sexta-feira, 24 de setembro de 2021

RESENHA - Reunião Virtual da ACLJ (20/23.09.2021)

 REUNIÃO VIRTUAL DA ACLJ
   (20/23.09.2021)




PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual destas segunda e quinta-feiras,  que teve duas sessões, a primeira de duração de meia hora, e, a segunda, uma hora e meia: 

PRIMEIRA SESSÃO

Seis acadêmicos e um convidado especial compareceram à primeira sessão da reunião. O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Bacharel em Direito e Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel (Estado do Rio), o Advogado Betoven Oliveira, convidado especial. Também o Juiz de Direito e Professor Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Agente de Comércio Exterior Dennis Vasconcelos,   o Engenheiro Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes e o Médico, Teólogo e Latinista Pedro Bezerra de Araújo, retornando às reuniões virtuais após longa convalescença, sendo alvo de aplausos de boas-vindas. 
 

PERFORMANCE LITERÁRIA

A primeira sessão da reunião foi resumida no tempo, em torno de 30 minutos, de modo que  teve início e se encerrou com a performance literária do Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, que leu uma crônica do Paulo Ximenes, intitulado "O Canelau", que abaixo reproduzimos. 

O canelau
Paulo Ximenes*

 

No meu Ceará a gente encontra uma gama de chistes e expressões que não se vê noutras regiões do país e que compõe um palavreado jamais catalogado pelos digníssimos senhores lexicógrafos. 

Esses vocábulos genuínos, às vezes peculiares de uma dada região, por não fazerem frente ao fervilhar da globalização dos costumes nem ao passar do tempo, caem no desuso e no esquecimento dos cearenses mais novos. Alguns deles sobrevivem apenas no lembrar dos mais velhos, ou nas páginas de livros saudosistas, o que é quase o caso destas Anotações de um ex-sócio do Náutico. 

Perguntem a um moço de hoje (de qualquer recanto de Fortaleza) o que é um canelau e ele sacudirá a cabeça alheado feito um turista. Mas eu bem sei o que isso significava.  Entretanto a acepção que faço deste termo, toma por base apenas o que vi e vivi no final dos anos 50, e, portanto, tem cunho interpretativo e se assenta no patamar de um juízo inacabado. 

Dicionarista, eu não sou. Não vou bater o martelo sobre o assunto. Nem posso acertar que o verbete tenha se originado da palavra “canela” aludindo ao fato de que os moleques da época viviam metidos em calções curtos, com as canelas à mostra. Se o meu testemunho vier a granjear alguma valia, isso vai por conta da minha memória que avigora fatos envelhecidos.  

O termo Canelau, como me foi dado a conhecer, parecia-me ser um coletivo do vocábulo “moleque”, aqueles pirralhos saltitantes da periferia da capital, oriundos das mais modestas camadas sociais. Eram seres diferentes. Impunham-se ágeis, longilíneos, esbeltos, distantes da robustez preguiçosa dos meninos das famílias mais abastadas. Comunicavam entre si através de longos silvos agudos produzido pelo ar comprimido entre os lábios e auxiliados pela intromissão na boca dos dedos indicadores e mínimos – audíveis a pelo menos cem metros de distância! Pareciam felizes e donos do mundo. 

Não conheciam regras, nem limites. Riam até das próprias sombras. Andavam em bandos, numa algazarra medonha, nus da cintura para cima, barulhentos, e, apesar de descalços, corriam como as avestruzes sobre o calçamento de pedras toscas – coisa que os meninos “amaciados” não conseguiam fazer de maneira alguma. Eram vadios da rua, inocentes e desocupados. Não me parecia que frequentassem as escolas. 

O que realmente me marcou – e aí entram em cena as objetivas das minhas recordações – é que eles venciam os muros das casas alheias, com a agilidade dos felinos, geralmente para se apropriar das goiabas, e, dependendo das circunstâncias, dos brinquedos que estivessem largados ao relento: peões sonoros, revólveres de brinquedo, aviõezinhos de plástico, soldadinhos de chumbo, e, principalmente, pipas com seus gordos novelos de linha. 

O chamariz era um pé de goiaba. Malditos pés de goiaba! Muitas donas de casa mandavam cortar suas goiabeiras pelo tronco “por causa do canelau”. Quantas vezes eu não ouvi essa queixa! 

