionável do conhecimento foi o neopositivismo, positivismo lógico ou empirismo lógico do círculo de Viena, coordenado por Moritz Schlick (1882 – 1936), ex-aluno de Max Karl Ernest Planck (1858 – 1947), entre 1922 e 1936, que influenciou a Filosofia da Ciência. Teve o verificacionismo como eixo de suas cogitações. Foi refutado por Karl Raymond Popper, o coveiro do neopositivismo. 

Popper não rompeu com o racionalismo. Ressaltou que verificações são tentativas de falsear uma tese. Caso consigam destruí-la temos uma prova negativa, única modalidade segura de verificação. Basta que uma teoria fracasse uma vez para que perca credibilidade. Caso sobreviva ao falseamento a tese será válida provisoriamente, até que outra verificação a destrua. A ciência, em quase tudo, não tem conhecimento definitivo e pacífico. 

Existem alguns conhecimentos pacíficos e universais. A proposição segundo a qual sendo A>B; e B>C, então A>C é universal, indubitável e atemporal. Teorias são diferentes de constatações. Saberes concernentes a objetos materiais ensejam conhecimentos diversos dos pertinentes a objetos abstratos. Com a distinção entre conhecimento sensível e suprassensível (Platão, 428 a.C – 347 a.C.) já reconhecia diferenças de consistência entre saberes. Não é preciso invocar ciência, Filosofia, senso comum, ideologia e Teologia. Estamos tratando apenas de ciência. Distinguir ciências da natureza daquelas havidas como ciências da cultura, sociais, humanas ou históricas é imprescindível. As primeiras podem repetir o esforço de falseamento (teste ou verificação). As últimas não podem fazer o mesmo. Não é possível repetir a Revolução Francesa ou a hiperinflação brasileira para avaliar teorias sobre elas. 

A discussão sobre a “descolonização” das ciências guarda relação com o debate sobre neutralidade axiológica. Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920) separou juízo de valor de juízo de realidade, de fato ou de existência. O primeiro diz respeito ao objeto cognoscente ser categorizado como bem ou mal, belo ou feio. O segundo diz respeito a existência de fato do objeto referido. 

Guerras não são novidade na comunidade científica. Galileu Galilei (1564 – 1642) protagonizou a mais famosa delas, com os colegas da Universidade de Florença, um dos quais logo se tornaria papa. Louis Pasteur (1822 – 1895), com a Teoria Microbiana, travou uma guerra com a Teoria dos Miasmas. Max Planck, com a Teoria Quântica, enfrentou os mais renomados físicos. Até Albert Einstein (1879 – 1955) resistiu a Teoria de Planck. Quando não tinha mais argumento alegou que Deus não joga dados. 

Invocar a ciência pode ser desonestidade intelectual ou ingenuidade, tentativa de legitimar o que não tem legitimidade; de imputar ignorância ou preconceito desqualificando o outro. Argumento de autoridade afasta o exame crítico. Quem se posta genuflexo diante da autoridade renuncia ao exercício das próprias razões. Pode ser um ato de humildade consciente. Quando sugerido por outro, porém, é impostura. Invocar aspectos da ciência incompreensíveis para o grande público, em nome de uma suposta ciência monolítica é falso. Filósofos que invocaram a ciência foram flagrados pelo físico Jean Bricmont (1952) e pelo matemático Alan Sokal (1955 – vivo) cometendo graves erros sobre o que diz a comunidade científica. Alegaram que faziam uso apenas metafórico da ciência. Mas não faz sentido tal uso afirmando coisas que a ciência não diz; nem usar os tropos da linguagem citando algo mais hermético para explicar o que é mais simples. 

Invocar aspectos da ciência desconhecidos do grande público, legitimando proposições polêmicas, lembra o conhecimento do homem que falava javanês, conto de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881 – 1922). O físico e o matemático citados lembram a chegada do marinheiro javanês na cidade. Os filósofos, porém, não se esconderam envergonhados. Defenderam-se alegando uso figurado do idioma que ninguém conhecia. 

