sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

CRÔNICA (RV)


OS DOZE BOIS
(VERSÃO EM CORDEL)
Por Henrique César Pinheiro


Bastante debilitado
E já à beira da morte
Pra não depender dos outros
Entregue à própria sorte
Um grande senhor, idoso,
Resolveu fazer aporte.

Pra fazer seu mausoléu
Chamou toda a família
E fez seu testamento
Deu casa, terras, mobílias.
De fora ficaram uns bois
E um pé de buganvília.

Assim que o velho morreu
Começou a confusão.
Como eram várias filhas
E somente um varão
Este juntou logo os bois
À parte do seu quinhão.

E aos pés do morto disse
Que faria um mausoléu .
Mas o tempo foi passando
Cova foi pro beleléu.
E o dinheiro dos bois
Ficou com filho, incréu.

E a mãe que já morrera
Foi enterrada com seu bem
Numa cova muito simples,
Uma ama-seca também
E com factótum da casa,
Que há muito foi pro além.

A tumba muito pomposa,
Desejo de um moribundo,
Acabou.  Com  bois do morto
O filho levantou fundos.
Aumentou bem seu quinhão.
Tornou-se rico e fecundo.

Mas o tempo foi passando
Sem a promessa cumprida.
Filho e irmãs se casaram
Família ficou sortida.
O filho só teve filhas,
Que não eram margaridas:

Valentes e bem zoadentas,
De parentesco ofídico.
O filho também feneceu.
E de modo muito acídico
Filhas disseram à dona
Do tal  túmulo fatídico.

Agora vamos construir
O túmulo prometido.
Mas para que seja feito,
Terão que ser removidos
Os restos da ama-seca
E dum negro enxerido.

Do outro lado porém,
Havia  grande advogada
E prima das jararacas,
Que não se fez de rogada,
E mandou dizer às primas
Que  era bem educada,

Também nas suas veias havia
O sangue de jararaca.
Se tivesse confusão
Ela metia o pé na jaca
Da cova as pessoas queridas
Não seriam retiradas.

Que ela ia fazer o túmulo.
E a mancha do pai de vocês
Nunca será retirada.
Túmulo  farei num mês.
Pra fazer isso não vendo
Uma galinha pedrês.

Mancha pelos doze bois
Será pra sempre guardada,
Na lembrança da família:
Do velho à garotada.
Quem roubou os bois do pai
Não é digna nem honrada.


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