No bairro do Meireles, onde se erguia minha morada pelo final dos anos 50, e onde a Carlos Vasconcelos esbarrava no mar, havia próximo a ela um terreno baldio, cercado por muros em ruínas que logo favoreceu a construção de casas irregulares. Nelas se estabeleceram famílias com seus guris saltitantes. 

Do portão da minha casa eu os via de perto, arengueiros e amantes inveterados das boas caçoadas. Uma vez, por conta de uma chacota à toa, e, também, não posso negar, por conta da minha baixa tolerância em acatar insolências, troquei tabefes com um deles no meio da rua, embate em que não fui bem-sucedido: acertava um e acolhia dois!  Contava eu nove anos e o outro pirralho só Deus sabe. 

Foi justamente a tal vizinhança peralta e as constantes carreiras que eu levava daquela molecada que me impuseram ao juízo, num delírio conceptivo, que a palavra canelau servisse para designar “uma coisa ruim”, que no dizer do finado Braz Cubas, enfada o mundo com a sua mediocridade.  

Ah! rompedores de muros, salteadores de goiabas e defensores da liberdade! Hoje os vejo com graça... Que saudade eu tenho de vocês! 


SEGUNDA SESSÃO

Nove acadêmicos e dois convidados especiais compareceram à segunda sessão da reunião. O Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, o Bacharel em Direito e Especialista em Comércio Exterior Stênio Pimentel (Estado do Rio). Também o Juiz de Direito e Professor Aluísio Gurgel do Amaral Júnior,  o Médico, Teólogo e Latinista Pedro Bezerra de Araújo, o Advogado e Sionista Adriano Vasconcelos, o Poeta, Jornalista, Advogado, Professor, imortal da Academia Cearense de Letras e Cônsul da Romênia em Fortaleza Luciano Maia, o Agrônomo e Pesquisador Luiz de Morais Rego Filho (Rio das Ostras - RJ), o Marchand Sávio Queiroz Costa, o Físico e Professor Wagner Coelho e os convidados especiais Betoven Rodrigues de Oliveira, Advogado, e o Engenheiro Naval romeno Nocolai Vasily.



TEMA DE ABERTURA

Aluísio Gurgel do Amaral Júnior abriu a segunda sessão da reunião virtual da ACLJ, nesta quinta-feira, apresentando o livro que seu filho acaba de lançar. Alan Noronha Gurgel do Amaral é um jovem e brilhante advogado, e estreia na literatura jurídica com uma obra valorosa, intitulada "Responsabilidade Civil do Estado por Ato Lícito". O tema é instigante para os operadores do Direito, e a obra vem preencher uma lacuna na doutrina livresca nacional.

OUTROS TEMAS ABORDADOS

Adriano Vasconcelos entrou na reunião do próprio automóvel, quando se dirigia a uma comemoração em torno da cearense Maria Helena Gurgel do Amaral, prima do Aluísio, residente em Portugal, e da festa ele colocou no grupo um dos convivas, o Engenheiro Naval romeno Nicolai Vasily, que conversou longamente em sua própria língua com o Poeta Luciano Maia, que é Cônsul da Romênia e fluente no idioma daquele país.

Sávio Queiroz Costa, por seu turno, um emérito bon-vivant,  participou da reunião virtual consumindo caranguejos, tendo em vista ser quinta-feira, dia nacional pela extinção desse crustáceo no Nordeste Brasileiro.  Por ser saboroso, o caranguejo uçá é caçado e consumido semanalmente em quantidades astronômicas nas cidades nordestinas. O registro fotográfico da presença do Sávio na reunião lembra um quadro surrealista, reproduzindo a luta do ínclito acadêmico com um dos octópodes que procurava devorar. 

Trazido o tema à baila pelo Sávio, Luiz Rego, dentre outros, pontuou sobre os tipos desses moradores dos mangues e dos mares, caranguejos e siris,  iguarias muito apreciadas em todo o mundo. 

Ainda no campo da pesca, consumo e exportação dos crustáceos cearenses, Stênio Pimentel, que foi de Marinha, fez o registro de que uma das primeiras embarcações dedicadas à pesca da lagosta no Estado, denominada Kama Sutra, pertencia aos franceses Charles Dell'Eva, fundador do restaurante Lido, em Fortaleza, e Paul Mattei, pioneiro exportador de lagostas no Ceará.  

