O BOI DAS PIRANHAS
Rui Martinho Rodrigues*
O deputado Eduardo Cunha foi
desmascarado. É um vilão. Outros vilões já foram postos à disposição da demanda
por alguém para odiar. Antônio Carlos Magalhães, Jáder Barbalho e Collor, entre
outros, já tiveram seu turno no plantão de Geni. Não discuto a culpa de nenhum
deles, embora não tenham sentença condenatória com trânsito em julgado.
Constato que após algum tempo os demônios são reabilitados. A satanização e a
reabilitação atendem a conveniência de interesses.
Qual é o interesse de quem dirige o
foco das atenções para o deputado Eduardo Cunha? Qual é a importância dele em
face dos escândalos que causam a justa indignação dos brasileiros? A
presidência da Câmara dos deputados explica o foco no senhor Cunha?
Não. A nomeação para cargos de
terceiro escalão da Petrobras, se ele a fez, foi por concessão do poder
Executivo e não se relaciona com a presidência da Câmara dos Deputados, pois
foi anterior à eleição do deputado fluminense para a presidência daquela casa.
A Presidência do Conselho
Administrativo, a presidência da grande petroleira estatal, o financiamento de
campanhas do partido que conquistou o Poder Executivo, da campanha
presidencial, de inúmeros município e estados não foram obras de Eduardo Cunha.
Nem a compra superfaturada de uma refinaria enferrujada; nem as despesas com as
refinarias fantasmas do Ceará e do Maranhão; nem os escândalos do financiamento
de obras no exterior pelo BNDES ou a roubalheira nas obras do setor elétrico, e
tantas outras “coisinhas” mais, não passaram pelo senhor Eduardo Cunha.
Dizem que nas regiões onde os rios são
infestados por piranhas, os vaqueiros usam de um artifício para passar as
boiadas pelos perigosos rios. Selecionam um boi magro, de menor valor, e o
atiram às piranhas, atraindo-as para o animal sacrificado, enquanto passam a
boiada em outro lugar.
Eduardo Cunha é o boi magro, de menor
valor. Os protestos e o ódio acicatado pelos manipuladores das massas agora só
se dirigem para ele. Os dirigentes maiores, os traficantes de influência
dotados de grande poder político foram esquecidos. São os bois gordos passando.
Só se fala em Eduardo Cunha.
A importância do Boi Magro é ser peça
chave no processo de impeachment. Cunha
está neutralizado. Não movimenta o processo que destituiria a presidente, seja
por ser esta a única bala que ele detém para alimentar a ilusão de que se salvará, seja
porque, estando desmoralizado, não tem força política para enfrentar uma luta tão
dura como o processo de destituição da governante.
Os acordos vão sendo costurados. O
cheiro de pizza ameaça a operação Lava Jato. A resposta do Juiz Moro, quando
indagado sobre o que espera dos tribunais superiores, depois de uma longa e
significativa pausa, foi pedir para não responder.
Pena que o Eduardo Cunha não tenha a fibra do Roberto Jefferson, que salvou o Brasil por algum tempo,
agindo como Sanção, que escolheu morrer destruindo o templo dos filisteus e
matando muitos deles.
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