domingo, 20 de setembro de 2020

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (20.09.2020)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ

(20.09.2020)
   

A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promovia, nas noites de terça-feira, na casa de bebidas finas Embaixada da Cachaça, um poetry slam, consistente em um pequeno sarau de poesias, prosa poética e performances musicais acústicas ao vivo, segundo uma prática que começou nos EUA e se difundiu pelo Planeta.


   
Mas essa rotina cultural saudável foi interrompida pela pandemia de Covid-19, e então o grupo de habitués passou a se reunir virtualmente nas manhãs de domingo, em que acadêmicos, artistas, intelectuais e poetas em geral, frequentadores daquele reduto boêmio e cultural, matam a saudade e mitigam a carência de convívio, mantendo em atividade a ACLJ, apesar do isolamento social obrigatório.



Estiveram reunidos na conferência virtual deste domingo 14 participantes, entre acadêmicos e convidados. Compareceram, além do Comendatário Almir Gadelha, a Atriz, Poetisa e Psicoterapeuta Karla Karenina, o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes, o Bibliófilo José Augusto Bezerra.

Também disseram presente o Advogado e Sionista Adriano Vasconcelos, o Engenheiro, Empresário e Blogueiro Altino Farias, o Agente Comercial Dennis Vasconcelos, o Teólogo e Psicoterapeuta Júlio Soares, o Engenheiro e ex-oficial de Marinha Humberto Ellery, o físico e professor Wagner Coelho, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Artista Plástico Totonho Laprovitera e o Pedagogo, Psicólogo e Penalista Edmar Santos  todos da ACLJ.

Também se deve ressaltar a participação do nosso Benemérito José Augusto Bezerra, Presidente Emérito da Academia Cearense de Letras e ex-Presidente do Instituto do Ceará, além de presidir a Associação Brasileira de Bibliófilos, o qual, como de hábito, participou ativamente dos debates suscitados.

Zé Augusto trouxe ainda para este encontro literário da ACLJ um dos muitos documentos importantes da sua vasta coleção, desta vez um manuscrito do Naturalista Feijó (João da Silva Feijó  1760-1824), em que este trata sobre as lavras de ouro que havia na região do Cariri cearense, local em que floresceu a atual cidade de Lavras da Mangabeira. 

Feijó, que hoje empresta seu nome a uma rua em Fortaleza (Naturalista Feijó) e a uma fruta brasileira (feijoa sellowiana), foi um soldado da Coroa Portuguesa nascido no Brasil na época da Colônia, que foi se graduar em Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra, revelando-se um polímata, versado em naturismo e mineralogia. Fez parte do grupo que fundou o Museu de História Natural de Lisboa.  


 

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos com a leitura de uma crônica que acabara de escrever, tratando sobre as agruras do isolamento social a que a pandemia da Covide nos obriga, e que abaixo transcrevemos.

  

     ISOLAMENTO

Vez por outra, do nada, me falta o ar da atmosfera, me foge o fôlego, como se o atmã sagrado da vida me sumisse. 

As delícia da mesa e do copo deixam de saber ao paladar como deviam, e não mais recendem bem, como se espera, o jardim mais oloroso, as fragrâncias do tempo, os perfumes do Universo. 

As belezas ambulantes, que normalmente enriquecem a paisagem, alumbram o olhar e revolvem os bons humores, não mais extasiam e não evocam encantamento. 

De repente são cinéreas todas as faixas do arco-íris, a paleta de cores da natureza fica plúmbea, a passagem das horas é monótona, os caminhos circulares, que não conduzem à esperança de bonanças.

Não é mister adoecer fisicamente para sofrer o isolamento, e não há protocolos capazes de promover a aprendizagem da dor e da resiliência para esperar o velho normal revigorado. 

Infindável quarentena que nos faz responsáveis pela vida e pela felicidade coletivas, nos cobrando empatia plena em relação à humanidade, quando a saudade nos oprime e nos esmaga, no deserto dos abraços fraternos, todos prisioneiros do oásis doméstico, limitados à rotina familiar. 

Enfim, descubro que é por todos os afetos reunidos que nasce o sol no alvorecer, e por eles que se põe o astro-rei, e em seguida vem a noite. Foi por vós todos, os entes queridos, que nasci e que tenho vivido sobre a terra, e que, sob ela, um dia, repousarei eternamente.

RV


Na sequência, eleito o tema da doença e da saúde, abordou-se a importância da água no organismo das pessoas, que lhe ocupa 70 por cento, a influência da sua qualidade no envelhecimento corporal, no funcionamento dos órgãos, na aparência da pele, e o efeito deletério da água de má qualidade sobre as populações da antiguidade e do medievo, bem como dos que vivem nos focos de pobreza ainda hoje.

A propósito disso, Karla Karenina apresentou um belo filtro de porcelana, fabricado em 1968,  que ganhou de sua avó, e que ainda está em uso, do qual ela mesma bebia boa água na infância.

Sobre o principal humor líquido do organismo, o sangue,  Aluízio Gurgel disse um poema, de sua própria lavra, tratando desse fluxo vital que move a vida; Ellery e José Augusto Bezerra levantaram a polêmica sobre a causa mortis de Alexandre, O Grande, por uma teoria envenenado com água palustre não potável, segundo uma outra tese contaminado por um mosquito maleitoso, provindo do charco infecto. 

Almir Gadelha pontuou citando o Cirurgião Plástico Eduardo Furlani sobre as rugas da pele,  indicativas da longevidade,  e Altino Farias lembrou que a cerveja era aconselhada no passado como substituta da água, porque as águas medievais eram impuras e o processo de fabricação da bebida a torna hígida. 

José Augusto Bezerra ainda discorreu sobre a importância e origem do papel – o papiro vegetal dos egípcios e o suporte de tegumento ovino "pergaminho", desenvolvido na cidade grega de Pérgamo, cujo uso deu forma ao livro moderno.

E nesse diapasão o acadêmico Júlio Soares declamou um poema de Drummond, de um livro que acaba de ganhar da sua Alana, cujo tema lírico, coincidentemente, são a importância e a nobreza do papel.

Por fim, Karla Karenina fez a moção verbal de que as principais academias literárias da Cidade encaminhem um manifesto conjunto ao Governo do Estado interpelando-o sobre onde está e como é conservado o acervo da Biblioteca Pública Menezes Pimentel, bem como reclamando a sua mais urgente reabertura.

A proposta foi acatada pelo Presidente da Associação Brasileira de Bibliófilos e Presidente Emérito da ACL, José Augusto Bezerra, e pelo Presidente da ACLJ, Reginaldo Vasconcelos, e apoiada pelos demais  e será implementada.

A sessão virtual da ACLJ realizada neste domingo, dia 20 de setembro, foi dedicada aos agraciados deste ano com a comenda Sereia de Ouro, do Grupo Edson Queiroz, dentre eles, merecidamente, a nossa confreira Karla Karenina que comemora ainda o retorno ao ar, pela Rede Globo, da novela "A Força do Querer", de Glória Peres, a cujo elenco ela pertence.






COMENTÁRIO

Não pude comparecer devido a outro compromisso, mas os domingos da ACLJ tem se firmado como o ponto alto da semana.

Sávio Queiroz Costa

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