CULPOSO OU DOLOSO
Os redatores da imprensa nacional têm feito uma grande confusão para explicar os conceitos de homicídio culposo e homicídio doloso, sempre que precisam referir sobre como foi classificado determinado assassinato, ou crime de trânsito com vítima fatal, que estão noticiando.
Alguém os ensinou a dizer “com intenção de matar”, para definir o dolo, e “sem intenção de matar”, se o ato foi culposo. E não raro dizem que um determinado guiador que causou um acidente está sendo acusado de crime doloso, portanto cometido “com intenção de matar”, o que é um rematado despautério.
Tecnicamente, a culpa se configura quando o resultado sinistro adveio de uma conduta equivocada, adotada por negligência, por imprudência ou por imperícia da pessoa incriminada. A negligência se caracteriza pela omissão de um cuidado importante que se deixou de praticar, a imprudência por um ato de ousadia que deveria ter sido evitado, e a imperícia pelo erro de procedimento em determinada técnica ou ciência que a pessoa tinha obrigação de dominar.
O dolo ocorre quando se agiu propositadamente para o resultado trágico, mas também quando se cometeu deliberadamente algo tão grave, de modo a fazer presumir que assumiu suas conseqüências funestas – sendo esta a circunstância específica dos guiadores assassinos. Nesta última hipótese tem-se o “dolo eventual”, que se pode imputar, por exemplo, ao motorista bêbado, o que não autoriza o repórter a informar que neste caso a “intenção de matar” se configure.
Como esses conceitos jurídicos são difíceis de esclarecer ao público leigo, no meio de um noticiário, para não informar mal bastaria ao jornalista dizer, nos casos de trânsito, que a autoridade classificou o fato como homicídio doloso, portanto tão grave quanto o crime intencionalmente praticado.
CARTÃO POSTAL
A mídia brasileira precisa criar urgentemente um sucedâneo para o desgastado uso da expressão “cartão postal”, na indicação de pontos turísticos, monumentos arquitetônicos e paisagens vistosas de uma cidade ou região. Trata-se de um roto lugar-comum, inclusive anacrônico, pois os impressos fotográficos de temas pictóricos que se enviavam pelo correio já estão fora de uso.
“Imagem-símbolo”, “ícone arquitetônico”, “panorama clássico”, “atrativo turístico”, seja qual for o termo substituto eleito, ele será sempre melhor que repetir o mesmo velho clichê “cartão postal” para qualificar determinado ponto de visitação ou aspecto físico de um lugar.
TRATA-SE...
A expressão “trata-se” não deve ser aplicada para substituir o verbo ser, em todos os casos, como tem acontecido. Esse uso se aplica corretamente apenas quando se quer aprofundar explicação a respeito de alguma coisa ou pessoa sobre a qual se está falando. “O suspeito trata-se de pessoa com longa ficha criminal, segundo a polícia”, diz o repórter, em construção frasal equivocada. Ele estaria certo se a formulasse de outro modo: “A polícia apurou a identidade do suspeito. Trata-se de uma pessoa com longa ficha criminal”. Ou ainda: “Diz a polícia, em relação ao acusado, tratar-se de pessoa com longa ficha criminal”.
ANTES DE TUDO
Quem gosta de aplicar a pomposa frase “antes de mais nada”, sabe o que quer dizer, mas não o que está dizendo. Se disser simplesmente “antes de tudo” ele se expressará corretamente, sem dar um nó intrincado nas regras de semântica. O que está antes de nada, não tem nada adiante, e portanto está depois de tudo mais. Por conseguinte, quem assim se reporta diz o contrário do que pensa estar dizendo.
PRESIDENTE
Quem opta por aplicar o termo “presidenta” o faz em obediência ao que prefere a Sra. Presidente da República, mas contra o que indica a gramática e o bom senso. Palavras como presidente, repetente, gerente, amante, consulente, concludente, indicam uma ação que se executa, uma função que se exerce, e não uma qualidade que se tenha, portanto são palavras que não variam quanto ao gênero. Assim como a jogadora Marta, atleta do futebol feminino brasileiro, é atacante, e não atacanta, S.Exa. Dilma Roussef é a presidente do Brasil, independentemente do que digam dicionaristas e lingüistas complacentes. Do contrário, um seminarista deverá ser chamado de “seminaristo” doravante.
UM DOS QUE...
“Ele é um dos que pensam...”, “estou entre os que acham...”, “sou das pessoas que dizem...” – essa é a maneira correta de falar. Não tem cabimento colocar no singular o segundo verbo, por qualquer razão sensata, além de um modismo descabido.
RISCO DE VIDA
O risco é sempre de vida, o perigo é sempre de vida, pois é a vida que se arrisca ou periclita. “Risco de morte” e “perigo de morte” são erros crassos, pois ninguém arrisca a morte. Ainda se admitiria risco de morrer, porque o verbo corresponde ao substantivo que designa o que se arrisca.
SÉCULO PASSADO
Referências gráficas às décadas de 20, de 30, de 40, de 50, de 60, de 70, de 80 e de 90 devem remeter necessariamente ao Século XX, porque são marcar que ainda não foram atingidas pelo Século XXI. Mas nada obsta que, por esforço de clareza, ao se aludir à década se acrescente a expressão "do século passado". O que não tem cabimento é dizer "década de 1930", ou "década de 1980", por exemplo, pois isso não é uma solução inteligente. O nome do ano civil anomalístico é uma unidade de milhar, portanto não pode ser tratado como década.
Postado por Reginaldo Vasconcelos
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