ARTIGO - Memória - Gotas da História (VM)

 MEMÓRIA – GOTAS DA HISTÓRIA
Sobre História da Odontologia Cearense, 
do Prof. Dilson Meneses de Vasconcelos

Vianney Mesquita*

 

 

Não saber o que sucedeu antes de nós é o mesmo que continuar sempre criança. [Marco Túlio CÍCERO. Arpino, 03.01.106 a.t. c.; Fórmias, 07.12.43 a.t.c.].

 

 

Assemelha-se consensual e parece manifesta a verdade segundo a qual todas as pessoas são peças da História, dispostas como suas testemunhas e, maiormente, na qualidade de responsáveis por seu incremento e propagação veraz e à medida do tempo. É o que se configura neste livro-monumento, agora editado pela Universidade Federal do Ceará, alma mater do seu autor, Prof. Dilson Vasconcelos Menezes, primus máxime paribus do enredo histórico da Odontologia no Ceará e no Brasil. 

Com efeito, se revela interdito ao bom senso do escritor deixar de registar em suporte comunicacional – e feito sortimento do passado – um lance memoroso e verdadeiro, desagradável ou ameno, cuja circunstância, subordinada ao ciclo durante o qual sobreveio, com seus naturais desdobres, deite reflexos no devir das ocorrências, para continuidade fiel da conformação histórica. 

A propósito, trago a cotejo, por adequado o lance, a ideia com base na qual, dos escritos subsidiários da História, conforme se constitui em regular parcela o ensaio sob nota, um dos mais relevantes é o texto de memória, de patente influência futura, por cujo intermédio o produtor cuida dos eventos que lhe dizem respeito ou pertencentes ao tempo que viveu, mormente se o protagonista contextualiza períodos e acontecimentos nos quais exerceu influência significativa. É assim, pois, que esse Acadêmico, de acreditação mundial – muito menos de memória do que em circunstâncias das quais foi partícipe – opera constantemente, ao assomar acontecimentos de alçada saliência, como procedeu neste livro – Gotas da História da Odontologia Cearense – peça de inconcussa estimação para o argumento narrativo da Ciência do médico francês Pedro Fauchard. 

Conquanto não seja o que demonstra em todo o seu teor esta edição, mas, apenas, usando do ensejo para comentar sobre a memória, muita vez, tais sucessos, aparentemente particulares, dotados de nuanças de pessoalidade ilusoriamente exterior, encerram inestimável proeminência narrativa, porquanto costumam estimular a sagacidade do pesquisador, clareando suas pegadas, buscando alumiar um acontecimento incógnito ou insuficientemente explicado, como acontece na pluralidade das publicações de teor histórico, objeto, inclusive, de remendos procedidos pelo Autor deste livro em informações desacertadas na seara por ele peregrinada. 

Esse desconhecimento ou meia-verdade do evento histórico, de seu turno, priva o estudioso, até o apreciador cum grano salis, de tomar contato com a certeza, fazendo-os – muita vez louvados em evidências oblíquas – extrair inferências também viciosas, as quais, escritas ou propaladas oralmente, confundem a audiência, conferindo ao fato o aspecto de falácia, o que resulta no levantamento de dúvidas a respeito da história e seu caráter de conhecimento apenas em parte unificado, como quis Herbert Spencer. 

É nesta conexão incontingente investigador-memorialista que aflui o valor da particularidade, da minúcia imprimida ao esforço memorial. Então, após o siracusano brado de Eureka!, vai o cientista aproveitar, até o limite da elasticidade, o pequeno achado, ajuntando-o a outras pedras do seu casse-tête, para iluminar compreensões ainda meio obscuras, conformando a História e a esta devolvendo a dignidade ameaçada.

O alteado estudo do Prof. Dilson Menezes é adornado, sob uma boa redundância – pois já devidamente adscrito de valor – de um escólio lúcido do admirável pesquisador e operador da senda odontológica no Brasil, Prof. Dr. Manoel Perboyre Gomes Castelo, também da Universidade Federal do Ceará, o qual adita estimação a este produto de manifestação da verdade histórica e serventia acadêmica para os consulentes de hoje e da posteridade.