Pandemia e problemas econômicos são alguns dos campos nos quais o uso indevido da cientificidade é praticado. O discurso ideológico se apresenta como ciência. O engajamento político das universidades e o ativismo da imprensa confundem o público quanto ao que seja ciência. O STF, cujos ministros agem como déspotas esclarecidos, promovem uma mudança cultural forçada e a apologia de concepções ideológicas como se fossem saber superior e virtude ética.

 

COMENTÁRIO 

Tenho muito receio com as variáveis que incutem os próximos anos, olhando sua análise frente ao engajamento político e aos atuais ativismos. Nossas Universidades precisam serem mais efetivas para que nossa sociedade consiga desenvolver hábitos de discernimento junto a cientificidade. Grato pela exposição, professor Rui, concordo com absolutamente tudo, principalmente no que diz respeito à prática da ciência para gerar polêmicas. 

Prof. Cadorno Teles


CRONICA - A Última Curva (AF)

A ÚLTIMA CURVA
Altino Farias*


Última curva de 2020. Depois dela, somente uma pequena e rápida reta para a linha de chegada: 2021! 

Com a pista emborrachada por essa pandemia louca e pelo descaso dos políticos, o risco de derrapagem é grande, por isso, cuidado! 

Os motores estão por demais desgastados, afinal, quase 365 dias em alta rotação, com os noticiários diários a infernizar nossas vidas, quem é que aguentaria mais que isso? E quando pensamos que está tudo bem, ameaça de novas chuvas e trovoadas, mudando toda a lógica da corrida. 

Braços e pernas estão dormentes e a concentração começa a escapar do controle, mas falta só esta curva e aquela pequena reta... Tem que dá! 

Estamos com um pé em dezembro: curva fechada, atenção e perícia. Depois vem aquela última acelerada e fim. Agora nos atrevemos a dar uma olhada em volta e, principalmente, no retrovisor. O que ficou para trás nesse momento é destaque. Logo estaremos prontos para um pequeno balanço do que saiu legal ou nem tanto e já começar a planejar a estratégia para vencer na próxima temporada. 

Saímos da última curva e entramos na pequena reta final de 2020. O tempo passa acelerado. O que está feito, está feito, em que lugar estamos não interessa mais, o importante é chegar, apenas.

Alguns bons companheiros e entes queridos não conseguiram estar ao nosso lado agora e, com certeza, assistem-nos da arquibancada, e torcem por nós... E nós por eles. 

O Brasil, ah, o Brasil! Vem devagar, lá trás. O projeto atual é ruim. Muitos problemas desde a primeira curva do ano. Muitas opiniões, muito barulho, nenhuma solução à vista. Talvez ano que vem tudo seja melhor, talvez. 

Parentes, amigos e amores nos aguardam na linha de chegada, e nós aguardamos, também, a chegada deles próprios, cada um com sua corrida. Champanhe! 

Fim de prova. Após breve parada para respirar fundo e pensar no que vivemos, uma nova aventura nos espera: 2021, mais uma corrida da vida! 

(Altino Farias, em dezembro 2020)

ARTIGOS - O Declínio dos Estados Nacionais (RMR)

 O DECLÍNIO DOS
ESTADOS NACIONAIS
Rui Martinho Rodrigues*

 

 

Organizações e tratados ou convenções internacionais exercem uma crescente influência na regulamentação das sociedades, tutelando os estados nacionais. A ONU, com os seus institutos como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a Unesco (Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), é exemplo do controle aludido. Até os uniformes das polícias, em diversos países, começam a seguir um modelo sugerido pela ONU. São “apenas” sugestões? Pode ser. Mas exercem uma pressão política e reforçam certas tendências na competição interna entre líderes, partidos e correntes políticas.

Pascal Bernardin, na obra “Maquiavel pedagogo ou mistério da revolução psicológica”, mostra com farta documentação, a orientação dada pela ONU, UNESCO, Parlamento Europeu e Ministério da Educação da França no sentido de retirar o foco do ensino, nas escolas, dos aspectos concernentes ao desenvolvimento cognitivo para os fatores emocionais, mediante procedimentos e técnicas que nada mais são do que manipulação psicológica.

