sábado, 21 de janeiro de 2023

CRÔNICA - Raiva em Jaguaribe (MMG)

 RAIVA EM JAGUARIBE
Marcos Maia Gurgel*

 

Voltando para minha casa em Limoeiro, nos finais de semana, eu tinha que pegar um ônibus no terminal rodoviário da cidade de Jaguaribe, pontualmente às 17 horas. 

Jaguaribara, onde eu trabalhava, não tinha linha interurbana para Limoeiro, mas ficava muito perto de Jaguaribe – antes de ser reconstruída em outro local, para dar lugar à represa Castanhão. 

Certo sábado, quando cheguei ao terminal rodoviário de Jaguaribe, o ônibus já havia partido. E agora? – pensei comigo mesmo. Sem perspectiva de um novo coletivo naquele dia, fui informado de que na madrugada de domingo haveria uma outra condução, vinda da cidade de Iguatu. 

Mas o que fazer para passar o tempo, sem que eu me entediasse tanto? Lembrei-me de uma opção e a coloquei em prática. Conhecia o juiz da cidade, colega de faculdade em algumas cadeiras do curso de Direito. 

Fui então à sua residência, mas logo tomei conhecimento de que o “Doutor” só estava na comarca durante as terças-feiras. Então, como segunda opção, procurei a tabeliã, uma prima querida, mas soube que, por seu turno, ela não passava os fins de semana na cidade. 

Ocorreu-me, enfim, uma terceira opção: apresentar-me ao dentista mais famoso da cidade, um primo legítimo de meu pai que eu não conhecia ainda. Na garupa do mesmo moto-táxi continuei na minha peregrinação, em busca de um abrigo temporário, mas o colega e primo-segundo viajara com a família. 

Esgotadas as opções voltei à estação rodoviária, triste e resignado, mas lá eu ouvi a propaganda de um carro de som que anunciava um show do Reginaldo Rossi na cidade. 


Fiquei animado. Contratei outro motoqueiro e me mandei para o clube onde o artista cantaria – mas, de novo, a sorte não me ajudou: Reginaldo Rossi cancelara o show – talvez já sabendo do meu drama, completou a minha desdita. 

A estação rodoviária era então o meu porto seguro derradeiro. Voltei para lá, chamei o garçom de um bar interno, pedi um caldo de carne no copo; “e aí, seu guarda!”; dormi no banco público; o ônibus do Iguatu chegou às cinco da manhã. 

Nota bene: Perdoei Jaguaribe, palco dessa raiva passageira, porque é a terra natal da minha saudosa mãe, a flor mais bela no jardim dos meus afetos eternos.


 

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