BILHETE AO PROF. DR.
FULANO DE TAL DOS ANZÓIS
(Há Dez Anos)
É melhor cairmos nas garras dos abutres do que nas dos lisonjeadores, pois, no primeiro caso, seremos devorados já mortos; no outro, ainda vivos.
(ANTÍSTENES,
Filósofo grego. Atenas, 445 a.C; 365 a.C.).
No dia 17 de novembro de 2025, fez dez anos que dirigi a comunicação sequente a um professor universitário de uma Capital Nordestina.
Fortaleza, 17 de novembro de 2015.
Prof.
Dr. Fulano de Tal dos Anzóis,
Pax
et bonum.
O senhor não me pediu opinião acerca do seu livro, tampouco me conhece, até a julgar pela maneira como se dirigiu a mim, dizendo “Vianney, aqui é o professor doutor F. de T. dos AA., em vez de falar – “Professor Vianney, aqui se dirige o Prof..., ou “Vianney, aqui é o F”... Desculpe, não sei se preferiu SAIR JÁ POR CIMA.
Modéstia de lado, como não sou, conforme disse Gilberto Freyre a respeito dos críticos, mero “mata-mosquito da ordem gramatical”, mas uma pessoa avançada em idade, afeita a textos acadêmicos e literários há mais de trinta anos, aduzindo o fato de que já vou publicar o vigésimo livro de minha agricultura, felizmente, ouso lhe dizer, reúno um mínimo de aptidão para emitir juízo, tanto acerca de escritos acadêmicos, quanto literários, com razoável poder opinativo.
Poucas vezes – adianto – muito poucas, divisei em escritores nordestinos tanta capacidade de prender leitores quando o Senhor, nestes originais transitados pelo meu crivo gramatical e joeira estilística, haja vista o alcance raciocinativo, a graça e a beleza expressos elegantemente em suas peças escriturais em língua-prosa, acolitadas pelo estro poético que emoldura a linha particular da crônica, esse gênero bem peculiar aos escritores nacionais, mormente por meio dos periódicos sabatinos e dominicais e, depois, ajuntadas como livro.
Há, entretanto, um registo por demais antipático e que não aprecio na sua escrita, já manifesto várias vezes comigo, tampouco gostam disto leitores mais aprestados do que eu.
Este configura o fato de não fazer reserva de sua pessoa como personagem de algumas das crônicas, aparecendo sempre, “para Roma e para o Mundo”, como o professor F., doutor, autor de textos científicos, morubixaba de todos os indígenas brasileiros, isto e aquilo, colhudo do pedaço, derradeira Coca-Cola do Saara, numa manifestação de talvez ingênua e descabida presunção, absolutamente desnecessária – decerto sem se dar conta disso, acredito.
Seus escritos – tenho disso toda a convicção - pelo que de particular excelem em qualidade, mesmo sem sua assinatura, após conhecidos do consulente, serão divisados como seus em quaisquer lugares e em todas as circunstâncias, fazendo jus à divisa buffoniana segundo a qual Le style c’est l’homme même, de sorte que, reste persuadido, é da mais alteada linha literária.
Por tal razão – e até para que eu experimente o ensejo de lhe dirigir, no futuro livro, comentários airosos, pois desalinhados não costumo proceder a respeito de obra alguma – sugiro disfarçar sua pessoa em tertius protagonista das estórias, pelo que sobrará mais simpático ao público ledor, removendo a redundância expressa na sua literatura de alevantada essência adida à “necessidade” supérflua de aparecer como paredro da humanidade, espelho da inteligência e referência derradeira de pessoa, haja vista o fato de que Jesus Cristo não precisa ser apresentado a Deus Pai, isto é, o Senhor – Professor – aos seus leitores.
Abração.
Vianney
Mesquita.
Pediu desculpas e disse que tomaria um café comigo, para conversarmos, quando viesse a Fortaleza. Não fez isso. E nunca mais submeteu escritos. Terá sido levado pela Covid-19?

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