OS ESTADOS UNIDOS:
ESTRATÉGIAS E
RELAÇÕES
DE CONVIVÊNCIA.
Luciara de Aragão*
O período pós Segunda Grande Guerra mergulhou o mundo no conflito Norte-Sul, e o seu final nos deixa como desdobramento político e intelectual o ressurgir do imperialismo na formação da Ordem Mundial.
Desde a sua colonização, o ideário do “Destino Manifesto” norteia a política desenvolvida nos Estados Unidos da América, em suas relações de vizinhança. A guerra contra o México foi o primeiro grande conflito movido pela ideia de que Deus lhes havia dado o direito de expandir as suas fronteiras.
Pode-se mesmo observar um afastamento das normas de convivência organizada, após o ímpeto de sua expansão territorial, seguida de incursões militares voltadas para a construção de um império continental. A indiscutível posição de liderança obtida e a afirmação de sua liderança com o ataque atômico em Hiroshima e Nagasaki (06-09 agosto, 1945) mostrou o poderio sob o qual se cimentaria o Império.
Ser a única superpotência, do ponto de vista histórico, inaugurou um período de relaxamento, com a ausência de tensões em torno da paz e da prosperidade desejadas, e foi um item relevante na série de discussões internas sobre a longevidade do sistema, sua possível manutenção estrutural na hegemonia do Ocidente na transição para o Século XXI.
Esta postura hegemônica dos Estados Unidos toma maior alcance no contemporâneo, com a Doutrina Bush, expressa no documento “A Estratégia de Segurança Nacional os Estados Unidos” (20 set, 2022) na guerra contra o terrorismo e o “eixo do mal”. É esta agenda a substituta do Conceito de consenso pelo Conceito de dominação aberta.
Do ponto de vista leninista, a expansão territorial e ampliação de zonas de influência havia dado lugar a um império abarcador da totalidade, onde não há dentro nem fora, impondo-se ao mundo como uma unidade. Parte-se para o endosso do ponto de vista do reino do mercado mundial, tornando obsoletas as separações de países com base nas noções tradicionais de hierarquia dos mundos.
Para estudiosos como Michael Hardt, acadêmico e escritor voltado para as novas normas de dominação contemporânea e como Antonio Negri, filósofo político italiano, autores de Empire (2000), ambos expoentes da esquerda política, as divisões políticas herdadas entre Estado e Sociedade controlam a liberdade, o centro e periferia, sistema e antissistema, e mesmo a guerra e a paz, não sendo mais adequadas.
Analisando a decadência romana e a dos Estados Unidos, o professor de Michigan, Srdjan Cvjeticanin, a partir do enfoque de Hardt e Negri, comenta os escritos do historiador grego Políbio (220-120 a.C.), desde a ascensão e a permanência do império romano buscando elementos estruturais símiles com o norte-americano.
Através dos ciclos voláteis da pólis clássica, sendo sua constituição uma mistura de monarquia, aristocracia e democracia, todas elas funcionaram como freios contra o potencial degenerativo inerente a uma única forma solitária de governo.
Para eles, há uma estrutura símile nos Estados Unidos: a supremacia nuclear norte-americana representa o elemento monárquico; a riqueza econômica do G7 e das corporações transnacionais, o elemento aristocrático; enquanto a internet é o elemento democrático. Exageros à parte, estabelecem um paralelo improcedente entre os potenciais revolucionários de hoje e os mártires cristãos do império romano.
De forma óbvia, advogados e contadores são pagos para gerir empresas na transferência dos lucros para paraísos fiscais com a Ucrânia. Este aspecto da decadência norte-americana parece entrar numa condição irreversível, independente das possibilidades de a China ascender a condição de “prima potenza”. De modo diverso da herança da Grã-Bretanha e seu modelo de mea culpa, transferem a qualquer tipo de outro, a culpa por suas responsabilidades, evitando o confronto com a realidade.
A obsessão pelo jogo de poder leva o presidente Biden a pretender a liderança do grupo de mega financistas na implantação de uma Nova Ordem Mundial, estimando os números de extermínio (1900-1948), na ordem de 60 milhões, e a estimativa atual de novas mortandades como uma janela de oportunidades”. Vai haver uma nova ordem mundial e temos que lidera-la”, afirma. (https:/www. Frontliner.com.br). As notícias de documentos de sua participação nos repulsivos bio-laboratórios de vírus, exibida na ONU pelos russos, parece não ter nenhum efeito numa imprensa corrompida pelo dinheiro e uma opinião pública entorpecida pela mídia de massa.
Em Declínio e Queda do Império Romano, o
historiador Edward Gibson relata Roma em 408, às vésperas da invasão dos godos,
vítima do próprio luxo, desperdício de recursos públicos, colapso absoluto da
fé e da razão. A opção por prosperidade, pretensa grandeza permanente, e controle
do mundo desconhecido, fez cair a outrora senhora do mundo...
Lúcido o texto, sem rompantes acadêmicos. Observações pertinentes e compatíveis com quem está a acompanhar o tema.
ResponderExcluirMuito pertinente e coerente a sua abordagem. Profundo conhecimento. Parabéns.
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