PROBLEMA
Varou a
madrugada pensando naquele problema. Problemão, aliás. Evitou deitar-se na hora
habitual. Esticou mais um pouco a leitura, até porque o sono não chegara.
Encostou o livro, virou de lado e... Nada! Só aquele problema repercutindo
incessantemente em sua cabeça como se levasse seguidas marteladas no crânio.
Dormiu por
pura exaustão. Um sono leve e assustado. A cada susto o coração disparava,
parecendo que entraria em colapso a qualquer momento. Minutos intermináveis até
dormir novamente. O mesmo sono leve e assustado.
Acordou um
trapo. Enfadado, cansado, com olheiras. E com o problema do mesmo tamanho que
antes. Não conseguiu tomar café. Não cumprimentou o vizinho no elevador. Não se
apressou no trânsito. Afinal, pressa para que? Queria somente que aquele dia
passasse logo, os fatos se consumassem e pudesse, enfim, tirar aquele peso dos
ombros.
Chegou a
hora, o momento da verdade. O problema lhe foi exposto em toda a sua dimensão,
com todos os nervos à mostra, todas as suas implicações e consequências.
“Solução?”, perguntaram-lhe, dirigindo-lhe um olhar severo.
Avaliações
diferentes resultam em conclusões diferentes. Às vezes somente na intensidade,
mas diferentes. Soluções diferentes traduzem ângulos diferentes de ver uma
situação.
O maior dos
problemas é a morte, ou a forma que lidamos com ela. Se o convívio é “bom”,
temos a solução de praticamente todos os outros problemas da vida. Todos
infinitamente menores (se é que a morte é um problema). Pensando assim, conseguimos
nos libertar de muitos males e aflições, mas é difícil, reconheçamos.
Expôs seu
ponto de vista sobre a questão e a solução imaginada. Pensavam iguais! Surpresa
e alívio! Concordância: sempre desejável, nem sempre possível.
Perdera a
noite e, momentaneamente, a paz. Responsabilidade! Chegou até a desejar não
estar mais no mundo dos vivos, mas logo em seguida percebeu ser esse um mau
negócio, pelo menos por hora. Por fim, triunfou. Mas esse sucesso poderia ter
sido menos dolorido. Para tanto, bastava-lhe um “fodam-se” no meio do
caminho...
Por Altino Farias
Cadeira nº 16 da ACLJ
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