COLECIONADORES
Pierre
Nadie*
Colecionadores há-os a rodo, e de estirpes inúmeras. Em minha infância e juventude, colecionava selos. Buscava um tal de “Olho-de-boi” e outros tantos, comuns e raros, nacionais e de outras paragens. Colecionador de selos e moedas, augurava-me eu.
Certo dia sofri uma agressão verbal, quando perambulava pelas empresas comerciais e bancárias da cidade, aonde recente chegara, à cata de emprego. É que me vestia, humildemente, porém, não sujo nem com roupas desbotadas e tinha barba renascendo adolescente, há cerca de alguns dias, por não ter “conseguido” dar-lhe um tratamento adequado.
Nada respondi. Minha reação foi deglutir aquela situação, porém, não a pude digerir, tão rapidamente, tampouco me apequenei no meu desiderato. Meu sonho caminhava comigo e nada me faria desistir. Uma indigestão seguiu-se a me inquietar, parece que havia feito um nó dentro de mim. E que nó!
Foi, então, que resolvi pôr minha barba de molho. Dei-me conta de que eu tinha necessidade de sobreviver e não de curtir mágoas, e não podia continuar a magoar-me, precisava assumir-me protagonista de minha vida. Não seria eu colecionador nem de dores, de agressões, nem de sonhos, os quais teimavam em sair de devaneios e de desejos.
Foi aí que mergulhei no universo de colecionadores. Por que deveria eu ficar colecionando mágoas e rancores? Não ganharia, por certo, medalhas de vencedor, senão dividendos, que me derrotariam e me deixariam à margem de “minha própria pessoa”.
quantos colecionadores enchem-se de museus inocentes e porões de imundície. Passam mais tempo de sua vida supliciando seus sonhos, seus ideais e tornam-se rabugentos a si mesmos e aos outros. Pessoas amargas em sua redoma de egoísmo, de ódio e de inveja. Por vezes, colecionam ainda “vinganças”, as quais se voltam para enriquecer a miséria do acervo de suas imundícies.
A pequenez de tais colecionadores de rabugices rumina negatividades de autoestima, riqueza de autossuficiência frustrada. Sua vida não tem afluentes de sucesso; intricado labirinto, povoado de minotauros, do qual nem mesmo Dédalo conseguiria escapar, é o que é. A vida dá-nos oportunidades. Cabe a cada um dar retorno à vida, que é sua, dar-lhe oportunidade de realizar os seus sonhos.
Derrotas não se colecionam, pois estimulam audácia e coragem. Erros não se colecionam, eles apontam acertos. Mentiras não se colecionam, elas clareiam a verdade.
Não bati de frente com meus sonhos: não os
deixei adormecer, pois, sua hibernação seria perpétua, não os prendi no sótão.
Eles me mereceram e eu não os decepcionei: fortes e firmes.
Suum
cuique tribúere.
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