Segundo Stênio, esse barco foi vendido para o Rio de Janeiro, onde tomou o nome Bateau Mouche, que teve a sua estrutura alterada para aplicação ao turismo, e por isso naufragou durante o réveillon de 1988, vitimando 55 pessoas. 

Na mesma linha das tragédias nacionais com origens cearenses, Luiz Rego aduziu que um zepelim americano acidentado em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, durante a Segunda Grande Guerra, teria ido do Ceará, e Reginaldo lembrou que o ultraleve que caiu com Herbert Vianna, do grupo musical fluminense Os Paralamas do Sucesso, matando a mulher dele, pertenceu ao sanfoneiro cearense Waldonys.

Luiz Rego, então, talvez ironizando os temas pouco literários abordados até então, apresentou um exemplar do livro Febeapá (Festival de Besteiras Que Assola o País), do jornalista carioca Stanislaw Ponte Preta (1923-1968). 

PERFORMANCES LITERÁRIAS 

O Poeta Luciano Maia, considerado pela ACLJ "Prințul Poeziilor din Ceará", disse o poema de sua autoria intitulado Poema Intemporal do Jaguaribe, abaixo reproduzido:






Pedro Araújo, por sua vez, disse um delicadíssimo poema da lavra do seu saudoso pai, Alexandre, intitulado "Morena", a seguir reproduzido:





Por fim, Reginaldo Vasconcelos disse poema seu, intitulado "Pobre de Mim", que faz citação ao Poema em Linha Reta de Fernando Pessoa. 

POBRE DE MIM

Reginaldo Vasconcelos

 

Pobre de mim,

Que já surpreendo os traços avitos no meu rosto.

Como as minhas, a exata e querida mão do meu saudoso avô paterno, aquelas falangetas que o alcatrão do tabaco já tingira de ouro velho, na lembrança indelével que eu interno.

 

Feliz de mim,

Que tenho vivido com galhardia tantos anos,

Que não fugi dos desafios sinuosos que o mundo propôs,

Que tenho triunfado ufano das grandes tentações da improbidade, da sereia da ilicitude, dos mais sórdidos complôs.

 

Pobre de mim,

Que tenho perdido amigos a mancheias para a morte, e que não tenho solidariamente morrido, e que não busquei a fortuna financeira a qualquer preço e com afinco, tantas vezes me arriscando a vir a comer com os cães no chão e a dormir com os gatos sobre o zinco.

 

Feliz de mim,

Que não tenho que fazer coro com o poema de Pessoa, e que me inscrevo entre os “príncipes” de que o poeta faz escárnio, porque não tenho devido sem pagar, nem me deixado trair, e que os socos recebidos tenho todos revidado, ao belo e ao feio, ao pobre e ao rico, ao califa ou ao grão-vizir.

 

Pobre de mim,

Que não tenho podido entender todos os homens que encontrei, 

Que não me foi dado socorrer todas as almas que bordejaram a minha sorte, amar todas as filhas de Zeus, produzir o poema perfeito, salvar a pátria amada dos iníquos filhos seus.

 

Pobre de mim.  


  
DEDICATÓRIA 




A reunião virtual da ACLJ realizada nestas segunda e quinta-feiras foi dedicada ao empresário fortalezense Beto Studart, Membro Benemérito da ACLJ, que acaba de ser agraciado com um importante premio internacional, pela qualidade do seu empreendimento imobiliário, de ousada concepção arquitetônica, o BS Design, situado no Bairro Aldeota, em Fortaleza. 

O "U.S. Green Building Council (USGBC)", órgão certificador do "Leadership in Energy and Environmental Design (LEED)", lhe enviou nesta semana um vídeo com o atual CEO daquela consagrada instituição americana sem fins lucrativos, congratulando o projeto do seu BS Design, e os impactos positivos do projeto na economia e no bem-estar daqueles que passam pelo empreendimento.

Essa é uma mensagem enviada para o mundo, que coloca o BS Design como verdadeiro ícone global e efetivo entre todos aqueles empreendimentos que se certificaram com o LEED Gold no mundo, o que representa uma honra enorme para o Ceará e para o Brasil! 


    

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