quinta-feira, 29 de março de 2012

HOTEL SEIS ESTRELAS – Crônica

Viajar sempre fez a alegria dos meus dias. Em férias pelas ruas do Aracati, ou nos sítios de Tururu, minha infância foi um prazer só. Adolescente, contava os dias para a chegada  do carnaval em Salvador ou da partida do trem rumo à exposição do Crato.

As viagens, no entanto, mudam de significado com o avançar da idade. Quando adulto, o que antes era pura aventura, agora  significa aprendizado. O grande barato fica por conta do ineditismo do lugar visitado. Sua música, gastronomia, história e, enfim, a sua gente.
 
Mas, curioso mesmo é o viajar dos idosos. Com a experiência que acumularam na vida, juntam numa combinação sábia a aventura e o conhecimento a um novo fator agora marcante: a hospedagem. De detalhe do passado, o hotel passa a ser essencial nos planos de viagem da chamada terceira idade.

Talvez por não ter atingido a idade do saber dos idosos, ou, quem sabe, por ainda considerar que o hotel se faz necessário apenas para guardar os pertences, não trago na lembrança os lugares em que me hospedei. Mas como a exceção é que faz a regra, lembro de  um hotel sim-senhor!

Certa vez, chegamos boquinha da noite – eu e amigos de imprensa – no longínquo “reino” do Dr. Eunício Oliveira, Lavras da Mangabeira, para observarmos uma reunião política.

Não tínhamos onde ficar. Procuramos abrigo de porta em porta, como se fossemos reis magos, sem estrela guia, perdidos nos sertões do Cariri. Lá pras tantas, uma santa alma nos acolheu. Fomos alojados nos fundos de seu estabelecimento, sob uma latada de maracujá e na vizinhança de um galo despertador e de suas companheiras.

Redes armadas e atadas a um mourão central do caramanchão, que permitia que a mexida de um se propagasse para os outros, nos deitamos para jogar conversa fora até sermos vencidos pela embriaguez do sono.

Fazia uma noite belíssima naquele verão sertanejo. A luz da lua passava por entre as ramagens do maracujazeiro; o céu era um salpicado de estrelas... Acordamos madrugadinha com o insistente bom dia do senhor galo.

De volta pra casa, o interrogatório de praxe:
- A viagem foi boa?
- Surpreendentemente ótima. Amor, você sabia que em Lavras da Mangabeira tem um hotel de pra mais de cinco estrelas? 

Por Dorian Sampaio Filho  

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