AS ELEIÇÕES
DO CIRCO
Reginaldo
Vasconcelos*
Tivemos uma CPI realizada pelo Senado Federal, por ordem de um Ministro do Supremo Tribunal (Respeitável Público!), que deveria e poderia ter tido um escopo positivo para o interesse nacional, ajudando o Governo a desvendar desvios de verbas destinadas ao combate à pandemia, apontar episódios de corrupção, identificando os inimigos do povo e amigos do dinheiro público, tacitamente conhecidos e apontados pelas redes sociais.
Mas o tal inquérito parlamentar se converteu no espetáculo mambembe que o País presenciou em tempo real pela televisão e pelo rádio, capitaneado por políticos desprovidos de isenção moral e de decoro, vários indiciados em procedimentos ou processos criminais, portanto carentes de bons antecedentes e sem ostentar passado ilibado, que seria requisito essencial.
Então, passada a dita “CPI do Circo”, se aproximam as eleições, que já se prenuncia serão disputadas pelos mais circenses personagens. Serão as “Eleições do Circo”, que colocarão no picadeiro as mais variadas “criaturas do pântano político”, na expressão do histriônico Ministro da Economia, Paulo Guedes.
O eleitor não tem alternativa. Vai ter que assistir à pantomima dos debates rádio-televisivos, deprimente show a supurar o mais repugnante fluxo de falsidades e da assunção dos mais inexequíveis compromissos.
O elenco será variado como as trupes dos antigos “circos de cavalinhos”, compostas por prestidigitadores hábeis em esconder coisas e fazer surgirem outras, no seu ilusionismo cretino, bem como malabaristas das palavras. Mas, principalmente, uma boa horda de palhaços, a seringar água dos olhos sobre o público, em flagrante falso pranto, e a trocar bordoadas com porretes cenográficos.
Claro, assim como antigamente, aparecerão também aberrações da natureza, como a mulher barbada, irmãos siameses, bichos bicéfalos por teratologia patológica, animais de cinco patas. E também vedetes idosas ou de falsa beleza, maquiadas e esculpidas por malhas compressoras, por sob os maiôs coloridos de seda barata.
Que o “respeitável público” das arquibancadas saiba distinguir, dentre os saltimbancos todos, quem sonha tocar fogo no circo para se apropriar dos seus despojos, e quem pretende de verdade o bem do povo, disposto a ariscar a vida pela sua biografia, com a coragem dos trapezistas e o sincronismo dos que se dispõem a encarar a vertigem do globo da morte.
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