Assim, valores tradicionais, identidades nacionais e raciocínio crítico são substituídos por um cosmopolitismo internacionalista, uma axiologia relativista e uma aceitação emocional de apelos aos sentimentos mais nobres como forma de substituição das limitações da convivência social, conforme a velha e enganosa promessa de emancipação. O objetivo seria afastar o “O mal-estar na civilização”, de que falava Sigmund Schlomo Freud (1856 – 1939) e superar conflitos e desigualdades, não pela via do “esclarecimento” prometido pelo Iluminismo, mas pela revolução psicológica. Os novos déspotas esclarecidos desiludiram-se da “conscientização” pelo desenvolvimento cognitivo. A manipulação em massa, forçando uma mudança cultural, promovendo a plasticidade das consciências na sociedade descrita por Zygmunt Bauman (1925 – 2017) como “sociedade líquida”, a despeito toda a instabilidade, imprevisibilidade e anomia que possa resultar daí. 

Os tratados e convenções também representam, até mais claramente, uma forma de tutela. O TPI (Tribunal Penal Internacional) e, no âmbito da América Latina, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos – ou Pacto de São José da Costa Rica – são exemplos de regulamentação a que os estados nacionais estão ficando subordinados. Pode-se objetar que a adesão a tais acordos é um ato soberano de cada Estado. É significativo, todavia, que os EUA e o Canadá – somente estes dois países das Américas – não são signatários da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, o que sugere um sentido de tutela sobre os subdesenvolvidos. Os mais desenvolvidos dizem não à ingerência nos seus assuntos internos. 

O TPI prendeu, julgou, condenou e prendeu líderes e comandantes responsáveis por crimes de guerra ou contra a humanidade. Todos, porém, originários de países econômica e militarmente fracos. A violência contra tibetanos e iugures, por parte da China; contra curdos na Turquia; ou o bombardeio de populações civis na Chechênia, por parte da Rússia, são ignorados pelo TPI, assim como o patrocínio de terrorismo pelo Irã e o Paquistão ou os bombardeios americanos no Iraque e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Sérvia e na Líbia. A tutela “do bem” é seletiva. O Poder militar (ai dos fracos! Si vis pacem, parabellum) e a importância econômica são suas balizas. A semelhança com o neocolonialismo não é coincidência. 

O pretexto já não é “o fardo do homem branco” (obra de Joseph Ruyard Kipling, 1865 – 1936), apresentado como a missão histórica de civilizar os povos selvagens. A “nobre missão civilizadora” foi exercida com enorme violência contra povos mais civilizados que os europeus da mesma época, como incas e chineses, sempre satisfazendo interesses econômicos e geopolíticos dos “civilizadores”. Agora o pretexto é a defesa dos direitos humanos e a salvação do planeta! 

Historicamente as grandes torpezas foram feitas em nome dos mais altos valores morais. Coincidindo sempre com interesses eleitorais, econômicos e geopolíticos. O “coincidentismo” é mais improvável do que o “conspiracionismo”. Os invasores portugueses derrotaram os índios aliando-se a alguns deles contra outros. A “tutela do bem” (neocolonialismo) mais uma vez encontra apoio nas divisões internas das nações vulneráveis. 

A história se repetindo. Os motivos nobres são em parte verdadeiros. Os sofismas mais perigosos são aqueles que manipulam verdades. Crimes de guerra, violência contra grupos étnicos e destruição da natureza não precisam ser inventados, mas podem ocultar propósitos inconfessáveis. Exercem fascínio sobre aqueles que tanto exploram o nacionalismo como defendem a tutela internacional, conforme sirva aos seus objetivos políticos. Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) dizia: não é importante ter virtude, mas aparentar virtude. 

O fortalecimento de poderes supranacionais, que além dos organismos e convenções citados incluem empresas poderosas, principalmente da área das novas tecnologias, ameaçam claramente a soberania dos estados nacionais e a democracia. Usam pretextos para legitimar controles. Um governo mundial tornou-se uma possibilidade real. Depende apenas da formação de um condomínio de três ou quatro centros de poder, partindo de um entendimento semelhante ao dos acordos de Westfalia de 1648, do Congresso de Viena de 1815 ou Postdam de 1945, nos quais os fortes repartiram entre si, parcial ou totalmente, o mundo. Acordos desta natureza necessariamente são impostos de modo ditatorial. 

