O
BURRO, O REI OU EU...
No
país “rabo de palha”, glorifica-se a desfaçatez; é um sentimento que se
generaliza ligado à gestão do “rouba, mas faz”, em que corruptos e corruptores
agem à solta, e o cidadão deixa de confiar nas suas instituições.
A
mídia denuncia escândalos de dar inveja a qualquer Dom Corleone da vida.
Abafa-se um escândalo, rebenta outro. A esperteza entroniza-se, trabalho e
dignidade vão para o brejo. Sem acanhamento, um senador sugeriu que os
candidatos derrotados fossem “recompensados” com a manutenção de afilhados
políticos nos cargos federais.
A
corrupção, a violência e a desagregação sociopolítica instauraram-se no país.
Queiramos ou não, tudo isso é gerado nas entranhas do governo quando oradores
profissionais da verborreia atraem irresistivelmente os incautos com ajudas
humilhantes - fontes da ociosidade que embotam a cidadania.
Com
essa estratégia, o sistema mantém a ignorância do povo que se contenta com “pão
e circo”. O nosso jurisconsulto maior, Rui Barbosa, a respeito dela, disse
tudo: “A chave misteriosa das desgraças que nos afligem é esta; e somente esta:
a Ignorância! Ela é a mãe da servilidade e da miséria”. E não é à toa que
Macunaíma se tornou “herói de nossa gente”.
Nesse
ritmo, a insolência retrata a conhecida fábula “O burro, o rei ou eu”: o
charlatão jurou fazer do burro um brilhante orador, mas só ao fim de dez anos;
a recompensa seria morar com todas as pompas no castelo do rei. Interpelado,
certa vez, por um amigo que achava isso uma insanidade, respondeu: “Ora, daqui
a 10 anos, o rei, o burro ou eu, um pelo menos há de morrer". Então,
indagou-lhe: “E se isso não acontecer?". O impostor redarguiu: “Fácil! Eu
cuido de matar o burro!”.
Eis
a nossa realidade. Fazedores de discursos, populistas, inspirados na própria
mentira, germinam promessas mirabolantes focadas no poder; assim, fazer do
Brasil um país sério é façanha igual à de fazer um burro falar.
Por
Paulo Maria de Aragão
Advogado
e Professor
Cadeira
de nº37 da ACLJ
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