sexta-feira, 30 de março de 2012

O RATTO E O QUEIJO DE CEM CONTOS Crônica


Tratam-se carinhosamente por Rattos: Ratto Pai, Ratta Mãe, Ratta Filha e Ratto Filho. Rattinho e Rattinha são diminutivos inevitáveis. É assim porque fazem ratices como, por exemplo, abrir parcialmente potes de requeijão sem retirar completamente o lacre, deixar farelos de pão na mesa, ou comer o último pedaço de pudim e guardar a forma vazia na geladeira como se ainda contivesse alguma coisa. Além de todos gostarem de queijos, claro. O “T” dobrado é para diferenciar dos roedores comuns.

Pois bem, naquele dia, Ratto Pai foi ao centro da cidade desbloquear o cartão magnético de sua conta bancária, que, de uma hora para outra, negava-se a realizar saques e depósitos. Restabelecidas a funções do cartão, fez uma retirada de cem reais para atestar que estava tudo certo. A operação foi realizada com sucesso! Na sequencia, aproveitou a viagem e passou num tradicional comércio especializado em queijos da terra, onde comprou uma peça de quilo e meio de coalho, pagando a despesa com a nota de cem, que pouco tempo passou no bolso de sua camisa.

Chegando em casa à noite, fez um balanço dos gastos do dia, dando por falta de certa quantia. Refez as contas, fez de novo. O saldo não fechava com o que deveria ser. Depois de muito pelejar com a calculadora, percebeu que lhe faltava o troco do queijo, algo em torno de setenta e cinco reais. Primeiro ficou chateado com o prejuízo, mas, depois, resolveu curtir a situação.

Assim, quando a Ratta Mãe chegou do trabalho, deparou-se com uma cena inusitada: o Ratto Pai estava sentado solenemente à cabeceira da mesa da sala de jantar, com uma garrafa da melhor cachaça posta à sua frente. Acompanhavam dois pequenos cálices de cristal, talheres finos, azeite de boa qualidade, prato de porcelana onde repousavam cubinhos de queijo e guardanapos de linho. Tudo isso sobre uma delicada toalha e com uma música suave ao fundo.

“Mas quediabeisso, Rattinho?”, quis saber a esposa, curiosa e já rindo da marmota. “Mulher, é precioso muita pompa e circunstância para degustar um queijo coalho de cem contos!”, respondeu ele, explicando em seguida, tim-tim por tim-tim, o que ocorrera naquele dia. Como havia um segundo lugar posto à mesa, ela resolveu lhe fazer companhia naquela ratice, e saborear, também, o tal “queijo de cem contos”. Dizem que estava uma delícia!




Por Altino Farias

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