SOB O ESPECTRO DE
FUNDO
QUANTO AO PRISMA DA
FORMA
[Acerca de um livro da Dra. Lígia Barros Costa*]
Vianney Mesquita **
Quanto mais lemos, tanto mais nos instruímos, e quanto mais
meditamos, tanto mais estamos em condição de afirmar que nada sabemos. [Francois-Marie Arouet - VOLTAIRE.
Paris, 21.11.1694 / 30.05.1778.
Sempre nutri e conservei particular afeição pelo ofício-arte da
Enfermagem, com suas vinculações estritas aos diversos ramalhos das Ciências da
Saúde. Na decorrência de misteres profissionais e acadêmicos, desde largo ciclo
temporal, travo incessante contato com os agentes desta nobre carreira,
nomeadamente no âmbito da Universidade, na posição de consultor para assuntos
linguísticos, gramaticais, semânticos e estilísticos, em produções de sua
colheita, como peças científicas stricto sensu.
Nessa relação simbiôntica, aprendi cedo a lhes apreciar o esforço exitoso de pesquisas, com subido potencial metodológico, resultados esclarecedores e aplicação prática imediata, numa expressão categórica do acompanhamento do estado d’arte desta atividade sublime por eles abraçada.
Vez por outra, entretanto, o afouto sapateiro de Plínio, o Antigo [Caio Plínio Segundo], acha de querer ultrapassar o calçado mostrado na pintura de Apeles de Cós e adentrar matéria avessa à sua intimidade, submetendo-se ao risco de laborar no engano.
Como, entretanto, a temática de ordem geral – penso – não é território reservado de ninguém, vale a parêmia escolástica consoante a qual o exame da Ciência não tem por objeto o saber particular – totum individuatum ineffabile est – ou seja, o todo individualizado é inexprimível, de modo a inexistir, em tese, o conhecimento privado.
Assim, sob esta razão (talvez) evasiva, penetro astuciosa e perigosamente outros saberes, não sem o cuidado de me liberar de tautologias e expressar heresias, no senso popular do termo, haja vista o terreno sempre movediço das temáticas não dominadas por quem, sem tir-te nem guar-te, com a maior sem-cerimônia científica, tenta comunicar-se em seara estrangeira.
Ao levar em conta, porém, o preparo insuficiente de escrevinhador deserdado de mais alargado saber ecumênico, sou continente nos meus comentários, parcimonioso nos rasantes por teores a este estranhos, de sorte a ser bem-sucedido nessas pequenas empresas a mim cometidas pelas inexcedíveis atenções de meus consulentes, às quais, humildemente, acedo.
Todos esses arrodeios e ambages serviram de aprestar o canteiro da obra, a fim de expressar o fato de O Cuidado à Família em Atenção Primária, livro da Prof.a Dra. Lígia Barros Costa, docente da Universidade Federal do Ceará, membra atuante da fina-flor da Enfermagem no País, representar a oportunidade de o leitor abeberar-se de conhecimentos bem meditados a respeito do cuidado à saúde da família, na relação elastecida de refleti-la e cuidá-la, objetivando, não só, a ausência de doenças, como também a higidez e o bem-estar, entendimento hodierno de saúde.
Sobre ser o compêndio bem escrito, tanto sob o espectro de fundo quanto jungido ao prisma da forma, diviso o maior proveito deste volume no ato de fazer convergir a chamada communis intellectus ao saber unificado parcialmente, este provindo da anterior como vertente natural da Ciência, não devendo o pesquisador, por hipótese alguma, fazer pouco caso de seu valor e serventia.
A tarefa de relacionar os
dois hemisférios de saberes procedida pela Autora objetiva – creio, com sucesso
– valorizar, às derradeiras consequências, o ato de conceder atenção à família,
de maneira afastada do biologicismo de ontem, praticado agora, sistêmica
e holisticamente, privilegiando todas as instâncias da vida com o concurso
desse grupo sociológico primário configurado na família.
Nota: Este é o texto-base das guarnições do livro, editado pelas Edições UFC, em 2008, de autoria da Prof.a. Dra. Lígia Barros Costa.
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