Criminalidade, terrorismo, guerras, defesa do planeta e vitimização de grupos identitários formam um conjunto de grande apelo em prol de mais controles, com o sacrifício das liberdades individuais e da soberania dos estados nacionais. A discussão sobre o perigo das armas nucleares poderá estimular um grande acordo entre os fortes, embora, a exemplo dos acordos citados, depois de algum tempo possa sobrevir uma grande guerra, um governo mundial tirânico, formado por um condomínio de potências neocoloniais tem se tornado uma ameaça verossímil.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

RETROSPECTIVA - Ano Atípico (RV)

 ANO ATÍPICO
Reginaldo Vasconcelos* 

 

Chegamos ao fim deste malfadado vinte-vinte. Não pudemos nós da ACLJ nos reunir fisicamente, e não realizamos as Assembleias Gerais, Extraordinárias e Ordinárias.






Ficamos privados das nossas solenidades elegantes no Palácio da Luz, com direito à Banda de Música do Exército executando os nossos hinos, ao toque do trompete triunfal, ao brinde final com vinho do Porto, antes do lauto coquetel. 

Mas precisamos cumprir as tradições mais jornalísticas deste Blog, que elege a palavra do ano e distingue quem mais se tenha destacado no Estado no período anomalístico. 

AS PALAVRAS DO ANO 

A escolha da palavra do ano foi iniciada pelo Dicionário de Oxford, da famosa Universidade da Inglaterra, visando indicar o termo mais utilizado em todas as mídias do Planeta, muitas vezes um neologismo em inglês, outras vezes uma velha expressão, em novo significado e acepção. 

Depois, outras entidades adotaram a mesma prática, como, por exemplo, o Dicionário da Harper Collins da Escócia, que elegeu “lockdown” como palavra do ano deste  2020. 

Mas Oxford resolveu não promover desta vez a pesquisa lexical que inaugurou, em face da profusão de termos que se relacionam à pandemia, todos martelados exaustivamente pela imprensa e pela Web. 

De nossa parte, pelo mesmo motivo, a principio também tivemos dificuldade em distinguir um único termo que se tenha articulado no Brasil mais do que outros, tantos deles em torno da tragédia sanitária que atingiu todo o Planeta. 

Mas, por fim, a ACLJ decidiu destacar a própria palavra “PANDEMIA” como a mais veiculada, e ainda inovar, indicando também o vocábulo “RESILIÊNCIA” como aquele que traduz o sentimento mais demandado pela Humanidade no período de isolamento social.

OS DESTAQUES CEARENSES 

Também se decidiu que não seria lisonjeiro relacionar diretamente o mérito de alguém ao ano canhestro e aziago que vivemos, um registro histórico que só caberia a alguém que tivesse cumprido a tarefa sobre-humana de reverter a mortandade. 

Então desmembramos o título único de “Cearense do Ano” em três Destaques Cearenses, um deles do meio empresarial, outro do Terceiro Setor, e um terceiro que simbolize os tantos heróis da área de saúde que permanecem na linha de frente dos cuidados médicos com os doentes. 

Os títulos já foram formalmente outorgados e serão fisicamente entregues em solenidade marcada para a noite do próximo dia 05, primeira terça-feira de janeiro e do novo ano, no BS Design, obedecidos os protocolos sanitários  ditados pelo Ministério da Saúde do Governo Federal. 

EMPREENDODORISMO 

Alexandre Castelo Sales, empresário de ramo de alimentos e do agronegócio, se destacou pela ousadia de pesquisar mundo a fora variedades de trigo em climas semelhantes ao do Nordeste Brasileiro, e investir no plantio do grão ancestralmente domesticado pelo homem, na Chapada do Apodi, atingindo elevada qualidade e produtividade surpreendentes na colheita.

