quinta-feira, 25 de abril de 2013

CRÔNICA


PROBLEMA


Varou a madrugada pensando naquele problema. Problemão, aliás. Evitou deitar-se na hora habitual. Esticou mais um pouco a leitura, até porque o sono não chegara. Encostou o livro, virou de lado e... Nada! Só aquele problema repercutindo incessantemente em sua cabeça como se levasse seguidas marteladas no crânio.

Dormiu por pura exaustão. Um sono leve e assustado. A cada susto o coração disparava, parecendo que entraria em colapso a qualquer momento. Minutos intermináveis até dormir novamente. O mesmo sono leve e assustado.

Acordou um trapo. Enfadado, cansado, com olheiras. E com o problema do mesmo tamanho que antes. Não conseguiu tomar café. Não cumprimentou o vizinho no elevador. Não se apressou no trânsito. Afinal, pressa para que? Queria somente que aquele dia passasse logo, os fatos se consumassem e pudesse, enfim, tirar aquele peso dos ombros.

Chegou a hora, o momento da verdade. O problema lhe foi exposto em toda a sua dimensão, com todos os nervos à mostra, todas as suas implicações e consequências. “Solução?”, perguntaram-lhe, dirigindo-lhe um olhar severo.

Avaliações diferentes resultam em conclusões diferentes. Às vezes somente na intensidade, mas diferentes. Soluções diferentes traduzem ângulos diferentes de ver uma situação.

O maior dos problemas é a morte, ou a forma que lidamos com ela. Se o convívio é “bom”, temos a solução de praticamente todos os outros problemas da vida. Todos infinitamente menores (se é que a morte é um problema). Pensando assim, conseguimos nos libertar de muitos males e aflições, mas é difícil, reconheçamos.

Expôs seu ponto de vista sobre a questão e a solução imaginada. Pensavam iguais! Surpresa e alívio! Concordância: sempre desejável, nem sempre possível.

Perdera a noite e, momentaneamente, a paz. Responsabilidade! Chegou até a desejar não estar mais no mundo dos vivos, mas logo em seguida percebeu ser esse um mau negócio, pelo menos por hora. Por fim, triunfou. Mas esse sucesso poderia ter sido menos dolorido. Para tanto, bastava-lhe um “fodam-se” no meio do caminho...
Por Altino Farias 
Cadeira nº 16 da ACLJ











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