segunda-feira, 18 de maio de 2015

ARTIGO (RMR)

O PERFIL DO PT
Rui Martinho Rodrigues*


O PT nasceu de um cruzamento híbrido da Igreja, da vertente da teologia da libertação, com os agrupamentos de tendência socialista dos sindicatos e universidades. Socialistas democráticos, trotskystas e leninistas se faziam presentes. 

Mas os leninistas assumiram o controle. A postura inicial era marcada pela bandeira da ética na política, a democracia direta e a heterodoxia econômica. Esta incluía o repúdio da dívida pública, do capital estrangeiro e do assistencialismo.

A visão do conflito como combustível da história dominava o partido, levando à agressividade. A compreensão segunda a qual o motor da história é a solução de problemas era rejeitada, levando a estigmatização dos “reformistas” e do “sindicalismo de resultado”. O que interessava não eram resultados ou a solução de problemas no varejo. 


O objetivo era a solução no atacado, pela superação de um problema supostamente fundamental, resolvendo todas as desventuras humanas. Era a revolução. O problema 
fundamental era a propriedade privada, com a consequente divisão social do trabalho, origem presumida da desigualdade entre os homens.

Quem tem a solução para todas as desventuras humanas se sente legitimado para fazer uso de todos os meios, nos termos da ética teleológica, a qual acaba por não ser ética nenhuma. A bandeira da ética na política foi abandonada após a chegada ao poder. 

Não houve um “desvio” dos objetivos ou traição de líderes. É da essência do messianismo político: só as conveniências são consideradas. Internacionalistas exploram o nacionalismo; ateus usam argumentos teológicos; críticos do assistencialismo não hesitam em praticá-lo. Tudo sem a menor cerimônia, se atender às conveniências.

A vitória nas urnas se beneficiaria da mudança do discurso. Veio a “carta aos brasileiros”, de Lula da Silva, em que a heterodoxia econômica e a agressividade associada à compreensão da história, como um festim dionisíaco, foi declarada abandonada. A eleição foi ganha, e as políticas econômicas ortodoxas foram adotas. 

A economia, propiciada pelos bons ventos internacionais, melhorou. Surfando na situação favorável, o PT passou a adotar o assistencialismo, antes criticado por seus líderes; aparelhou o Estado; sentiu-se sem concorrente político. Afinal, todos os seus adversários haviam sido desmoralizados pela campanha da “ética na política”... de tempos passados.

Com o controle de quase todo o meio sindical, e a simpatia dos círculos universitários, o partido sentiu-se forte e abandonou a “carta aos brasileiros”. Voltou às ideias econômicas heterodoxas. Afinal, a “ética teleológica" permite metamorfoses e surpresas.

Partido de convicção não se curva às evidências factuais. Pratica o voluntarismo. Sentindo-se legitimado pelos fins, desdenha das experiências históricas e ignora o fracasso reiterado do seu receituário. 

Diante da crise, a Presidente retornou à economia ortodoxa. Mas o partido alega que esta está sendo imposta por “interventores”, como se não fosse necessária, nem fosse obra do seu próprio governo.



*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado 
Historiador - Cientista Político
Presidente Emérito da ACLJ 
Titular da Cadeira de nº 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário