O NATALRui Martinho Rodrigues*
O Natal é uma das grandes festas do Ocidente, ligada à tradição do cristianismo histórico, ao lado da páscoa, que é da tradição judaico-cristã e de outras festas confessionais e seculares. Originária da festa dedicada ao deus Sol, no solstício de inverno (do hemisfério norte), foi assimilada pelo cristianismo histórico após Constantino, para estimular a conversão de povos pagãos, no Século III.
Ressignificada, a festa passou a evocar o nascimento de Cristo. Menciona-se o nascimento na cidade de Belém, na manjedoura, a chegada dos magos (mas os evangelhos sinóticos só dizem que eles eram magos, sem mencionar a sua condição de reis, não lhes cita os nomes e diz que todos eram do Oriente, sendo os únicos documentos que mencionam estes adoradores de Jesus, que a História Secular não menciona).
O livro de Salmos diz que reis adorarão a Cristo, mas não diz quando, podendo ser por ocasião da segunda vinda. A anunciação, a fuga para o Egito e outros fatos ligados ao momento do nascimento do aniversariante são sempre lembradas na data comemorada.
A secularização da cultura ocidental transformou o Natal em uma festa laica. Isso provocou em muitos um sentimento de nostalgia, que em alguns se torna melancolia pela ausência do sentimento de fé e falta do componente sobrenatural. A boa notícia (evangelho) da chegada do Salvador e o apelo ao arrependimento, na mensagem “... arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3; 2). A boa nova é “Porque pela graça sois salvos por meio da fé; isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2; 8-9).
O Natal, todavia, começa muito antes. No livro de Gênesis, 3; 14-15 o Senhor diz, dirigindo-se a serpente: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente [da serpente] e a sua semente [da mulher]: esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”, profecias que se cumpriram na cruz.
Ali, por ocasião da queda, quando o homem decidiu ser autônomo, chamando a si o juízo do bem e do mal, quando adquiriu a consciência de suas imperfeições (viu que estava nu) e errou o alvo. Ai começa o natal, na forma de promessa messiânica feita pelo Deus piedoso, não pelo Senhor enfurecido de interpretações largamente divulgadas. “Então fez o Senhor Deus para Adão e sua mulher túnicas de pele e os vestiu” (Gênesis 3;21), em atitude piedosa.
Comer do fruto do conhecimento do bem e do mal foi o pecado original. Pecado (do grego hamartia, verbo que significa “errar o alvo”, Novo Dicionário da Bíblia, de John Davis) gerou consequências desastrosas. A promessa messiânica tem o significado de uma remissão do pecado, para que o homem deixe de errar o alvo e escape das consequências da tentativa de fazer aquilo para o que não tem aptidão: juízo moral.
O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1; 29) faz com que deixemos de errar o alvo. Como o Messias (no hebraico), ou Cristo (no grego) faria isso? João 3; 16-17 responde: “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha vida eterna. Porque Deus enviou seu filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele”.
O grande presente de Natal foi dado na origem
dos tempos. A natividade foi o anuncio da boa nova ou boa notícia (origem grega
da palavra evangelho) que era o cumprimento da promessa messiânica, com o
nascimento do Cristo (o ungido) da profecia feita pelo próprio Deus no Gênesis.
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