Por esse mérito empresarial, de cunho corajoso e inovador, pelo seu ineditismo, pelos benefícios que essa nova cultura trará à economia do Estado, Alexandre Sales (nome proposto pelo acadêmico Marcos André Borges), é o primeiro Destaque Cearense a ser distinguido pela ACLJ, que lhe outorgará o “Troféu Empreendedores Brasileiros”.

Em saudáveis parcerias com outras entidades, publicas e privadas, ligadas aos setores agrícolas, da indústria e do comércio, a empresa familiar que Alexandre Sales preside – Santa Lúcia Alimentos – está lançando farinhas especiais, massas e até cervejas produzidas com o trigo cearense pioneiro, sob a marca comercial “Puríssima”.

 

BENEMERÊNCIA 

O segundo Destaque Cearense desta edição é o também empresário Igor Queiroz Barroso, por ter tido ele a inspirada iniciativa de fundar o Instituto Myra Eliane, entidade dotada com o nome de sua saudosa mãe, voltada à cultura e ao ensino, que mesmo durante a pandemia não arrefeceu o ânimo na manutenção de atividades em prol da educação infantil, em parceria virtuosa com o Ministério Público Estadual.

Igor, que foi proposto ao títulos pelo confrade Sávio Queiroz Costa, é recipiendário do “Troféu Benemerência Brasileira”, que lhe será conferido por esta ACLJ, confraria de que é integrante como Membro Benemérito, exercendo ele o mecenato no patrocínio de obras históricas como a reedição do livro “O Cearense” de seu avô Parsifal, e a biografia de sua avó, Olga Barroso, bem como de publicações léxicas e literárias editadas pela nossa Academia. 

ANJO DE ESMERALDA


Será destacado ainda o médico Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o popular Dr. Cabeto, profissional de notórios méritos, pessoa queridíssima pela sociedade cearense, Membro Efetivo Titular da ACLJ, Secretário da Saúde do Governo do Estado.

Pelos esforços desprendidos por ele no combate à pandemia da Covid-19 – virose pandêmica que ele próprio contraiu e de que convalesceu até a cura, sem interromper o seu trabalho à frente da Secretaria da Saúde – Dr. Cabeto teve o nome proposto pelo empresário Beto Studart para receber da ACLJ o “Troféu Prasinus Angelos”. 

O nome latino da láurea remete à angelical atividade de salvar vidas, que é inerente aos súditos de Hipócrates, os quais se identificam pela cor verde da esmeralda engastada em seu tradicional anel de grau.

PROSPECTIVA

Já em sede de prospectiva para o próximo ano se prevê a Assembleia Geral Aniversária comemorativa dos dez anos de existência da ACLJ, no dia 04 de maio, no auditório principal do Palácio da Luz – caso as condições sanitárias do País já estejam então normalizadas, como se espera – reunião a partir da qual se procederão as alterações relativas ao II Census ad Lustrum da nossa entidade, que adentrará uma nova fase, com nova denominação e novas metas.

Na oportunidade, resgatando pauta da agenda deste ano, será outorgada a Medalha Benemérito Ivens Dias Branco, por honra ao mérito de três jornalistas cearenses de notório valor, quais sejam os veteranos Antônio da Frota Neto e Narcélio Sobreira Limaverde, e o jovem e abnegado Francisco Edilson de Araújo, que por muitos anos prestou assessoria de imprensa ao paraninfo da Medalha, o nosso saudoso "Seu Ivens", tendo sido o elo de ligação entre a ACLJ e a família Dias Branco.

               

POEMA - "Pleonasmo Redundante" (VM)

 “PLEONASMO REDUNDANTE”
Vianney Mesquita*

 

 

Mal começamos a falar, começamos a errar. [GOETHE].

 

Cai-me, descendo, pranto liquescido,
Qual saliva bucal gelatinosa,
D‘olhos da face em sofrer padecido,
Sob debaixo de dor dolorosa.
 
Genuflecti com o joelho torcido,
A Deus deiforme, em prece querençosa,
Pedi que exclua de um mártir sofrido
Pena e castigo, emenda molestosa.

