terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CRÔNICA


O Mapa de Suco


Um descuido, copo tombado, suco derramado sobre a toalha da mesa. A mancha que se formou lembrou-lhe o mapa de um lugar qualquer. De imediato veio-lhe à lembrança aulas de geografia do ginásio, quando tinha que decorar informações de países e estados brasileiros: área, população, densidade demográfica, atividade econômica.

O suco, espesso e de um amarelo denso, quase avermelhado, lembrou-lhe também épocas de férias, quando, ainda menino, passava temporada na casa de uma tia. Na hora do almoço, Lúcia, a empregada de anos, trazia uma jarra de suco de manga à mesa. Manga espada, tirada diretamente do pé, que ficava no quintal da grande casa.

Lúcia fazia o suco cedo e colocava-o numa jarra no congelador da geladeira. Ao servi-lo, pedaços congelados davam-lhe um sabor especial. Coisa de carinho, misturado com natureza e alimentação saudável, tão difíceis nos dias de hoje.

“Corre, corre, pega o pano de prato!”, lembrou-se de tempos atrás, na casa da mesma tia, quando também tombou um copo sem querer. “Desastrado!”, pensou de si mesmo naquele momento, sentindo-se cheio de culpa pelo transtorno causado.

Hoje, em seu próprio recanto, olhou o suco se espalhar em forma de mapa até ser consumido pela toalha, transformando-se num simples borrão. Depois, calmamente enxugou tudo, sentou novamente e apenas lamentou não haver mais uma gota sequer na jarra. Então, abriu uma cerveja e continuou pensando naquela outra época, na época da inocência, época de mangueiras e quintais. E, qual criança, em como seria bom viver naquele lugar imaginário do mapa de suco.


Pedro Altino Farias, em 03/12/2012

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