A morte do cinegrafista Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, em confronto da Polícia com traficantes na favela de Antares, no Rio de Janeiro, neste domingo 06 de novembro, tem suscitando em toda a imprensa sudestina uma série de comentários desfocados.
Ferida, sangrando, a mídia carioca aponta em diversas direções, grita a esmo, reclama ao léu, sem saber contra quem mover sua ira santa, concluindo afinal pela exigência de efetiva punição do atirador bandido que alvejou o seu repórter.
Ora, toda semana acontecem tiroteios e mortes de inocentes nas favelas do Rio, e não existe previsão legal que agrave especificamente homicídio contra jornalista. Por mais que seja lamentável a morte do profissional de imprensa que cobria o tiroteio, não há qualificadora penal para essa peculiar forma de crime.
Estou dizendo que o matador do jornalista já é criminoso hediondo, pois o tráfico de drogas tem equiparação com a hediondez, e esse homidício já está qualificado pela torpeza e pela servidão a outros delitos. Sendo assim, de toda maneira, já se teria que exigir e esperar a sua mais severa punição, fosse quem fosse a sua vítima.
O que há de fato a elaborar a respeito desse evento infausto é o seguinte:
a um, que houve ousadia temerária do profissional, o qual, em busca da melhor imagem, se expôs na linha de tiro;
a dois, que há responsabilidade subjetiva da emissora empregadora, quando ela não se assegurou da real eficácia do equipamento de proteção que disponibilizou ao empregado;
a três, que há responsabilidade objetiva do Estado, quando a Polícia permitiu que jornalistas se juntassem a ela em operação tão arriscada, enfrentando fuzis automáticos de grande poder de fogo, sabedora de que os coletes utilizados por eles só podem deter projéteis de muito menor potencial ofensivo.
A Polícia tem sobejo conhecimento de que somente os pesados coletes confeccionados com cerâmica balística especial podem parar tiros de carabinas AK-47 e AR-15, capazes de perfurar facilmente o bloco de aço do motor de um automóvel – e até as pedras sabem que é exatamente desse tipo de arma que os traficantes fazem uso.
Reginaldo Vasconcelos
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