segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

CRÔNICA - Cidade na Medida (TL)

CIDADE NA MEDIDA

 

A respeito de Antonio Girão Barroso (1914–1990), poeta, jornalista e professor da Universidade Federal do Ceará, conta a história da genialidade cearense que... 

Chegando do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, ele espiou pela a janela do avião e indagou: “Fortaleza, meu bem, você está grávida?!”. 

Espreitando o fervilhar do comércio, no Centro de Fortaleza, comentou: “As mulheres são belas e vão às compras”. 

Fraternalmente, Antonio Girão Barroso era avocado pelos amigos de “Toim Meu Irmão”. 

Falando em cidade, nunca mais eu vi pelas ruas quase descalças desta nossa Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, um daqueles cachorrinhos de pelúcia dependurados no vidro traseiro dos carros, que balançavam a cabeça e acendiam os olhos quando o motorista freava. 

Nem tampouco aquelas miniaturas de rede avarandada, balançando pra frente e pra trás, principalmente quando o veículo sacudia ao cair em um buraco ou passar em catabique. 

Coisas que o tempo carregou, quando a nossa cidade ainda adolescia... 

De uns tempos pra cá, tenho reparado que uma cidade quando cresce muito, ela se transforma em várias cidades. Bem, falar delas é para mim pensar em qualidade de vida. Cogitar a razão da sua existência, de suas razões e de seus significados. É dizer sobre a sua ambiência e a sua escala. 

Sobre escala, eu entendo o palmo como muito mais do que os estipulados 22,86 centímetros medidos com a mão toda aberta desde a ponta do dedo polegar até a ponta do dedo mínimo. Assim como a braça (com 2,20 metros, medidos de ponta a ponta de cada braço aberto dos dedos maiores das mãos), o côvado (com 67,2 centímetros medidos da distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio da mão), o pé (com 30,48 centímetros, calculado no tamanho do pé de um homem), a polegada (com 2,54 centímetros, da largura do dedo polegar humano na base da unha) e a passada, além dos convencionados 64 centímetros. 

Seguramente, são medidas que contém sentimentos e carregam em silêncio os desejos do “ir e vir”, do “partir e chegar”, do “planejar e realizar”. Muito mais do que números, elevam os sentidos das pessoas, oferecendo-lhes a extensão de referência com o próprio corpo humano. 

Pois é, aí eu me lembro quando certa vez disse doutor Fran Martins, na medida certa, ao apresentar a minha exposição “A Cidade como Extensão do Corpo”, em 1982: “Os desenhos de Totonho Laprovitera representam um grito em favor da humanização da cidade – já que as cidades, como as pessoas, tem um corpo cuja beleza depende exclusivamente dos cuidados e do carinho dos que a administram e dos que a habitam”.

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