TEMPUS REGIT ACTUM
Reginaldo Vasconcelos*
Era um militar de vocação sacerdotal. Reformou-se como general, e foi a
vice-governador, a convite de um político civil que ascendeu ao governo do
Estado. Sempre disciplinado, pontual, patriota, enquadrado, porém nada
autoritário, único ponto em que dissentia do estereótipo castrense. Muito
católico, postura moral sem o rigorismo dos carolas. O puro amor à família, à
pátria, à Deus, com base na benevolência e no perdão.
O filho dele também foi militar, mas deixou a farda para exercer seus
potenciais de engenheiro em outras áreas federais. E antes de ingressar na
Marinha, ainda jovem, na década de 60, acompanhou o pai vice-governador em
missão oficial ao Maranhão, Estado que então era governado por um jovem e
vitorioso Sarney, que iniciava a sua dinastia política, após vencer e
destronar naquele Estado a oligarquia anterior.
Pai e filho encontraram no governador, que os recebeu com fidalguia no Palácio dos Leões, um
homem ainda na faixa dos 30, de belos traços e de modos refinados, em esmerado
figurino, e, acima de tudo, muito bem instruído e ilustrado, já um intelectual
prestigiado como tal, a par de um político de sucesso. Os dois visitantes
ficaram bem impressionados, o filho comentando com o pai, profeticamente, que
uma pessoa tão bem qualificada deveria vir um dia a servir ao Brasil na
Presidência da República.
E o filho ocupava cargo de diretoria numa repartição pública federal
quando José Sarney, em 1985, chegou ao Palácio do Planalto, por uma esquina do
destino, após a morte repentina do já eleito Tancredo Neves, de quem figurava
como vice. Consequentemente, na sala em que aquele trabalhava, bem atrás de sua
cadeira, passou a ser exibido o maranhense no clássico retrato oficial do
Presidente da República, com a faixa verde-amarela trespassada sobre o peito.
Ele então se lembrou da bela fotografia em que houvera posado com seu pai
e José Sarney no Maranhão, 20 anos antes, e quis reproduzi-la sobre o seu birô,
em um bom porta-retrato, para que todos notassem que o prestígio do diretor da
entidade superava os limites políticos do seu Estado e chegava aos palácios de
Brasília, vaidade natural que ocorreria a qualquer um – além da legítima
intenção de demonstrar apoio ao dignitário máxima de República, o qual, naquele
momento, era adorado pelo povo com o seu mirabolante “Plano Cruzado”, que
pretensamente debelaria a inflação.
Para tanto o filho telefonou ao pai perguntando pela foto, que este não
sabia mais onde estava, mas se prontificou a procurar. Dias depois, insistiu
pessoalmente com o seu genitor cobrando a encomenda que fizera, sendo informado
de que o General não obtivera êxito na busca que levara a cabo em seus arquivos
de imagens do seu tempo de governo. Mas que iria consultar a uma filha a quem
incumbira de organizar essas memórias. E o tempo correu sem resultados.
Um dia o General telefonou exultante ao filho para lhe comunicar que
finalmente aquela fotografia em que ambos apareciam com o então Governador do
Maranhão fora encontrada. Tarde demais. Certamente fora a bondade de Deus que a escondera, e
fora por castigo à soberba que Ele a fizera aparecer naquela hora, pois o Plano
Cruzado já malograra inteiramente, e o Presidente José Sarney naquela ocasião amargava agudo desprestígio e antipatia nacionais. Amem!
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