terça-feira, 28 de junho de 2016

CRÔNICA - Aula de Datilografia (TL)


AULA DE DATILOGRAFIA
Totonho Laprovitera*


asdfg asdfg asdfg asdfg... Era a primeira aula do curso de datilografia, para aprender a técnica de escrever à máquina, sem olhar para as teclas, e com velocidade.


Lembro bem, do professor nos orientando a manter os pulsos erguidos, ao invés de apoiá-los sobre a mesa, manter os cotovelos ao lado do corpo e levantar levemente as mãos sobre o teclado...

“O melhor jeito de datilografar é fitar os olhos no papel, para corrigir os erros na hora. Essa técnica é chamada de datilografia por toque. Nada de catar milho", repetia o magro professor, enquanto na cara ajeitava seus óculos fundo de garrafa.

Pois é, pratiquei datilografia em um curso que ficava na Avenida Dom Manuel, quase esquina com a Santos Dumont, em Fortaleza. Era meu colega de turma o danado menino Chiquinho Aragão, que, ao menor cochilo do professor, escondido, grelava os olhos no teclado e com seus dois ligeiros dedos, tacava o pau a preencher a folha para ser o primeiro a terminar a lição do dia, com mais de mil!






COMENTÁRIO:

O Curso Dom Manuel de datilografia a que o cronista se refere foi fundado, nos anos 40, por minha avó, que em seu diploma pessoal, obtido no Rio de Janeiro, exibido na parede do corredor em que alunos e máquinas se massacravam mutuamente, ela aparecia em foto de meio corpo, vestindo um modelo melindrosa, no auge da juventude, entre vinhetas vintage e assinaturas caligráficas dos seus professores cariocas.

Cursar datilografia era um imperativo para quem pretendesse ingressar em emprego público, fazer concurso, trabalhar em escritórios. Era mais importante do que seria hoje a desenvoltura em informática. Tanto assim que famílias emergentes promoviam festas, com pompa e circunstância, por ocasião da entrega do diploma de datilógrafo aos seus membros.

Eu mesmo, para ingressar em banco estatal, em 1976, além de apresentar o diploma como requisito da prova de títulos, tive que datilografar sob cronômetro, para demonstrar capacidade de produzir um determinado número de “toques” por segundo, com um grau de acerto razoável.

Estranhamente, a datilografia não era essencial a jornalistas, nem a escritores, nem a empresários, que esses aprendiam a teclar “catando milho”, com os dedos indicadores – porque o que escreviam lhes saía da cabeça. Funcionários públicos ou privados tinham que ser expertos, aptos a copiar documentos sem erro, sem olhar para o teclado, e com imensa rapidez.
                         
Reginaldo Vasconcelos


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