segunda-feira, 2 de outubro de 2023

CRÔNICA - O Sinal (RV)

O SINAL
Reginaldo Vasconcelos*
 

No dia O4 de julho deste ano, durante o Primeiro Concílio da Arcádia Alencarina, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, eu apresentei um comentário, submetendo aos participantes da reunião uma reflexão pessoal sobre se, logo no começo do seu pontificado, o Papa Francisco, bem como toda a humanidade, teríamos recebido um aviso sobre como seria o seu então ainda incógnito papado. 

Levantei uma fundada dúvida sobre se o hipotético sinal premonitório indicaria que o Cardeal Bergoglio, que se dera o agnome eclesiástico de Francisco, sendo realmente virtuoso, viria a ser um mártir, exposto a graves provações, diante dos imensos desafios éticos e morais que a vida moderna vem propondo à sociedade mundial – ou se, por outra, seria ele mesmo um novo impostor sobre o trono de São Pedro, como outros que, ao longo da História, já ocuparam o Vaticano.

Agora, em 02 de outubro, cinco membros do Sacro Colégio de Cardeais, importantes prelados da Igreja Católica, Walter Brandmüller, Raymond Burke, Joan Sandoval Iñiguez, Roberto Sarah e Joseph Zen Ze-kiun, divulgam a “Notificação aos Fiés Leigos” – dirigida aos católicos do mundo todo que não fazem parte da hierarquia eclesiástica.  

Com base no Cânone 212 § 3, esses cardeais apresentaram uma “dubia” ao Papa Francisco, documento que lhe cobra explicações sobre declarações e condutas de membros da Igreja – inclusive dele próprio, o Santo Padre – incompatíveis com a doutrina da instituição religiosa, provocação que não foi respondida satisfatoriamente por Francisco. 

Ao mesmo tempo, em sua campanha eleitoral, um dos atuais candidatos à Presidência da Argentina, país de Bergoglio, acusa-o de descabido ativismo ideológico, o que causou grande impacto no seio do povo conterrâneo e na imprensa mundial. Esses fatos dramáticos em torno do pontífice parece jogarem luzes sobre a dúvida que levanto no texto que escrevi aos árcades, que intitulei “O Papa e os Pássaros”, e que abaixo reproduzo.

O PAPA E OS PÁSSAROS 

Senhores, eu tenho dito que precisaria não acreditar em Deus, para acreditar em coincidência aleatória. E eu acredito em Deus. Eu creio em causalidades, da lei de causa e efeito, que nada têm a ver com a casualidade. 

Cada um de nós aqui se originou de uma coincidência, quando um rapaz e uma moça se conheceram no passado – encontraram-se numa festa por acaso, eram da mesma vizinhança, foram apresentados por um amigo comum – enfim, se enamoraram e, algum tempo depois houve o advento de sua prole. 

Mesmo considerando esse processo espontâneo que nos deu origem, eu não posso admitir que a minha própria existência seja resultado de uma mera confluência de fatores materiais, pois se, no meu caso, aqueles dois jovens não se tivessem encontrado eu mesmo jamais existiria. 

Não. Para mim cada fato da vida vem de um impulso, que provoca um processo, que demanda um projeto, que, por seu turno, requer um intuito cósmico incógnito e imperscrutável. Por isso, para mim, uma  coincidência marcante é, pelo menos, um sinal.

Por exemplo, o Papa Francisco resolveu, para simbolizar a paz, soltar pombas brancas da janela vaticana, defronte à Praça de São Pedro, num domingo de 2014, portanto no começo de seu pontificado, acompanhado de duas crianças, que certamente ali representavam a humanidade e o seu futuro.

Pois bem: logo que libertadas, as pombas foram imediatamente perseguidas e atacadas por duas aves de rapina, um negro corvo e uma nívea gaivota, que capturou uma delas bem na frente do pontífice e da multidão de fiéis, e, certamente, devorou-a. 

Para mim o incidente sinaliza fortemente algum presságio para o futuro do papado. A dúvida que tenho e que proponho aos circunstantes é sobre se o prenúncio teria sido de que Sua Santidade, na brancura de suas vestes, estaria simbolizado na lívida avezinha trucidada, ou se o incidente negava a real pureza de espírito daquele ocupante do trono de Pedro, em que já se sentaram santos e também impostores e devassos no passado. 

Reginaldo Vasconcelos

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