A vida é passageira. Muito chata em alguns momentos, noutros nem tanto. Já imaginaram vocês o quanto seria absolutamente chata se não fosse finita?
Nesta madrugada de céu cinzento e chão molhado, acordei um tanto reflexivo, pensando na vida. Revi, como num instantâneo, o que acumulara até então. Naturalmente que não revelei muita coisa, além de filhos, dívidas e as amizades que fiz.
Recordei o doce período da infância para me certificar de que das amizades construídas naquele início de passeio, poucas perduraram. A maioria se perdeu nos becos e esquinas desta sofrível caminhada.
Cheguei à conclusão de que amigos, confiáveis ou não, fazemos nas mesas de bares, em torno de copos e tira-gostos. O trabalho, a que muitos conferem a dignidade da vida humana, para mim é apenas um atributo que nos garante a sobrevivência neste mundo cão em que nos digladiamos, tendo como pano de fundo a “livre” concorrência.
Portanto, minha história de vida – rica ou não – resume-se a um movimento contínuo por entre bares, na companhia de amigos e tira-gostos. Voltei ao tempo em que, ainda menino e seguindo a sombra de meu pai, saía nas manhãs de domingo para apanhar os chamados jornais do sul – O Globo, JB, Estadão e Folha – na banca do Almeida, na Praça do Ferreira e depois esticar até o bar do Sá Filho, o Flórida.
Todos falavam ao mesmo tempo, quanta confusão! Impressionava-me como todos se entendiam naquela babel de palavras. Lá, além do primeiro copo de cerveja, me foi revelada a delícia que era o seu fígado acebolado. Até hoje me trás água na boca só de lembrar...
Agora, cercado de outras responsabilidades, preencho as manhãs de domingo com idas ao São Sebastião para acompanhar a gestora do lar em suas compras. Entanto, para não perder a viagem, sento com amigos no restaurante “5 Estrelas” – tocado por cinco agitadas senhoras – para atualizar as fofocas e comer um assado de panela. O melhor assado de panela da cidade...
Às sextas-feiras, vou ao Dallas, ambiente burguês de cozinha internacional, que, se por um lado não é grande coisa, por não oferecer um tira-gosto exclusivo, por outro é imenso, pela corriola que lá se reúne. Amigos de interesses diversos, mas que de uma hora para a outra se travestem de economistas, sociólogos ou cientistas políticos para, num estalar de dedos, apresentarem soluções para todos os problemas do Brasil...
Uma vez por mês vou ao restaurante do Alfredo, lá pras bandas da estrada do fio. Noitada boa, papo animado regado a bons vinhos e charutos, tendo como pivô o prato da casa: o pombo cheio. Como diria o Macário Batista, é iguaria para se comer rezando. Mas cuidado jornalista, nunca peça as fêmeas, indigestas para os homens, e que costumam engordar em demasia as mulheres...
De repente, chama-me a atenção o despertador barulhento. É hora de largar a vida e retornar à batalha diária pela sobrevivência...
Por Dorian Sampaio Filho
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