Lembro demais das carteiras escolares do
Colégio Christus, onde me alfabetizei e cursei o primário. De madeira escura e encerada,
cada uma delas acomodava um par de estudantes. Com uma leve inclinação, o seu
tampo possuía uma fenda para o repouso de lápis e dois recortes circulares para
encaixe dos tinteiros, que no meu tempo não tinham serventia, pois as canetas já
eram esferográficas. Abaixo do tampo, existia
uma espécie de prateleira para guardarmos livros e cadernos. O assento
era composto de réguas espaçadas e o encosto, a 90 graus, formado por uma única
e larga peça.
Curiosamente, quando nos movíamos com maior
intensidade, a carteira escorregava pelo chão da sala de aula, desalinhando todo
o seu conjunto.
A despeito das proibições e avisos de severos
castigos, quase todo mundo registrava seu nome
nela, talvez para marcar sua existência ou mesmo espantar o enfado das
monótonas lições. Ora, ninguém gostava de estar recolhido em uma sala, quando
lá fora o sol convidava todos para atividades da infância, mais simpáticas que cópias,
tabuadas ou ditados.
Daí, era esperar a Dona Núbia, com a sineta à mão,
bater a hora do recreio ou do final do dia de aula.
Lembro que quando fazia o jardim de infância e
alfabetização, eu tinha uma merendeira de plástico, azul e branco, para levar o
que comer e beber na hora do recreio do colégio.
Ela era tipo uma maleta. Feita em peças
nervuradas de matéria plástica semirrígida, trazia uma aba flexível com abertura
vazada em círculo, para passar a garrafa com tampa que servia de copo. Para abri-la ou fechá-la, bastava girar um
botão. Para carregá-la ao ombro, ela possuía uma alça que sempre
afolozava a sua casa de pegar o botão de suporte da merendeira. Nela, preparado
pela minha mãe, eu levava sanduíche de pão sovado com carne de lata, e na garrafa,
o transposto refrigerante que podia ser Coca-Cola ou Guaraná Champagne.
Porém, com o tempo, o precário material da
garrafa fadigou e o refrigerante – já sem gás, com o gosto diferente – vazava e
encharcava o pão, desmanchando o sanduíche. Como eu era menino danado e
reivindicador, os adultos demoravam a escutar os meus reclamos e, assim, quase que
eu passei foi a gostar de merendar “sanduíche ao refrigerante desgaseificado”.
No primário, recordo da
dona Fátima me alfabetizando. Até hoje, conto da querida Sônia me ensinando a
tabuada e as horas. No ginásio, o professor Marcelo Nogueira nos educava por
meio da
comunicação e expressão da língua portuguesa. No científico, as aulas do Genoíno
Sales nos eram uma diária descoberta de compreensão do mundo. Na faculdade, Neudson
Braga até hoje me ensina a arte de arquitetar a vida através de bons sentimentos.
Deles, cito apenas cinco, mas poderia fazer referência
a bem uns cem bons professores que tive! Afinal de contas, mestres são os que nos
ensinam o bem.
Agora, quem lembra do caderno Avante? De um
lado, os escoteiros, do outro, o Hino Nacional! De brochura (capa e miolo grampeados
pelo centro), quando a gente arrancava uma página dele para desenhar escondido
era um Deus nos acuda, pois a outra banda ficava fácil, fácil, de se soltar.
De tão popular, o caderno Avante marcou época e
era vendido em diversos comércios: das livrarias às bodegas da cidade. No tempo
dele, a caneta esferográfica era novidade.
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