domingo, 22 de janeiro de 2012

VAZA LAMA NA TV

O jornalista Pedro Bial, apresentador do Big Brother brasileiro, da Rede Globo, em recente entrevista a Sérgio Groisman, na mesma emissora, afirmou que aprecia assistir a programas de TV de má qualidade, para melhor obter lições, ao que José Bonifácio Sobrinho, o Boni, que também estava presente, concluiu: “Então você assiste ao Big Brother!”. Como se sabe, o Big Brother é dirigido por seu filho mais velho, o Boninho.

Esse rasgo de franqueza, que ataca atual atração de TV que seu próprio filho dirige, na emissora que o próprio Boni comandou por tantos anos, causou espanto e repercutiu pela mídia a fora. Não se sabe se a expressão escapou de forma irrefletida ou se o grande ícone da televisão brasileira teve a intenção deliberada de expressar a sua crítica ao tal reality show, ainda que de forma bem-humorada.

O fato é que o programa partiu de uma idéia interessante, e que poderia ser de fato uma curiosa e instrutiva experiência sócio-antropológica, prestando-se a um exame sério das reações humanas em condições especiais de confinamento e convivência.

Mas a coisa se converteu na exploração grotesca da libido juvenil, com a exibição pública dos impulsos instintivos dos participantes, que são inclusive induzidos à embriaguês, e obrigados a compartilhar camas, para perderem a inibição e se entregarem a fornicações mal disfarçadas.

Assim, o sexo, que eventualmente perpassava, sob lençóis, as primeiras edições, foi se tornando o grande foco do programa, depois que emissoras concorrentes copiaram a fórmula, elevando exponencialmente a audiência por meio da pornografia e da perfídia, que eram constantemente estimuladas pelos produtores dos programas, os quais já selecionavam os participantes dentre as figuras mais polêmicas, mais irreverentes e mais lascivas do meio artístico brasileiro.

Agora se estabelece uma estranha polêmica nacional sobre se houve ou não estupro, em cena íntima que o próprio formato do programa propiciou, o país debruçado sobre a interpretação de movimentos corporais realizados na penumbra, embaixo de cobertores, para definir afinal se houve ou não penetração sexual de um participante em outro, os dois pressionados a declarar que o intercurso aconteceu, quando ambos negam se haver configurado o ato do coito.

Ora, a investigação policial e a punição penal do crime de estupro estão condicionadas ao interesse da vítima em processar o estuprador, porque a lei reconhece o direito do estuprado de proteger sua própria imagem, mantendo-a desvinculada do fato degradante. Mas a emissora de TV, ao produzir esse tipo de programa, e o Poder Público brasileiro, ao permitir a sua emissão, expuseram a vítima aos fatos, e agora a expõem ao constrangimento de vê-los divulgados em rede nacional.

O jovem envolvido, por seu turno, é lançado a execração pública, após carícias avançadas consentidas e compartilhadas, sob a presunção de que ele devesse se conter, caso a parceira adormecesse. Uma vez previsivelmente bêbado, obrigatoriamente na mesma cama com uma bela moça também providencialmente embriagada – tudo de acordo com o modelo do programa – tanto faz agora saber que nível de libidinagem aconteceu, muito menos se durante o ato a mulher cochilou ou entrou em êxtase.

Tudo se torna mais grave porque o rapaz em questão tem pele escura, o que inelutavelmente suscita suspeita de crime de racismo contra ele. De todo modo, ainda que não haja qualquer preconceito de cor no episódio, há inevitável prejuízo para a causa anti-racista no País. Os racistas de plantão ficam exultantes toda vez que um afro-descendente surge na mídia em situação desfavorável.

Se não tem cabimento discriminação contra brancos na tal da política de cotas nas universidades, que promove antagonismo racial entre compatriotas, acirrando antipatias étnicas no seio do povo, por outro lado é preciso ter presente que o showbis deve primar pela melhor imagem dos negros brasileiros, pois essa é a melhor forma de reverter arraigadas e absurdas intolerâncias sociais. Um magnífico exemplo de sincretismo étnico nos dá a apresentadora de TV Regina Casé, com o seu programa “Esquenta”, este sim um entretenimento sadio, de excelente qualidade.



Postado por Reginaldo Vasconcelos      

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