 
Burro muar e búfalo bovídeo
Sou parvo e néscio e estúpido sem halo,
Lobo canino e gafanhoto acrídeo.
 
E desse jeito, assim, num ágil embalo,
Modelo [é] um carrapato aracnídeo,
Ginete equestre montado a cavalo.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

POEMA - Natal (VA)

NATAL
Vicente Alencar*
 

Quando a estrela de Belém apareceu
Belchior, Baltasar e Gaspar os reis Magos
foram ao encontro do Deus Menino, o novo Rei.

E foram para agradecer àquele que nascera
em Jerusalém, na Judéia, divina presença
no nosso mundo para salvação da Humanidade.
De nada valeram as perseguições de Herodes
ao Deus Menino.

 

Ao entregar o ouro, o incenso e a mirra,
rejubilados pela fé Cristã,
abriram uma nova e brilhante celebração,
ou seja, a troca de presentes.
 

E assim, desde aquele distante ano,
as pessoas se confraternizam, se encontram,
trocam presentes, que, na verdade,
se constituem a comemoração do nascimento
do Deus Menino até o dia 6 de Janeiro.

Que a realeza do ouro, a fé que contem o incenso
e as resinas curadoras da mirra
nos tragam, durante todo o sempre,
a felicidade que necessitamos.

 

CRÔNICA DE NATAL - A Mesa (RV)

 A MESA
(Uma Crônica de Natal)

 

O melhor “conto de Natal” que conheço é aquele em que o jovem marido vende a sua única gravata, de seda italiana, para comprar um broche de ouro – enfeite para os longos cabelos da mulher, na noite de Natal. 

Mas quando a vai presentear ela vendera as madeixas douradas para agraciar o marido com um áureo broche de gravata.

Sem poder competir com esse conto delicado, faço uma crônica de Natal com o fato angustiante de que a histórica mesa de mármore-rosa da Tenda Árabe, em torno da qual nasceu a ACLJ, não suportou a prolongada ausência de seus ilustres ocupantes das terças-feiras e tentou o suicídio.

A seção curva da mesa ruiu e se quebrou  e a jazida goiana daquele mármore já se exauriu há muitos anos, sendo impossível adquirir uma nova pedra para fazer a reposição.

A única solução era tentar restaurá-la, tentativa para a qual todos os especialistas cobravam caro, não garantiam conseguir bom resultado, muito menos concluir o trabalho ainda este ano. 

Porém apareceram alguns anjos que se empenharam em enfrentar o desafio, notadamente um tal “Francisco” (que não se perca pelo nome).

Depois de um longo expediente de trabalho ele invadiu a madrugada de hoje bolando pelo chão com suas poções mágicas e suas máquinas milagrosas, até a obtenção do resultado desejado e não garantido pela marmoraria em que trabalha.

Os agradecimentos especiais vão para os confrades Adriano Jorge, Arnaldo Santos e Altino Farias, que se juntaram a nós nessa empreitada. 

Feliz Natal a todos. 

Dezembro de 2020


COMENTÁRIO 

“O cronista é aquele que encontra mel sob o vespeiro do cotidiano”. Dentro dessa definição lírica daqueles que comentam a vida em prosa poética, muitas vezes eles aceitam algumas ferroadas do destino em troca de um bom pote de doçura literária. 

Assim, alguns pequenos infaustos que os atingem são afinal abençoados, quando rendam uma bela história. Lembro que Moreira Campos, grande contista cearense, bendisse um entrevero que ele teve com uma senhora no interior de um elevador, porque dali saiu a inspiração para um novo conto. 

Também me vem à memória o compositor Luiz Gonzaga, que, em uma entrevista na TV, louvou um  certo acidente de automóvel que sofreu, porque, a propósito desse sinistro, ele escreveu uma nova canção (Viva o Rei), que alcançou grande sucesso e lhe rendeu lucros superiores ao prejuízo que sofrera: “Luiz Gonzaga não morreu / Nem a sanfona dele desapareceu / O automóvel na estrada se quebrou / O zabumba se amassou / Mas o Gonzaga não morreu”. 

