terça-feira, 14 de dezembro de 2021

CRÔNICA - Borba (TL)

 BORBA
Totonho Laprovitera*
 

A cidade de Fortaleza coleciona em seu itinerário existencial centenas de personalidades que contam a sua história. São figuras típicas que se tornaram populares e marcaram gerações que não esquecem de suas arrumações.



Pois é, as cidades se estabelecem muito além de seus prédios, ruas, praças etc. Afinal de contas, mais do que uma área densamente povoada, onde se ajuntam zonas residenciais, comerciais e industriais, dentre outras, as cidades são as suas pessoas, com relações e fenômenos sociais, culturais e econômicos.

Na Cultura Ceará Moleque, mantendo a tradição de um povo gaiato, Fortaleza sempre foi cheia de tipos curiosos, daqueles de chamar atenção. A maioria nativa da “loura desposada do sol” – do grande Paula Ney! – mas de quando em vez aparecia uns de fora, que mesmo temporariamente marcavam presença na cidade.

Pois bem. Na década de 1970, Borba foi uma figura de evidência em Fortaleza. Bem alegre, era um coroa carioca que veio morar aqui para trabalhar, mas ninguém tinha conhecimento em que ou onde. Sabia-se o que ele se dizia ser, um profissional de carreira internacional, tendo trabalhado até na ONU.

Borba possuía uma cultura geral privilegiada e nas horas vagas exercia uma boemia bem colorida. Acompanhava e animava várias turmas em noitadas memoráveis nas mesinhas da Beira Mar, na lanchonete do Mercantil 10 (vizinho ao Náutico) e nas barracas da Praia do Futuro.

O ponto alto da sua animação era quando se deitava na mesa, erguia as pernas e, em frenéticas pedaladas, praticava a repentina coreografia da “lambretinha”. Com sua voz rouca e forte, citava clássicos da literatura e entoava canções francesas, fazendo a alegria de todas as mesas que frequentava, sempre insistindo em pagar as contas.

Embora costumeiramente ele elegesse um príncipe para exercer seu platônico amor, nunca ninguém teve notícia de alguma pessoa que tenha consumado qualquer coisa com o espevitado Borba.

Mas de uma hora pra outra Borba desapareceu e ninguém teve mais notícia dele. Uns dizem que voltou para o Rio de Janeiro, onde se aposentou e viveu até seus derradeiros dias. Outros dizem que ele se mandou para o estrangeiro, lá pelas bandas da Turquia, onde trabalhou tomando conta de um afamado harém, ao lado da mãe de um poderoso sultão, de origem otomana do Irajá.

Sobre o verdadeiro paradeiro do Borba, ninguém sabe. O certo mesmo é que ele sumiu do mapa e c'est fini!


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