Reginaldo Vasconcelos


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (22.12.2020)

  SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(22.12.2020)

   

A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promovia, nas noites de terça-feira, na casa de bebidas finas Embaixada da Cachaça, um poetry slam, consistente em um pequeno sarau de poesias, prosa poética e performances musicais acústicas ao vivo, segundo uma prática que começou nos EUA e se difundiu pelo Planeta.


   
Mas essa rotina cultural saudável foi interrompida pela pandemia de Covid-19, e então o grupo de habitués passou a se reunir virtualmente nas noites de terça-feira, em que acadêmicos, artistas, intelectuais e poetas em geral, frequentadores daquele reduto boêmio e cultural, matam a saudade e mitigam a carência de convívio, mantendo em atividade a ACLJ, apesar do isolamento social obrigatório.




PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual desta terça-feira, que teve duração de 90 minutos, 10 participantes. Compareceram o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Bibliófilo José Augusto Bezerra, o Professor Rui Martinho Rodrigues, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel.

Também estiveram no grupo virtual o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel, o Poeta Paulo Ximenes, o Engenheiro Altino Farias, o Advogado Sionista Adriano Vasconcelos e o Jornalista e Sociólogo Arnaldo Santos. 


TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos propondo discussão sobre os três troféus que a ACLJ outorgará neste dezembro, que distinguirão três personalidades cearenses que se destacaram durante este ano de 2020.

Debateu-se sobre os nomes propostos, examinaram-se os méritos dos recipiendários das láureas, bem como definiu-se os nomes dos troféus que cada uma receberá.

Ficou definido que será agraciado com o Troféu Empreendedores Brasileiros o empresário Alexandre Sales, da Santa Lúcia Alimentos, pela sua vitoriosa ousadia de investir na cultura do trigo no Ceará, obtendo grande produtividade  – proposto por Marcos André Borges; o Troféu Benemerência Brasileira ao empresário Igor Queiroz Barroso, pela iniciativa exitosa de criar o Instituto Myra Eliane, que continuou com profícua atividade beneficente durante a pandemia – proposto por Sávio Queiroz Costa; e o Troféu Prasinus Angelos (Anjos de Esmeralda) o médico Cabeto Martins Rodrigues, pela sua dedicação à causa da superação da pandemia da Covid-19, à frente da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – proposto por Beto Studart.   

Por fim, discutiu-se sobre se a solenidade de outorga das láureas será virtual ou presencial, tendo-se definido a data de 29 de dezembro, optando-se por uma forma mista, com uma reunião com mínima presença física de participantes, dentro dos mais rigorosos preceitos do protocolo sanitário recomendado  e com a presença virtual do corpo acadêmico da ACLJ em telão.   

ASSUNTOS ABORDADOS 

Esgotados os temas administrativos e sociais, Paulo Ximenes anunciou já está no prelo o seu livro de poemas intitulado "Doce Mar Selvagem", um "primor lírico", nas palavras do confrade Reginaldo Vasconcelos, que fez a revisão da obra. 

Comentou-se também o empenho do Bibliófilo José Augusto Bezerra em obter para a sua biblioteca um exemplar da obra "Siará Grande  Uma Província Portuguesa no Nordeste Oriental do Brasil", em seus quatro volumes, um trabalho monumental sobre a genealogia cearense, do pesquisador Araújo Lima, recentemente lançado, mas cuja edição já se encontra esgotada. 

Requerida por Reginaldo Vasconcelos e pela Promotora de Justiça Eliza Rebouças, interessada no tema das origens familiares no Estado, ambos ficaram frustrados por não obterem a obra, porém o confrade José Augusto disponibilizou o seu exemplar para que ele fosse compulsado pelos dois estudiosos.  

 
DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada nesta terça-feira, dia 22 de dezembro, foi dedicada aos três agraciados neste ano como destaques cearenses, nas áreas de atuação em que sobressaíram no período, os empresários Igor Queiroz Barroso e Alexandre Sales, e o médico Cabeto Martins Rodrigues, Secretário da Saúde do Governo do Estado.